ABDAN, Norte Agropecuário e Mundo Coop: Tecnologia nuclear reduz perdas no setor agrícola

A tecnologia nuclear é utilizada atualmente em diversos setores da sociedade, incluindo a agricultura. Cerca de 60 países já reconhecem ou adotam inovações neste segmento. É o caso, por exemplo, da irradiação para a preservação de alimentos.

No entanto, países como o Brasil ainda estão descobrindo esse mercado. “A expansão da produção dessa energia no Brasil traz inúmeros benefícios econômicos e sociais, sobretudo quanto à modernização de nossa estrutura industrial e de serviços, com desenvolvimento tecnológico e a criação de novos empregos”, destacou o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga.

Segundo ele, o desenvolvimento da produção de energia nuclear, de forma geral, “pode colaborar para a estabilidade no fornecimento energético, com baixa redução de carbono em todo o mundo”.

Alvarenga participou na última semana, ao lado de outros debatedores, da mesa-redonda “O Uso da Tecnologia Nuclear”, durante o evento Nuclear Trade & Technology Exchange, promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan). O debate foi mediado por Patrícia Wieland, conselheira da entidade.

Para o presidente da SNA, a ampliação do uso de energia nuclear, além de contribuir para o desenvolvimento tecnológico do País e de suas empresas, “gera externalidades positivas que podem impactar outras cadeias produtivas, promovendo a modernização do parque fabril nacional e proporcionando mais oportunidades profissionais e novos negócios”.

Evitando o desperdício

No caso da agricultura, a tecnologia nuclear, segundo Alvarenga, pode contribuir para a redução das perdas que ocorrem no setor, e o processo de irradiação de alimentos é uma das ferramentas que se destacam nesse contexto.

“Grande parte dos alimentos produzidos no Brasil são perdidos nos diversos elos da cadeia – colheita, transporte, armazenamento, etc. A irradiação proporciona o aumento do prazo de validade do alimento, o que vai diminuir o desperdício e a perda de alimentos no armazenamento e na comercialização”, afirmou Alvarenga.

“Isso vai possibilitar mais comida disponível na mesa dos brasileiros e também o aumento das exportações do agronegócio que, diga-se de passagem, já é há algum tempo, o setor econômico mais pujante do Brasil.”

Para Wieland, a irradiação é uma prática segura. “O Brasil tem capacidade técnica, apoio governamental e legislação favorável para realizar esse processo, mas ainda não evoluiu para o seleto grupo de exportadores de alimentos irradiados.”

Outras vantagens

Ao citar outras vantagens dessa tecnologia, o presidente da SNA ressaltou que a irradiação não altera o sabor e nem o valor nutricional dos alimentos, evita o uso de produtos químicos, destrói microrganismos que transmitem doenças e impede a reprodução de insetos. “Dessa forma, diminui a incidência de doenças transmitidas por alimentos em casos de intoxicação alimentar. Só no Brasil, ocorrem cerca de 400 mil casos por ano”, disse.

Além de inibir a deterioração, a irradiação pode atrasar o amadurecimento de frutas e legumes para proporcionar maior prazo de validade e ajuda a controlar pragas. “O aumento no tempo de vida útil dos alimentos que podem, por exemplo, serem exportados, fortalece nossa capacidade de exportação e contribui para ganhos de produtividade, com redução dos custos de produção e ganhos de competitividade internacional”, complementou Alvarenga.

“Quanto maior a vida útil do produto, melhor as condições de comercialização e agregação de valor. Com menos desperdício, é mais barato para o produtor e também para o consumidor. A tecnologia também propicia a abertura de novos mercados”, salientou o diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos.

Comunicação

Outro aspecto abordado durante o evento foi a necessidade de manter os consumidores bem informados acerca do processo de irradiação, para que se possa evitar possíveis distorções ou interpretações equivocadas a respeito do assunto.

“O grande problema é a questão da ideologia, de argumentos não científicos sobre essas tecnologias”, observou Barcelos. Para Ayrat Akhmetshin, diretor do projeto Office, da Rosatom Global, “há problemas de conscientização de pessoas quanto ao uso da técnica, e nesse caso, é preciso oferecer boas informações sobre segurança”.

“Precisamos da credibilidade dos órgãos técnicos para trazer uma clareza e uma tranquilidade para o consumidor, de que ele está consumindo um alimento seguro, e isso tem de caminhar paralelamente com a regulação”, afirmou a gerente geral de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Thalita Lima.

“Temos um apetite incansável por tecnologia, por melhoramento genético. Muitas vezes temos de lidar com a opinião pública, mas hoje estamos conseguindo superar muitos estigmas”, disse o diretor de Estudos e Prospecções do Ministério da Agricultura, Luiz Eduardo Rangel.

Segundo ele, a tecnologia pela irradiação no agro, “apesar de hoje ser bem gerenciada por técnicos e engenheiros brasileiros , ainda não se tornou um negócio estruturado para ser oferecido como serviço aos produtos da agropecuária.”

“É preciso que haja um ambiente de confiança mútua, com apoio governamental, garantia ao investidor de que esse ambiente é adequado e clientes internacionais para que essa tecnologia seja aplicada”, disse o representante do Mapa.

Revisão de normas

No âmbito legislativo, Thalita Lima salientou a necessidade de melhor compreensão e acompanhamento dos processos produtivos e tecnológicos que incluem a irradiação de alimentos.

“Recebemos nos últimos anos uma demanda formal de revisão de Resolução 21 da Anvisa sobre essa tecnologia. Nosso papel é compreender o processo e definir uma contribuição para o debate, a fim de impulsionar esse mercado”, disse a especialista. “É preciso entender qual o problema regulatório que estamos enfrentando, pois é uma resolução de 20 anos atrás.”

Equipamentos

Tiago Rusin, que atua na coordenação geral de Desenvolvimento Nuclear do governo federal, destacou que a construção de irradiadores para alimentos “é uma poderosa ferramenta” para atender o mercado interno e também potencializar as exportações.

No entanto, ele ressaltou que os empreendimentos no setor alcancem êxito, é fundamental uma atuação conjunta do mercado privado, do governo e da área acadêmica. “O Brasil precisa urgentemente de irradiadores instalados em pontos estratégicos”, disse Rusin.

“A irradiação, além de eficaz e segura, é usada comercialmente há mais de 70 anos no mundo, e há mais de três décadas é recomendada por organismos internacionais como as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde (OMS).”

Quanto aos custos operacionais, Ayrat, da Rosatom, informou que os equipamentos de irradiação estão avaliados, em média, em torno de três milhões de euros, porém, podem atingir um valor menor, dependendo da finalidade e do tipo de produto a ser trabalhado. Já os custos por quilograma para irradiação obedecem a requisitos diferentes, de acordo com cada país.

Aplicações

Ainda durante o debate, o presidente da SNA comentou sobre outras possibilidades de aplicação da tecnologia nuclear na agricultura, como o melhoramento de mutações genéticas de plantas. Nesse caso, disse ele, “o uso de radiação aprimora o processo natural de mutação, com ganhos de produtividade que permitem reduzir o preço dos produtos agrícolas para a população.”

Outra área de aplicação está relacionada à eficiência do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas. “A radiação é usada para controlar as populações de insetos por meio de uma técnica de insetos estéreis, envolvendo a criação de populações de insetos esterilizados por irradiação e a sua introdução em populações naturais”, explicou Alvarenga.

A técnica, segundo ele, “é ecológica e provou ser um meio eficaz de manejo de pragas, mesmo onde a aplicação em massa de defensivos tradicionais falhou.”

Najat Mokthar, diretora geral adjunta da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), traçou um painel dos diversos usos de tecnologia nuclear e destacou sua aplicação na indústria, na preservação da herança cultural e no controle de zoonoses (animais que podem ser irradiados para o enfrentamento de doenças).

Além disso, falou sobre os institutos brasileiros que promovem pesquisas no setor, e ressaltou, entre os mais avançados processos tecnológicos, a técnica de reciclagem por radiação, que envolve o tratamento e a modificação de materiais plásticos para sua reutilização.

 

 

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