Uma variedade de café mais resistente ao período de estiagem e a doenças, como nematoides e ferrugem, vem dando os resultados esperados pela Fundação Procafé. Para chegar à boa produtividade em 2014, o caminho percorrido foi bem longo, considerando que as pesquisas de novas versões para o grão começaram na década de 70, quando a entidade tinha o nome de Instituto Brasileiro do Café (IBC).
A persistência dos pesquisadores propiciou o surgimento da geração do acauã novo, resultado do cruzamento da espécie “sarchimor 1668” com o “mundo novo”. Os recentes resultados foram averiguados no sul do Estado de Minas Gerais. A informação é de José Braz Matiello, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação.
“O melhoramento do café é um processo longo, considerando que seu plantio e colheita não ocorrem anualmente, como o milho, por exemplo. É necessário avaliar, pelo menos, quatro gerações, de seis a oito safras, observando o vigor das plantas e suas respectivas produtividades”, ressalta.
“O novo grão é decorrente de vários cruzamentos, desenvolvidos através de diversas seleções em diferentes campos produtivos”, informa o especialista.
De acordo com o pesquisador, o desempenho foi “quase” uma surpresa.
“Dissemos ‘quase’ porque os resultados já eram esperados pela Fundação, após décadas de pesquisas. Ficamos satisfeitos com o comportamento do acauã novo na recente seca que enfrentamos no Brasil.”
“Na atual safra, o chochamento (quando não há formação de grãos) provocou perdas de 30% a 50% para o grão de café comum. No caso do acauã novo, as perdas ficaram em torno de 10%, levando em conta a estimativa de frutos não formados”, informa Matiello.
“Os cafeicultores têm sofrido com a queda de preços no café e o acauã novo se apresenta como alternativa para enfrentar os períodos de clima seco. No entanto, o agricultor deve considerar que o processo de substituição do grão de café é bem lento, não pode ser feito de uma hora para outra.”
Conforme o pesquisador, o acauã está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há uma década; e a nova variedade do grão há dois anos.
“O acauã novo está totalmente habilitado e registrado no Mapa, e pode ser plantado sem ressalvas. Temos muitos cafeicultores já plantando esta nova variedade do café, principalmente aqueles que atuam nas regiões mais secas do País.”
BAHIA
Além de Minas Gerais, o acauã novo vem sendo plantado no Espírito Santo e tem sido tratado como “rei” na Bahia. Nas condições das principais regiões de cafeicultura da Bahia, no Planalto de Conquista e na Chapada Diamantina, há períodos longos de seca, destaca Matiello.
Por causa do déficit hídrico típico daquelas regiões, as variedades tradicionais – como o “catuai” e o “mundo novo” – sofrem estresse e desfolhamentos. Isto é agravado pelo ataque de ferrugem e cercosporiose.
“Já nos cafeeiros do acauã novo, produzidos nas mesmas propriedades, sempre se mantêm mais verdes e com mais folhas.”
Segundo o pesquisador, durante sua visita aos cafezais baianos, pode atestar que o acauã novo também se adapta bem a sistemas com menos tecnologias, ou seja, também favorece o plantio de pequenos produtores rurais.
“As plantas se apresentaram com mais folhas e boa quantidade de frutos.”
DEFICIÊNCIAS
Conforme relatório da Fundação Procafé, elaborado pelo engenheiro agrônomo, o acauã (dito ‘antigo’) apresentava deficiências. A primeira delas dizia respeito “ao vigor excessivo das plantas, que levava ao embatumado de ramos”, reduzindo a entrada de luz e, como consequência, levando a um menor florescimento, à medida que a planta ia envelhecendo, principalmente nas regiões de clima mais frio.
De acordo com Matiello, quando o problema aparecia, ele era resolvido com o esqueletamento corretivo (trata-se de um tipo de poda da planta do café). Ele também orienta o cafeicultor, que ainda utiliza o acauã “antigo”, quanto ao florescimento: pode ser melhorado através do estresse hídrico.
“Este problema está sendo eliminado pela seleção de novas linhagens, como o acauã novo”, atesta Matiello.
CARACTERÍSTICAS
Para alcançar bom desenvolvimento do acauã novo no campo, explica o pesquisador, é necessário que a planta se apresente com as seguintes características: ser bem produtiva; ter muito vigor (deve produzir ano a ano e se manter); porte baixo, para facilitar o trabalho e a colheita do café; e ser mais resistente a nematóides, ferrugem e à estiagem.
A Fundação Procafé mantém um controle de viveiros que produzem as mudas do acauã novo. Para ter acesso a elas, o cafeicultor pode procurar a entidade, que fica na Alameda do Café nº 1.000, em Varginha (MG). Outra opção, segundo o pesquisador, é entrar em contato com o Ministério da Agricultura para ter acesso às sementes e mudas na região onde atua.
Por equipe SNA/RJ