A agricultura irrigada é estratégica para a produção de alimentos e o desenvolvimento da tecnologia no País passa pela desburocratização dos processos e por políticas públicas que ampliem o acesso dos produtores a recursos tecnológicos, afirmaram especialistas nesta terça-feira, durante o evento “Irrigar é Alimentar”.
O debate, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Rede Nacional de Irrigantes (RNAI), reuniu parlamentares e profissionais do setor.
“A água é importante para todos os setores e para a produção de alimentos é um uso nobre. A irrigação é estratégica e traz mais valor agregado ao produto final, além de ter uma série de benefícios produtivos, ambientais e econômicos”, afirmou Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa e coordenador da Rede Nacional de Irrigantes, lançada durante o evento.
“É necessário produzir alimentos em quantidade suficiente para garantir o acesso de todos. Pode faltar tudo, menos alimento e água. Isso é básico. A irrigação é a conexão que falta para que a gente possa ter produção de alimentos de maneira sustentável no mundo. O Brasil não vive uma crise hídrica, mas de organização e planejamento”, ressaltou Rodrigues.
Rede
A Rede Nacional de Irrigantes tem 58 membros e foi criada para discutir a agricultura irrigada de forma estratégica e apresentá-la como vetor para o desenvolvimento do País, explicou o pesquisador da Embrapa. “Temos dois participantes de cada entidade e como está em construção, a rede pode expandir, mas hoje já tem representantes de todo o País.”
Após o lançamento da Rede, o debate focou no painel “Agricultura irrigada: vetor para a segurança alimentar, econômica e ambiental do Brasil”.
O moderador e presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, Eduardo Veras, destacou que a data é um dia histórico para o setor, “em que as entidades estavam unidas com o objetivo de levar a tecnologia de irrigação a cumprir seu nobre papel de produzir alimento para o mundo”.
Expansão
Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura, reafirmou a importância do Dia da Agricultura Irrigada e das tecnologias de irrigação para o País “em uma fase onde as mudanças climáticas têm prejudicado a produção e a produtividade”, e destacou que o Brasil tem uma grande vantagem competitiva com o uso da irrigação em comparação aos seus competidores.
Paolinelli, que foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2021, disse que ainda que há recursos para a expansão da irrigação no Brasil, seja da União ou de fundos internacionais interessados em financiar as tecnologias. Ele acredita que, para que isso aconteça, o governo precisa inserir o produtor rural no processo de outorga da água e ficar apenas na coordenação.
“Nossa capacidade de irrigação pode aumentar muito nossa produtividade e espero que o que está sendo feito pelas autoridades se complementem, porque o Brasil não pode perder uma oportunidade como essa de ampliar a área irrigada. É preciso que as outorgas sejam liberadas com espaço mínimo possível e que os produtores participem desse processo. Tenho a absoluta certeza que ele vai responder com toda a responsabilidade”, afirmou o ex-ministro.
Atlas
Thiago Fontenelle, representante da Agência Nacional de águas (ANA), apresentou a 2ª edição do Atlas da Irrigação como o documento que pode contribuir com a organização e o desenvolvimento do setor e servir de base técnica para o Plano Nacional de Recursos Hídricos 2022-2040 e para o Plano Nacional de Irrigação.
Na ocasião, Fontenelle destacou o potencial de expansão da irrigação no Brasil, que até 2040 pode crescer mais de 76% a área total irrigada, com 66% de uso da água com maior eficiência. “A expectativa é de expansão de área e não de água”, afirmou o palestrante. “O Atlas sintetiza de forma bem clara o quanto a irritação brasileira abriga elevada tecnologia.”
Iniciativas
Frederico Cintra, coordenador-geral de Irrigação e Drenagem do Ministério da Agricultura, listou algumas iniciativas do órgão para a irrigação como o Plano ABC, Águas do Agro, Pronasolos, e frisou que o Mapa está institucionalizando um programa nacional de agricultura irrigada. “O ministério está trabalhando porque a agricultura irrigada é a única chave para o crescimento sustentável da produção de alimentos.”
O segundo painel, sobre Desafios da Irrigação no Brasil, contou com a participação dos deputados José Mário Schreiner (DEM/GO), presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg); Zé Vitor (PL/MG), autor do Projeto de Lei do Dia da Irrigação, e Aline Sleutjes (PSL/PR), presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. Priscila Sleutjes, presidente da Câmara Temática de Agricultura Sustentável e Irrigação, foi a moderadora do painel.
Agilidade
“Essa é uma oportunidade ímpar de discutir um assunto tão relevante. A irrigação protege o meio ambiente porque inibe a abertura de novas áreas e aumenta a produção em até três vezes em uma mesma área”, afirmou José Mário Schreiner. Ele ressaltou a necessidade de aumentar a área irrigada e citou algumas iniciativas em trâmite na Câmara, entre elas, o projeto para tornar o barramento uma utilidade pública.
“Temos de ter agilidade nos processos de barramento para segurar as águas da chuva e utilizá-las de forma racional durante os períodos mais escassos. Há outros projetos também que estamos trabalhando. O que precisamos é acelerar esses projetos para garantir a segurança alimentar do País. Não podemos nos contentar com oito milhões de hectares irrigados se podemos potencializar nossa produção”, ressaltou Schreiner.
Debate público
O deputado Zé Vitor afirmou que trazer esse tema ao debate mostra que “estamos construindo um agro mais moderno e eficiente” e que sugerir a data do dia 15 de junho como Dia Nacional da Agricultura Irrigada é “simbólico e estratégico”.
“É importante trazer esse debate para próximo do público urbano para que se entenda a importância da irrigação. Podemos levar desenvolvimento para o interior do País e gerar empregos através da irrigação.”
Novos caminhos
A deputada Aline Sleutjes falou que o Brasil está no momento de superar os desafios, que estão sendo vencidos “com legislações que desengessam os processos”. Além disso, ela destacou as políticas públicas que estão sendo desenvolvidas para o setor.
“Temos de absorver as novas tecnologias e desenvolver novos caminhos. Temos como fazer isso por meio de programas do governo federal de fomento à agricultura irrigada. São políticas públicas sérias que resolvem o problema”, disse.
Aline ressaltou que, por meio de mecanismos e planejamento, é possível dar condições aos brasileiros de terem áreas produtivas por meio do acesso a equipamentos de irrigação. “Assim faremos um Brasil moderno e tecnológico”, concluiu.
Fonte: CNA
Equipe SNA