Agronegócio segura PIB, mas reduz postos de trabalho

Nicole Rennó explica que a agropecuária sofreu os maiores cortes nos postos de trabalho, principalmente para aqueles com menor instrução

O bom desempenho do agronegócio, que se apresentou no primeiro semestre do ano como um dos principais motores de sustentação do PIB brasileiro, não se traduziu em geração de empregos. A constatação é fruto de levantamento feito pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). De acordo com o estudo, ao contrário do que se poderia imaginar, de janeiro a junho de 2017 houve queda de 3,1%, ou mais de 580 mil pessoas, no total de ocupações.

No mesmo período, no entanto, a safra recorde no campo estimulou a atividade também de outros segmentos, impactando no crescimento de 5,81% no PIB-volume do agronegócio. Desse modo, o desempenho positivo da agropecuária pôde amenizar o efeito das retrações da indústria e dos serviços sobre o PIB nacional

A pesquisadora do Cepea, Nicole Rennó, explica que a perda de postos de trabalho foi mais sentida na agropecuária e menos no segmento de indústria e serviços do setor.  A redução também foi mais severa para trabalhadores atuando por conta própria e com baixa escolaridade.

“A principal responsável pela queda do pessoal ocupado no agronegócio foi a agropecuária como um todo. Tanto para a agricultura, quanto para a pecuária. Na comparação semestral, a queda no total de pessoas ocupadas ficou em torno de 7% a 8%, detalha ela.

Considerando apenas os empregados (com ou sem carteira assinada), a agropecuária concentra as pessoas com menor remuneração dentro do agronegócio. Para a agricultura, o rendimento médio do trabalho é cerca de 40% inferior que a média do agronegócio, e para a pecuária, cerca de 32% inferior.

“Ainda não sabemos exatamente o motivo desta retração no número de postos de trabalho. Estamos fazendo novos levantamentos, mas o que já sabemos é que a maior parte se deu na região Nordeste”, antecipa a pesquisadora.

Contrastes: Na comparação entre o primeiro semestre de 2017 e o primeiro de 2016, houve queda de 35% no total de pessoas ocupadas sem instrução no agronegócio. Por outro lado, para pessoas com ensino superior (completo ou incompleto), houve aumento de 5,5% no total de pessoas ocupadas.

Apesar do bom desempenho do setor de agronegócio, a mão pesada da crise também aparece em outro aspecto: houve um movimento de substituição de empregos formais por empregos sem carteira assinada. Também na comparação entre os dois primeiros semestres (de 2017 e de 2016), houve redução de 2% nos empregos com carteira assinada, e aumento de 2,3% nos empregos sem carteira assinada

“Isso demonstra que, quando houve aumento de empregos no agronegócio, em geral esse ocorreu em postos de menor qualidade”, analisa Nicole.

Próximos meses: De acordo com Nicole Rennó ainda é cedo para se fazer estimativas para os próximos meses. No entanto, ela não vê sinais de que esse corte no número de postos de trabalho possa sofrer alguma reversão. “Este ano tivemos uma super safra, que dificilmente se repetirá ano que vem. Também não há indícios de uma forte retomada da economia. Diante disto, fica difícil acreditar em uma mudança neste cenário”, prevê a pesquisadora do Cepea.

O agronegócio representa cerca de 20% do total de pessoas ocupadas no Brasil. A agropecuária, por sua vez, representa expressivos 47% do agronegócio.

Equipe SNA/Rio

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