O principal entrave do setor agropecuário no Estado do Rio de Janeiro é a falta de uma agência de fomento capaz de desenvolver pesquisas voltadas para a implantação de projetos diferenciados e sustentáveis de produção. A afirmação é do diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e atual secretário de Agricultura de Resende (RJ), Alberto Figueiredo.
Segundo ele, atualmente os empresários que desejam desenvolver algum projeto em qualquer campo da agropecuária no Estado, não encontram nenhuma estrutura pública ou privada capaz de orientá-los sobre as alternativas mais adequadas.
“Ficamos surpreendidos, por exemplo, quando nos deparamos com um núcleo de produtores desenvolvendo um projeto de produção de oliveiras para azeite, na divisa com Minas Gerais, tendo de se valer de recursos próprios, assistência técnica particular de profissionais de fora do estado, e sem saber onde obterão o crédito para a construção da indústria de transformação de que irão necessitar daqui a dois anos”, explica Figueiredo.
“Ao mesmo tempo, emendas orçamentárias são liberadas para a construção de quadras esportivas que normalmente ficam ociosas quase o ano todo”, acrescenta, lembrando que a agricultura “deve ser vista como uma questão prioritária, pois é um setor da economia que gera empregos e garante a balança comercial do país”.
USO DO SOLO
Considerando a diversidade climática do estado, o secretário de Agricultura afirma que todo seu território deveria ser objeto da intensificação do uso racional do solo, “uma vez que há pequenas glebas produtivas incrustadas em um oceano de pastagens degradadas”.
Figueiredo acredita que, com a atuação de uma agência de fomento, “que conheça de forma adequada a potencialidade do uso dos solos no estado, a identificação de projetos sustentáveis poderá promover um processo mais justo de tributação da terra, em função da produtividade esperada”.
Nesse aspecto, o diretor da SNA acredita que a atual intensificação do processo de produção na área da pecuária poderá favorecer a liberação de áreas significativas de pastagens degradadas. “Estas áreas podem dar origem a projetos de produção de madeira para diversos usos, além da seringueira, já devidamente testada no território estadual, e de outras culturas perenes viáveis”.
No âmbito dos projetos industriais, Figueiredo também observa avanços na área de empreendedorismo por parte de alguns empresários, que investem na produção de animais de linhagens genéticas melhoradas, tanto no campo da pecuária bovina leiteira e de corte quanto na produção de equinos.
FRUTAS E HORTALIÇAS
O secretário de Agricultura aposta ainda na viabilidade da fruticultura nas regiões norte e noroeste do Rio, a partir de indicações feitas por instituições de pesquisa do próprio estado.
Quanto à região serrana, com sua vocação natural para o desenvolvimento de projetos nas áreas de horticultura (incluindo hortaliças, flores e tubérculos), Figueiredo chama a atenção para a necessidade de um apoio maior em pesquisa para a redução dos níveis de defensivos químicos.
“O objetivo é o bem da saúde humana. Os defensivos são quase sempre utilizados sem critério técnico em relação à proteção dos operadores, dosagens e carências adequadas”, alerta.
DEMANDAS E PERDAS
Quando o foco é o produtor, o secretário afirma que, na maioria das consultas realizadas a respeito, as demandas vão desde a necessidade de infraestrutura – principalmente em relação às estradas -, até a assistência técnica, passando por melhores sistemas de comunicação por telefone e internet nos locais de trabalho.
No caso da assistência técnica, “muitas vezes é confundida com assistência veterinária para os rebanhos, e de forma gratuita”, pontua Figueiredo. Além disso, de acordo com o diretor da SNA, os produtores mostram desconfiança quando recebem propostas para a adoção de novas tecnologias de produção, “pois ficam inseguros em relação aos investimentos que lhe são sugeridos”.
Para Figueiredo, o poder público pouco tem feito para resolver as questões que envolvem o produtor. “Diante da restrição financeira provocada por gestões desastrosas, o governo tem sido obrigado a diminuir drasticamente a capacidade de locomoção dos técnicos que dispõe”, reconhece o secretário, que também sente os efeitos dessa crise no campo da extensão rural.
“O sistema de extensão veio perdendo no decorrer dos anos os processos estratégicos que utilizava para ampliar o número de usuários de sistemas de produção adequados às diversas atividades produtivas”, afirma.
LATICÍNIOS
Outra perda pode ser verificada nas plataformas das indústrias de laticínios, que, segundo Figueiredo, continuam com grande índice de ociosidade. “Enquanto foram despendidos recursos significativos, o estado abriu mão de receitas futuras em favor dessas indústrias. Aquelas que estão em funcionamento, algumas há mais de sete décadas, continuaram obrigadas a lutar no mercado com as próprias energias, que, na atualidade parecem escorrer pelos dedos cansados de seus dirigentes”, declara o diretor da SNA.
Ele acrescenta que “os dirigentes têm sido vítimas do assédio econômico por parte das indústrias maiores e de capital internacional, na procura diária e, nem sempre ética, por fornecedores de matérias primas”.
MEIO AMBIENTE
Outra preocupação por parte do secretário, não atinge somente o Estado do Rio, mas todo o país: a questão ambiental. Com o advento do Código Florestal, todos os produtores rurais são obrigados a cumprir determinadas exigências relativas à preservação de áreas verdes.
No entanto, ressalta Figueiredo, “a quase totalidade dos produtores, embora tenha assinado compromissos com a área ambiental, não manifesta qualquer preocupação com as medidas que precisam ser adotadas, principalmente no que diz respeito à proteção dos recursos hídricos”.
Por outro lado, o diretor da SNA defende uma contribuição por cotas de consumo desses recursos, por parte dos usuários, em benefício dos produtores. “A sociedade, que utiliza recursos hídricos cada vez mais escassos, precisa ser conscientizada a participar com percentuais de consumo de água para a formação de fundos que permitam aos produtores abrirem mão de partes significativas de suas propriedades em proveito de todos”.
Além disso, o secretário lembra que o pagamento ao produtor por serviços de preservação ambiental é uma questão de importância que deve ser regulamentada. “Embora a iniciativa esteja prevista na legislação federal, de estados e municípios, sua regulamentação, com a identificação da origem dos recursos financeiros necessários, esbarra na falta de prioridade política. Isso torna letra morta, em termos práticos, os inúmeros artigos das leis”.
Foto da capa: Arquivo/A Voz da Serra
Por equipe SNA/RJ