Algodão: Disputa com EUA garante cooperação com a África

A Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Itamaraty, revelou ontem em evento em Brasília os resultados de um acordo de cooperação técnica executado desde 2009 em parceria com a estatal Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, para apoiar o desenvolvimento da produção de algodão em quatro países da África – Benin, Burquina Faso, Chade e Mali.

Em virtude do ajuste fiscal, contudo, a agência agora dependerá de recursos do setor privado para manter o projeto no segmento algodoeiro – chamado de “Cotton-4”, é um dos mais ambiciosos desenvolvidos pelo Brasil no continente africano, e tem previsão para expirar em 2018.

Desde o fim de 2015, quando começou a segunda fase da iniciativa, 100% das demandas com assistência técnica e pesquisa já passaram a ser mantidas com recursos do acordo firmado para solucionar a disputa entre Brasil e EUA na área de algodão, em 2014.

Derrotados na OMC em discussão envolvendo seus subsídios, os EUA, depois de terem pagado US$ 505 milhões entre 2011 e 2014, concordaram, para encerrar o contencioso, em destinar mais US$ 300 milhões ao Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) até 2018 – 10% do total para acordos de cooperação técnica internacional. O IBA foi criado para receber os recursos da vitória na disputa, que originalmente deveriam ser usados em capacitação no Brasil.

O embaixador João Almino, diretor da ABC, disse ao Valor que seis anos depois de implementado nesses países, o “Cotton-4” conseguiu, em laboratório e a partir de pesquisas de campo, elevar de 800 quilos por hectare para 3 toneladas por hectare a produtividade média do algodão no Mali, por exemplo. A Embrapa compartilhou, no total, dez cultivares da fibra para serem adaptadas ao clima tropical nas quatro nações envolvidas no acordo. Além disso, criou outras cultivares que ainda chegarão ao mercado.

“Já foram investidos US$ 5.2 milhões na primeira fase do projeto, dos quais US$ 1.2 milhão já veio do contencioso do algodão com os EUA e o restante do nosso orçamento público”, disse Almino. “Daqui para frente continuaremos com o projeto, que até já incluiu um quinto país, o Togo, mas os US$ 4.6 milhões previstos virão totalmente do contencioso”, afirmou. Segundo o diplomata, esta última fase do projeto poderá ter seu orçamento revisto para cima e poderá contar com mais US$ 5 milhões – também garantido pelos recursos destinados IBA.

 

Fonte: Valor Econômico

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