A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota hoje (24) criticando a paralisação dos caminhoneiros, que já dura quatro dias, e ressaltou que o movimento atrapalha a recuperação da economia. “O bloqueio das rodovias do país prejudica a operação das indústrias, aumenta os custos, penaliza a população e tem efeitos danosos sobre a economia, que enfrenta dificuldades para se recuperar da crise recente”, disse a entidade, em nota.
A expectativa do setor industrial é que sejam suspensos os bloqueios de rodovias até que governo e associações de caminhoneiros cheguem a um acordo sobre a redução da tarifa de combustível, privilegiando o “equilíbrio”. “Que os interesses de grupos não se não se sobreponham aos dos demais setores da sociedade ou onerem ainda mais os custos de produção. A greve já está afetando a produção e a distribuição de bens”, ressaltou.
Na segunda reunião entre governo e caminhoneiros, na tarde de hoje, novamente não houve acordo entre as partes para por fim aos bloqueios. Os motoristas de carga exigem a isenção de tributos federais sobre o preço do óleo diesel, como PIS/Cofins, além da Cide. Esta última tarifa o governo já concordou em zerar. O movimento também pede o fim da cobrança de pedágios dos caminhões que trafegam vazios nas rodovias federais que estão concedidas à iniciativa privada.
Firjan
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a reoneração da folha de pagamento para setores da economia, aprovada ontem (23) pela Câmara, não é garantia do fim da paralisação dos caminhoneiros e vai impactar os custos da indústria.
A federação estima que, com a reoneração, o setor voltaria a pagar R$ 8,9 bilhões ao ano em impostos, de forma permanente, o que pode colocar em risco postos de trabalho. “A reoneração será uma pá de cal no atual processo de recuperação da economia. Nos últimos três anos, durante a maior recessão da história do país, foram perdidos 2,9 milhões de empregos”.
De acordo com a Firjan, os setores de fabricação de carne, produtos farmacêuticos, materiais plásticos e autopeças seriam os mais atingidos.
Embora considere correta a política de reajuste dos preços dos combustíveis adotada pela Petrobras, o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, acredita que os caminhoneiros não conseguiram repassar a tempo o aumento do custo com diesel para os serviços. “Se aumentou o combustível, ele tem que repassar aquilo para o frete. Esse reajuste tem que ser passado para os consumidores e exportadores”. No entanto, o presidente destaca os prejuízos decorrentes dos bloqueios.
“O caos na produção é muito grande, porque você tem leite que acaba não podendo ser transportado; você tem contratos de exportação e não consegue levar o produto até o porto; tem hortifrutigranjeiros estragando; tem gente reduzindo a produção de frangos e suínos por dificuldade de escoamento; tem problema de abastecimento. Ou seja, para a produção, é um problema sério”, disse.
Varejo
O reflexo da paralisação dos caminhoneiros para o varejo na cidade de São Paulo pode acarretar perdas de vendas de até R$ 570 milhões por dia, segundo estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), chegando a um total de R$ 1,8 bilhão.
De acordo com a entidade, se os bloqueios persistirem, o problema pode se estender para as vendas de bens duráveis, como veículos, eletrodomésticos e materiais de construção.
Impacto na economia
Como consequência dos protestos, o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Joelson Sampaio, avalia que haverá perda de consumo o que poderá impactará a economia. “Menos consumo implica em menos venda, que gera estoques, e não é bom para a economia. É um impacto negativo nesse sentido. Menos circulação de mercadorias é menos consumo. Menos consumo é péssimo para a economia”, ressaltou.
Para o economista Pedro Afonso, ex-chefe de operações da corretora Gradual Investimentos, já é possível perceber aumento dos preços, principalmente de produtos perecíveis. “Você pode reparar preço de legumes, das carnes. Esses já estão sofrendo um aumento direto de preços e vai começar a afetar o bolso do consumidor. Os perecíveis são mais sensíveis. Como você não tem entrega de perecíveis, começa a ter falta do alimento e isso impacta diretamente do aumento de preços”.
Fonte: Agência Brasil