Agricultores do Brasil lideram aumento da aposta na digitalização

A pandemia do novo Coronavírus não só manteve os produtores rurais do Brasil particularmente interessados em digitalizar seus negócios como fez com que esse apetite, ampliado para mais elos da cadeia, aumentasse mais que em outros países, como nos Estados Unidos.

É o que aponta o estudo “A Cabeça do Agricultor Brasileiro na Era Digital Pulso 2021”, divulgado ontem pela consultoria McKinsey.

Realizado a partir de informações coletadas com 560 produtores de regiões e portes variados e dedicados a diferentes culturas, o trabalho também mostra que gargalos como custos e conectividade continuam a impedir que a disseminação de tecnologias no campo seja mais acelerada (ver infográfico abaixo).

“Não esperávamos que o interesse pela digitalização crescesse mais entre os agricultores brasileiros do que nos EUA e na Europa. Aqui, quase dois terços dos fazendeiros já preferem canais online. E essa é uma tendência para todos os produtos, commoditizados ou não”, afirmou Nelson Ferreira, sócio sênior da McKinsey, ao Valor.

Canais online

Em comparação com o mapeamento que a consultoria divulgou em maio do ano passado, o novo aponta um aumento de 10% no número de agricultores que preferem canais online para compras para suas propriedades, para 46%. Nos EUA e na Europa, o avanço foi de 7%, para 31% e 22%, respectivamente. No caso dos produtores brasileiros de algodão, o percentual saltou de 45% para 66%.

E essa preferência, disse Ferreira, não é apenas para mapear preços de itens como insumos ou maquinários, como era normal no início do processo de digitalização. “Cerca de 50% dos agricultores já preferem usar os canais online em toda a sua jornada de compras. Ou seja, a multicanalidade chegou para ficar”.

É claro que é a necessidade que tem levado um número cada vez maior de produtores rurais para o mundo digital, uma vez que as medidas de restrição impostas pela pandemia não têm permitido que o “olho no olho” prevaleça. Mas essa necessidade existe no mundo todo, e a principal diferença dos brasileiros em relação a produtores de outros países, segundo Ferreira, é sua propensão natural a desafios.

O estudo mostra que essa propensão é maior entre os produtores mais jovens e entre os fazendeiros de maior porte. 53% dos agricultores entre 35 e 45 anos têm no digital seu principal canal de compras, e 58% deles demonstram disposição para vender no mínimo 50% da produção online. Os percentuais são ainda maiores entre os mais jovens.

Já entre os produtores que têm propriedades com mais de 2.500 hectares, de todas as idades, esses percentuais chegam a 73% e 71%.

Outros aspectos

Entre os resultados que chamaram a atenção do sócio da McKinsey estão também o que apontou que o WhatsApp ainda é, de longe, o principal meio acessado pelos produtores para suas transações digitais, e o fato de a digitalização e a agricultura de precisão caminhares juntas.

“Os marketplaces ainda têm participação pequena nas transações, mas deverão ganhar espaço. E quanto à agricultura de precisão, os problemas ainda são os investimentos, considerados elevados, e a falta de conectividade no campo”, afirmou Ferreira.

Agilizados pelos meios digitais, o “barter” (troca de insumos pela produção agrícola) é uma opção de comercialização de 39% dos produtores que participaram do estudo da McKinsey. Também chamou a atenção do consultor a grande disposição dos fazendeiros de experimentar novos serviços financeiros online.

O trabalho da consultoria apontou, por fim, que, com plantio direto, rotação de culturas e controle biológico das plantações disseminados (mas ainda deixando a desejar no que se refere a sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta), o campo brasileiro conta com práticas sustentáveis.

No entanto, a monetização do crédito de carbono ainda é incipiente. “E 66% dos produtores afirmaram ter muito interesse nesse mercado, o que mostra que o potencial é grande”, disse Ferreira.

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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