O ano de 2015 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o “Ano Internacional do Solo”. Do final de 2014 para cá, diversas entidades vêm se reunindo para debater o tema que, até então, não fazia parte dos debates do setor agropecuário nacional, a exemplo dos problemas relacionados à crise hídrica no País.
Uma das entidades que decidiu se envolver na discussão foi a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Rio de Janeiro (AEARJ) que, em conjunto com o Conselho Regional de Arquitetos e Engenheiros (CREA-RJ), promoveu no início de julho o Simpósio do Ano Internacional do Solo, na capital fluminense. O evento contou, entre outras, com a parceria do presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga.
Após o Simpósio, foi elaborada a “Carta do Rio de Janeiro” que traz propostas do Estado para as questões que envolvem o assunto como, por exemplo: “considerar e difundir a ideia de que o produtor rural, qualquer que seja a área de gerenciamento ou o nível de exploração, é o guardião número um dos recursos naturais – solo, água e biodiversidade”.
De acordo com o presidente da AEARJ, José Leonel Rocha Lima, o encontro ofereceu a oportunidade para que agrônomos, engenheiros florestais e demais profissionais de Ciências Agrárias debatessem sobre os problemas em torno do solo.
“Nossa intenção é envolver pessoas que têm influência na agenda política do Rio e do País, para conseguirmos recursos para realizar estudos mais detalhados do solo, em todo o território nacional”, salienta Lima.
Ele lembra que o Rio foi a base dos primeiros levantamentos sobre o solo, a partir de pesquisas no Jardim Botânico, por meio do Centro Nacional de Pesquisas do Solo, hoje Embrapa Solos (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Ainda destaca que outras instituições mantêm empenhos nestes levantamentos, como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Embrapa Agrobiologia.
“Ao contrário da falta d’água, que é percebida e sentida por todos nós, os problemas que envolvem o solo ainda não são sentidos pela humanidade. No Brasil, até por causa de suas dimensões geográficas, temos solos de todos os tipos: aqueles que estão produzindo; que perderam sua capacidade produtiva; que estão em fase de degradação ou de recuperação; entre outros. Daí a necessidade de realizarmos esses estudos mais aprofundados”, reforça Lima.
DIVULGAÇÃO
Segundo o presidente da AEARJ, a Carta do Rio de Janeiro passará por ampla divulgação. “Vamos apresentá-la no Congresso Brasileiro de Agronomia, que acontece de 4 a 7 de agosto, em Foz do Iguaçu (PR). Ela estará também disponível para a Comissão de Agricultura da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e para nossos associados. Depois, será divulgada a todos as associações de agronomia do País e câmaras especializadas em Agronomia”, informa.
As ideias propostas durante o Simpósio do Ano Internacional do Solo (RJ) também devem ser disseminadas nas escolas e universidades.
“As escolas já estão ensinando aos seus alunos sobre a alimentação saudável, sobre os problemas relacionados à água, sobre o aquecimento global, mas ainda não debatem a fundo sobre a necessidade da preservação dos solos. Queremos levar o assunto para a área da educação para que todos possam, desde pequenos, adquirir a consciência ambiental sobre as questões que envolvem também o solo”, salienta o presidente da AEARJ.
Lima faz questão de destacar que o Simpósio, realizado no início de julho no Rio, contou com as parcerias da SNA, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) – com a presença do seu representante, Alan Bojanic -, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária do Rio de Janeiro, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), entre outras instituições.
Para ter acesso à Carta do Rio de Janeiro na íntegra, assinada pelo engenheiro agrônomo José Leonel Rocha Lima, presidente da AEARJ, e pelo engenheiro eletricista Reynaldo Barros, presidente do CREA-RJ, acesse no Facebook: http://ow.ly/QfHmK.
O SIMPÓSIO
O Simpósio do Ano Internacional do Solo, promovido para AEARJ, serviu para debater e tentar compreender as relações do solo no ambiente, e ainda que conservá-lo e preservá-lo “significa garantir a sustentabilidade e a dignidade da vida no planeta Terra”. De acordo com a Carta do Rio de Janeiro, “em todo o mundo, o uso inadequado dos solos causa perdas anuais da ordem de 5 a 7 milhões de hectares, com incalculáveis malefícios decorrentes da perda de terras férteis”. “No Brasil, esse entendimento encontra-se fragmentado em várias políticas e normas, o que dificulta a governança do solo.”
Para o presidente da AEARJ, José Leonel Rocha Lima, tanto no Estado do Rio quanto no País como um todo, apesar de privilegiado por uma competência técnica-científica e acadêmica – constituída por universidades federais, estaduais e particulares, escolas e institutos técnicos, unidades descentralizadas da Embrapa, empresa estadual de pesquisa e de extensão rural -, os fóruns de discussões sobre o tema ainda são tímidos e desintegrados. “É preciso falarmos a mesma língua”, resume.
Em sua opinião, é necessário que o Brasil, primeiramente, comece a produzir mapas de solos mais detalhados, até para conhecer a realidade do território nacional.
“Hoje temos apenas mapas de pequena escala. É importante conhecer o solo, propriedade por propriedade, até para que o produtor rural possa receber as orientações técnicas corretas para sanar possíveis problemas e também se manter informado sobre os espaços de reserva legal, matas ciliares, pastagens, entre outros pontos”, destaca Lima.
Para que isto comece a ser feito, o presidente da AEARJ sugere maior sensibilização da sociedade e seus representantes – no caso, os políticos -, de forma a “direcionar e investir recursos para os estudos do solo”.
“Precisaríamos de R$ 1 bilhão para fazer esta pesquisa completa. É o preço de um estádio como o Maracanã. Na Copa do Mundo de Futebol, em 2014, foram investidos recursos em 12 estádios. Então, acredito que há dinheiro para fazer estes estudos dos nossos solos.”
Por equipe SNA/RJ