Mesmo sem apresentar crescimento tão rápido quanto o registrado nos últimos dez anos, o agronegócio brasileiro continuará tendo desempenho melhor do que a média mundial até 2026, aumentando assim a participação do país no mercado internacional.
Já destacadas, a produção e as exportações das principais culturas e produtores, como soja, milho, açúcar e carnes (bovina, suína e frango), continuaram a se expandir rapidamente, ampliando a fatia que esses itens ocupam nas vendas mundiais. Estas são algumas das projeções contidas no Outlook Fiesp 2026 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro, levantamento organizado pelo Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com diagnósticos e perspectivas para o setor com relação à produção, produtividade, consumo e exportações.
O período considerado no estudo da Fiesp será marcado, no seu início, pelos problemas que afetaram – alguns continuam a afetar – o agronegócio brasileiro e, em alguma medida, comprometeram seu desempenho recente. A safra de grãos da safra 2015-2016, por exemplo, foi 10% menor do que a anterior, prejudicada pela quebra da produção de milho, feijão e café. Houve perdas também na produção de frutas, verduras e legumes.
O clima desfavorável foi o grande responsável por esse desempenho. Mas fatores conjunturais também afetaram o desempenho do agronegócio. A recessão iniciada no segundo semestre de 2014 persiste. Tendo provocado a redução de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, deve provocar queda semelhante em 2016. Seu impacto social mais visível é o aumento do desemprego, que já atinge mais de 10% da população econômica ativa, ou cerca de 12 milhões de brasileiros, e a queda da renda média, o que afeta duramente o consumo interno.
“A consequência desse movimento foi a queda de consumo, especialmente de produtos de maior valor, como as carnes e o leite e seus derivados”, diz o estudo da Fiesp. O consumidor trocou produtos caros por substitutos de menor valor e, como consequência, diversos mercados encolheram. “Poucas vezes se viu aperto dessa magnitude.”
É possível, sobre um quadro tão deprimido, prever alguma recuperação do consumo perdido. Em algum momento, com a esperada recuperação da economia, o emprego e a renda voltarão a crescer. As vendas de alimentos são as primeiras a se recuperarem quando a recessão termina. Quando isso ocorrer, também os depósitos à vista tendem a aumentar, o que resulta em maior disponibilidade de recursos para o crédito rural (cujo montante é fixado como parte do total de depósitos à vista).
No que se refere ao câmbio, a forte desvalorização do real no ano passado propiciou ganhos significativos para a agricultura, fortemente voltada para o mercado e que tem só uma parcela de seus custos cotada em dólar. Já em 2016, o movimento inverso da moeda brasileira, que se valorizou em relação ao dólar, reduziu as margens de rentabilidade de diversas culturas. Mas a combinação da mudança no câmbio com a alta da cotação de alguns importantes produtos exportados pelo Brasil – como suco de laranja, açúcar e café – está assegurando ganhos aos produtores.
Apesar da persistência e da gravidade dos problemas domésticos nos campos político, econômico e social, o agronegócio continuará a crescer e a exportar mais. O Outlook 2026 projeta, por exemplo, que as exportações de soja crescerão em média 4,6% ao ano, bem acima da média de 2,7% dos demais exportadores, de modo que em 2026 o produto brasileiro responderá por 49% do comércio mundial do produto. No caso de açúcar, cujas exportações deverão crescer à média anual de 2,2%, o Brasil terá metade do comércio mundial dentro de dez anos. O aumento das vendas externas de milho, à média de 8,8% ao ano graças à sua qualidade, levará o país a deter praticamente um quarto do mercado mundial (23%) em 2026, sem que seja prejudicado o consumo interno, que crescerá 21%.
Fonte: Estadão