Por Mauro Zafalon
A safra de soja vai ficar abaixo do esperado, mas a quebra não será nenhuma catástrofe. A avaliação é de André Debastiani, da Agroconsult. Ele percorreu a região do Matopiba no Rally da Safra, uma expedição anual que avalia as condições da safra no país, e diz que o problema encontrado na região é semelhante ao das demais regiões: a soja precoce.
Para reduzirem custos e terem tempo hábil para o plantio da safrinha de milho e do algodão, que vem na sequência do da soja, os produtores estão utilizando cada vez mais variedades de ciclo mais curto. Em um período como o de 2018, quando as condições climáticas iniciais foram favoráveis, mas se complicaram no fim do ano, a soja precoce é mais afetada do que a tardia.
A soja precoce tem um ciclo de produção de até 100 dias; a soja de ciclo médio, de até 120; a de ciclo tardio, de até 140 dias. O plantio de soja precoce traz imprevisibilidade ao setor. Em condições climáticas adversas, ela não tem tempo para reagir e acaba sendo mais afetada do que a tardia.
Debastiani afirma que a quebra de safra da oleaginosa seria ainda maior se os produtores não viessem cuidando do solo há alguns anos. A preocupação com o solo, novas variedades de soja e a maior utilização de tecnologia no campo impediram o recuo maior da safra deste ano.
Na Bahia, um dos estados percorridos pelo Rally da Safra, a produção de soja foi recorde no ano passado, atingindo 66 sacas por hectare.
Os produtores investiram ainda mais nesta safra de 2018/19, esperando um resultado melhor, que não ocorreu, e a produtividade deste ano deverá ficar próxima de 56 sacas por hectare. “Ficou abaixo da expectativa dos produtores, mas ainda será a segunda ou a terceira maior safra da história do estado”, diz Debastiani.
Muitos produtores, porém, vão ter gastos maiores com a produção devido ao ataque de lagartas, percevejos, mosca branca e ferrugem em várias áreas do Matopiba.
A Agroconsult ainda está apurando os dados finais da produção de soja deste ano. As informações deverão ser divulgadas nesta semana. Em 2018, a produção foi de 119.3 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para este ano, o órgão está prevendo 113.5 milhões de toneladas.
Receitas menores
A quebra na produção de soja vai provocar queda no valor produção de 11% neste ano. O valor recua para R$ 128 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura.
A retração afetará não apenas os produtores, mas também os exportadores. As receitas externas do complexo soja, incluindo grão, farelo e óleo, deverão render apenas US$ 32.8 bilhões neste ano, bem abaixo dos US$ 40.9 bilhões do ano passado. Além do volume menor disponível para exportar, o país também deverá receber preços menores.
Folha de São Paulo