Alta de custo vai reduzir margens na safra de soja

O aumento de custos deverá pesar mais no bolso dos produtores brasileiros de soja do que o inicialmente esperado nesta safra 2018/19, já que o enfraquecimento do real em relação ao dólar entre junho e agosto, período importante de compra de insumo, encareceu ainda mais sementes, fertilizantes e defensivos.

Entre junho e agosto, a moeda americana subiu cerca de 9% em relação à brasileira e superou R$ 4,00. Hoje está em torno de R$ 3,70 e não dá sinais de que voltará aos picos recentes, o que reduz a chance de o produtor compensar o câmbio adverso na aquisição dos insumos, grande parte importada, no momento de vender sua colheita.

A projeção do Boletim Focus do Banco Central é que o dólar termine o ano no patamar atual. Para 2019, a expectativa é que a moeda fique em torno de R$ 3,80.

O agricultor até poderia ter lucrado nesse embate cambial, já que o dólar chegou perto de R$ 4,20 em setembro e houve estímulo para o avanço das vendas antecipadas da safra que ainda está sendo plantada. Mas as tradings tiveram dificuldades em fixar preços devido à volatilidade financeira que antecedeu as eleições e às incertezas em relação aos fretes rodoviários. O mercado parou.

“O produtor terá de sacrificar margens que, muito provavelmente, serão menores que as previstas inicialmente”, disse Enilson Nogueira, analista da Céleres.

A receita operacional média esperada pela consultoria para a soja em 2018/19 até agora está estimada em R$ 3.628,00 por hectare, considerando um dólar médio de R$ 3,79 ao longo do ciclo. Com os aumentos de insumos e fretes, a margem operacional média do sojicultor está prevista em R$ 1.191,00 por hectare, uma redução de quase 27% em relação à 2017/18 (R$ 1.628,00).

Segundo Matheus Almeida, analista do Rabobank, os gastos dos produtores de soja com fertilizantes foram entre 15% e 35% nesta temporada, enquanto a alta dos defensivos foi de cerca de 20%.

No caso dos defensivos, também influenciou a escalada a menor disponibilidade de matéria-prima na China, onde centenas de fábricas foram fechadas por questões ambientais. Segundo dados do governo chinês, a produção de pesticidas no país caiu em torno de 30% em 2017.

Segundo Henrique Mazotini, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), algumas moléculas para a formulação de defensivos aumentaram até 30%.

“O produtor mudou o ‘combo’ de insumos para tentar diminuir o impacto desse aumento”, afirmou Almeida, do Rabobank. Mas segundo Rogério César, representante técnico da FMC na região de Cascavel (PR), essa mudança não provocou alívio significativo.

Nesse contexto, os sojicultores continuam a apostar nos reflexos positivos das disputas comerciais entre Estados Unidos e China sobre os prêmios pagos pelo grão brasileiro nos portos para inflar seus ganhos. Na quinta-feira, contudo, emergiram novas especulações de que poderá haver um armistício, o que motivou a alta das cotações na bolsa de Chicago e valorizou o produto americano.

“A guerra manteve a rentabilidade da safra 2017/18 muito alta”, disse Nogueira, da Céleres. “Mas (independentemente do desfecho das disputas), a demanda chinesa pela soja brasileira deverá continuar aquecida em 2018/19”.

Ainda assim, a tendência é que os prêmios caiam na medida em que a colheita americana continuar a entrar no mercado. Em Paranaguá (PR), o prêmio pago pela soja com entrega em novembro estava na semana passada em US$ 2,20 sobre o valor do bushel negociado na bolsa de Chicago. Para o grão com entrega em março, já eram US$ 0,90.

“A tendência é que os prêmios caiam. Estamos no limite. Mas ainda vão se manter altos”, informou Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da consultoria Safras & Mercado.

Para Nogueira, da Céleres, embora a tendência seja de rentabilidade consideravelmente menor em 2018/19 em relação à temporada 2017/18, o produtor ainda poderá respirar aliviado. “O sinal amarelo começa a acender mesmo com o dólar abaixo dos R$ 3,50”.

Ainda resta boa parte da safra 2018/19 a ser comercializada e muita volatilidade cambial pode ocorrer. Segundo a Safras, a venda antecipada da safra 2018/19 de soja do Brasil está em 27,3% de uma produção estimada em 121.1 milhões, abaixo da média histórica para o período, que é de 30,2%.

Enquanto as informações de que Estados Unidos e China estão novamente ensaiando uma aproximação para tentar pôr fim às suas disputas comerciais não rendem resultados concretos, a soja brasileira continua a ser beneficiada.

Em setembro, o Brasil foi a origem de 94% das importações chinesas do grão, que, segundo o serviço alfandegário daquele país, totalizaram 8.1 milhões de toneladas.

No quarto trimestre, normalmente a China compra um volume maior de soja dos EUA, que estão em plena colheita. Em setembro do ano passado, por exemplo, a participação brasileira nas importações chinesas do grão foi de 73%. A fraca demanda pela soja americana continua a pressionar as cotações na bolsa de Chicago.

 

Fonte: Valor Econômico

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