Em 2009, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulgou relatório sobre o desafio do uso de terras e água, que estipulou em 70% o aumento da produção global de alimentos para alimentar o mundo em 2050. Na ocasião, o órgão lançou um desafio: como poderemos alimentar o planeta com 9 bilhões de habitantes em 2050? Desde então, as atenções estão voltadas para o cumprimento desse objetivo.
Para debater esse desafio, aconteceu na quinta-feira, 10 de outubro, em São Paulo (SP), o V Fórum Inovação Agricultura e Alimentos. O evento foi promovido pela Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal) em parceria com a FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), Abag (Associação Brasileira de Agronegócios) e Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Google, TNC (The Nature Conservancy), e do Instituto Todos pela Educação.
De acordo com Alan Bojanic, representante da FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), apesar dos avanços, ainda existem 852 milhões de pessoas em condição de subnutrição. Ele afirma que, além da produtividade mundial não crescer na mesma proporção da demanda de alimentos, a elevação da renda tem puxado o consumo, os problemas climáticos estão aumentando e os custos de energia estão cada vez mais altos.
Neste contexto, ele afirma que o Brasil se destaca como fornecedor de alimentos e conhecimento. “Até 2050, o país deve responder por 40% do crescimento na produção mundial. O aumento da produtividade é uma necessidade, assim como encontrar novas fontes de alimentos, além de evitar o desperdício”, observa ele, que defende a criação de um grupo estratégico de pensadores dobre o papel do Brasil nesse futuro.
Bojanic considera importante ajudar os países da África, onde uma em cada quatro pessoas sofre de insegurança alimentar. De acordo com a FAO, 842 milhões de habitantes do mundo estão nessa situação.
Segundo o representante da FAO, 90% do aumento de produção devem vir de investimentos em produtividade, com uso mais eficiente da terra. “Caso o índice atual de produtividade seja mantido, serão necessários mais 200 milhões de hectares dedicados à agricultura para dar conta da demanda global”, prevê. Ele lembra que o Brasil possui cerca de 15% das florestas do mundo, e há muita terra degradada que precisa ser reconvertida para agricultura.
Maurício Lopes, presidente da Embrapa, ressalta duas revoluções ocorridas na agricultura brasileira. A primeira delas foi a criação da Embrapa, há quatro décadas, quando o Brasil sequer produzia alimentos para a população. “Em 1960, o país era conhecido como exportador açúcar e café e ainda importava alimentos básicos. As exportações, no total de 40 itens, rendiam cerca de 8 bilhões”, diz.
A outra revolução, atual, de acordo com Lopes, é a da integração dos sistemas sustentáveis. Nesse sentido, ele aponta desafios de maior grandeza, entre eles, mudanças climáticas, como lidar com as perdas de alimentos, mudar o paradigma da cura para prevenção. “Para isso, precisamos de três coisas: inteligência, conhecimento e relacionamento”, resume.
Na opinião de Suelma Rosa, representante da ONG TNC, o produtor rural deve receber incentivos econômicos para ter acesso a tecnologias que promovam a sustentabilidade da produção. Ela também destacou a importância de expandir área agricultável, de forma planejada, identificando áreas de alto valor de conservação e alto valor de produção.
Roberto Rodrigues, presidente da Academia Nacional de Agricultura, da SNA, e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (Fundação Getúlio Vargas), sugeriu a formação de um grupo de países produtores, chamado GP, para o desenvolvimento de políticas públicas globais para a produção de alimentos, coordenado pela FAO e da OMC (Organização Mundial do Comércio). “Formado por países que têm terra, tecnologia e gente”, explica.
Durante o evento, foi realizada a Homenagem à Revolução Verde, que destacou 10 personalidades que contribuíram para o agronegócio brasileiro. Foram eles: Alfredo Sheid Lopes, Alyson Paolinelli, Cacilda Borges do Vale, Edson Lobato, Eliseu Alves, Fernando Penteado, Helena Lage, Herbert Bartz, Roberto Rodrigues e Romeu Kiihl.