Agro nacional precisa de ações de comunicação integrada, afirma ministra

Tereza Cristina, ministra da Agricultura. Foto: Gerardo Lazzari

A agricultura brasileira vem sendo afetada atualmente pelo desequilíbrio das forças internacionais e pela falta de uma comunicação eficiente sobre o que vem sendo feito pelo setor, seja do ponto de vista ambiental como no aspecto da segurança alimentar.

A afirmação é da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, que participou no  dia 5 de agosto, em São Paulo, da solenidade de abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e pela B3 – Brasil, Bolsa, Balcão.

“Nessa fase de transição pela qual passamos, precisamos estar integrados, precisamos de ações unificadas a favor do agronegócio e do Brasil. Isso passa por uma boa comunicação, com todos falando na mesma direção”, destacou a ministra.

“É inadmissível que o agronegócio brasileiro seja bombardeado, em decorrência da desinformação. Assim, tenho a convicção de que estamos fazendo o melhor para nosso país”.

Em seu discurso, Tereza Cristina afirmou que “ninguém é mais sustentável que o Brasil”. “Os dados de CAR (Cadastro Ambiental Rural) mostram que 25,6% do país está preservado pelos produtores rurais. Na média, só utilizamos 50% dos imóveis para produzir e o resto para a preservação da vegetação nativa. Cultivamos apenas 7,8% do Brasil, conforme demonstrou estudo da Embrapa, confirmado posteriormente em trabalhos da NASA”.

A ministra destacou ainda a importância da biotecnologia, da agricultura digital e das agritechs. “A agricultura do futuro será mais intensiva no emprego de capital e tecnologia e menos em uso de mão de obra. Os países incapazes de adequar seu setor produtivo às rápidas e intensas transformações tecnológicas, sobretudo as relacionadas a temas como biotecnologia e agricultura digital, ficarão para trás”.

Sobre a transformação digital no agro, Tereza Cristina disse que ela irá ocorrer de forma assimétrica em diferentes pontos do globo. “Esse setor movimentará um mercado ao redor de US$ 90 bilhões em 2030, seguindo uma tendência de crescimento de 16% ao ano”.

Realidade 

O presidente da ABAG, Marcello Brito, concordou com o posicionamento da ministra quanto à uniformização da comunicação do agronegócio nacional.

“Os temas mais deliberados nos últimos meses em nosso segmento foram: desmatamento, acordo entre a União Europeia e o Mercosul e a liberação dos agroquímicos”, disse. “Porém, as informações divulgadas não refletem, necessariamente, a realidade do nosso setor, o que faz com que haja uma percepção negativa acerca do trabalho realizado por toda a cadeia produtiva”.

Presidente da ABAG, Marcello Brito. Foto: Gerardo Lazzari

Para Brito, a comunicação do agro não está sendo feita de maneira assertiva. “Dessa forma, a percepção ganha mais força do que a realidade. Assim, precisamos de discursos mais centrados e organizados, pautados em ciência e em dados, e menos em engajamento”, concluiu.

O governador em exercício do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, afirmou que é notável o avanço do agronegócio nos últimos anos, quando conseguiu reunir os produtores rurais, a indústria, governos e a comunidade científica em torno do desenvolvimento tecnológico, da pesquisa e inovação, a fim de obter maior produtividade.

“Se há alguns erros em termos de comunicação, o agro conseguiu muito em termos de produção. Hoje, nosso país possui o maior potencial agrícola do mundo”, disse Garcia. “Não podemos perder essa janela de oportunidades para destravar o Brasil. Por isso temos de aprovar outras pautas importantes, como a reforma tributária, que são tão necessárias para a competitividade da nação e do agro”, acrescentou.

Intercâmbio comercial

A palestra inaugural do congresso foi proferida pelo chairman do grupo chinês Cofco, Jingtao (Johny) Chi. Uma das maiores tradings de commodities do mundo, a Cofco projetou crescimento médio anual de 5% nas suas importações de grãos do Brasil nos próximos cinco anos.

Johny Chi, chairman do grupo Cofco. Foto: Gerardo Lazzari

Segundo o palestrante, a tendência para o futuro é de haver um estreitamento ainda maior do intercâmbio comercial entre a China e o Brasil. “A população chinesa vem mudando seus hábitos alimentares e, com o ganho de poder aquisitivo, consumirá cada vez mais proteína animal, o que abre boas perspectivas para os produtores brasileiros”, afirmou Chi.

Custo Brasil

O primeiro painel do evento tratou dos principais fatores que impactam o Custo Brasil, como por exemplo, a infraestrutura deficiente, a alta carga tributária e a instabilidade política que afasta os investimentos.

O presidente da Yara Brasil, Lair Hanzen, destacou que a disparidade de valores dos tributos cobrados em cada estado é tão grande, que influencia na estratégia de distribuição das indústrias do agronegócio. Isso significa que, em alguns casos, os locais escolhidos para serem a base da distribuição em uma região dependem mais da tributação do que da logística.

O presidente do Instituto CNA, Roberto Brant, avaliou que as limitações do crédito rural também aumentam o Custo Brasil. “Acho um equívoco diminuir a participação do Banco do Brasil no setor. Os bancos privados ainda não estão estruturados completamente para absorver essa demanda. Assim, é necessária a criação de novas ferramentas de crédito, compatíveis com a grandeza do agronegócio e o retorno que o segmento gera para a economia”, reforçou.

Crédito

O segundo painel, que abordou os mecanismos financeiros, colocou os representantes dos principais bancos junto à B3 e um consultor jurídico para debater crédito para o produtor.“Acredito que, com a queda dos juros da Selic, estamos abrindo uma janela macroeconômica importante para um novo modelo de crédito e de gestão de riscos”, afirmou o advogado Renato Buranello, um dos debatedores.

Futuro do agro

No painel que tratou do futuro do agronegócio, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) disse que a sustentabilidade é muito favorável ao Brasil e a agricultura. “Ela insere um novo padrão e dissolve a dicotomia de que ou há conservação ou há produção. Hoje, é possível ter produção e conservação, com rentabilidade”.

De acordo com Marina, o Brasil é uma grande solução para os padrões de sustentabilidade. Porém, ela advertiu que o País “precisa combater fortemente o desmatamento ilegal, que é o grande vilão da sustentabilidade ambiental”.

Ulisses Thibes Mello, diretor da IBM Research Brasil, destacou a questão da digitalização no campo. “Essa transformação digital vai ampliar a produtividade e a rastreabilidade e diminuir as perdas de produção”, disse.

Em relação ao tema da infraestrutura, o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, disse que o país precisa pensar de forma mais estratégica e lembrou o que está acontecendo com os países que são os principais competidores do agro brasileiro.

“No mundo, o que se faz é buscar o equilibro entre armazenagem e transporte. No agro brasileiro, 42% dos custos logísticos estão ligados ao transporte de longa distância e 18% estão na área de armazenagem. Nos Estados Unidos, o custo do transporte de longa distância é de 30% e 40% é de armazenagem. O que significa que nós aqui temos de produzir e escoar com rapidez por falta de armazenagem”, observou Cabral.

Gestão

Ruy Shiozawa, presidente do Great Place to Work Brasil, falou sobre gestão e produtividade das pessoas. Segundo ele, “atualmente, em um modelo de gestão simplificado, nós temos de ser bons em finanças, análise de mercado e de clientes, em processos e em tecnologias. No entanto, quando se trata de pessoas, por diversos motivos e barreiras, ela torna-se menos importante do que os outros pilares. O mínimo que temos que fazer é que ela tenha a mesma relevância que as demais porque isso está relacionado à produtividade”, finalizou.

Além dos debates e discussões, o congresso prestou algumas homenagens a profissionais e programas de destaque no agro.

 

ABAG (Edição: SNA)

 

 

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