A preocupação com o ataque de pragas obriga o sojicultor a buscar alternativas no mercado. Dos produtos para controle às sementes com resistência, hoje tudo depende da tecnologia. A soja Bt é um dos exemplos. A semente já vem com uma poderosa toxina que tem ação inseticida sobre as principais lagartas da soja. Porém, a eficiência desta tecnologia depende do manejo no campo. O que acontece é que com tempo a praga pode adquirir resistência ao Bt.
O pesquisador Adeney Bueno, da Embrapa Soja de Londrina, alerta para esse risco. A melhor solução, diz ele, é fazer o refúgio na lavoura. A técnica consiste no plantio de uma área na mesma propriedade, com soja que não tenha tecnologia Bt.
– Se não houver a adoção do refugio, em pouco tempo, uma, duas safras, a tecnologia Bt vai se perder – alerta Bueno.
As poucas lagartas que ainda conseguem ter resistência à tecnologia Bt se multiplicam e geram mais lagartas resistentes. Entretanto, se ela cruzarem com lagartas da área de refúgio que não têm essa proteção, as novas populações nascerão suscetíveis ao Bt e, com isso, a tecnologia se mantém eficaz.
O plantio da soja de refúgio pode ser feito em uma área ao lado da soja Bt. Outra opção é fazê-lo em faixas ou, ainda, em volta da plantação. Se o plantio foi realizado em sistema de pivô, a recomendação é que o refúgio fique no centro ou em uma faixa lateral. Para aproveitar a soja do refúgio, o produtor deve tomar alguns cuidados.
– Na soja refugio é importante que o produtor aplique inseticida apenas quando recomendado. Então, ele não perde a soja refúgio. Ele produzirá assim como produz a soja Bt, só que no refúgio ele controla com inseticida e, no caso do Bt, é o próprio Bt que está controlando – explica Adeney Bueno, da Embrapa.
A orientação da empresa detentora da tecnologia Bt é que os produtores deixem 20% da lavoura de soja para refúgio. Assim, em uma área de 100 hectares, 80 podem ser plantados com soja Bt e os outros 20 hectares com a convencional. É importante que esta soja seja RR, a que tem tolerância ao herbicida glifosato.
– Se ele não plantar uma soja RR, na aplicação do glifosato, o produtor vai ter problemas de queimar o refugio. Então ele tem que plantar uma soja RR, mas não Bt. Ele tem que se preocupar em plantar o refúgio e a lavoura Bt propriamente dita, com cultivares de ciclos parecidos, plantar no mesmo dia, de preferência, para que as duas lavouras, de refugio e Bt, tenham crescimento e desenvolvimento igual – continua o pesquisador da Embrapa.
Mesmo utilizando a tecnologia Bt e o refúgio, os especialistas lembram que o produtor não pode desprezar as outras ferramentas de controle de pragas. O monitoramento e a vistoria constante na lavoura, além da presença de um técnico agrônomo são essenciais neste processo.
REGULAMENTAÇÃO
O diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Luis Eduardo Rangel, afirmou que ainda no mês de julho sairá uma consulta pública sobre a regulamentação de refúgios obrigatórios. Segundo Rangel, o Mapa está elaborando a minuta do projeto.
Após a consulta, que deve durar por 20 dias após sua publicação, haverá a formação de um comitê de especialistas para debater o assunto. Farão parte deste grupo membros do Ministério, pesquisadores da Embrapa, universidades e representantes da tecnologia Bt. O objetivo deste comitê é encontrar um meio termo sobre o tamanho das áreas de refúgio.
Finalizados os debates, a medida passará a valer na safra 2015/2016.
Fonte: Rural BR
