A área de abate de uma planta que produz frango ou bovinos halal deve estar voltada para a cidade de Meca, na Arábia Saudita, considerada sagrada para os muçulmanos. Essa é a exigência mais conhecida, mas não a única. O responsável pelo abate, chamado de degolador ou sangrador, deve ser muçulmano. E antes de cada operação, tem que dizer a frase “Bismillah Allahu Akbar”, que significa ” Em nome de Deus, o mais bondoso, o mais misericordioso” ou “Em nome de Deus, Deus é maior”.
Para executar o trabalho, ele deve utilizar uma lâmina higienizada, bem afiada e sem serra. O corte deve ser feito no formato de meia-lua, atingindo traqueias e jugulares para garantir que a morte do animal seja rápida e que este não sofra, explica Mohamed Hussein El Zoghbi, presidente da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras). Após o abate, o esgotamento do sangue do animal deve ser completo.
Ahmed Nabil, um agrônomo egípcio de 30 anos, vive em Itapiranga (SC) há três anos, onde trabalha como supervisor e monitor de abate halal de frango em um frigorífico de aves. Ele é funcionário da Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal (Cibal Halal), braço operacional da Fambras, e começou trabalhando como sangrador, atividade que ainda faz eventualmente. Muçulmano praticante, uma exigência para trabalhar no abate halal, Nabil reza cinco vezes por dia – na unidade, há uma sala para que os muçulmanos que trabalham no local possam fazer suas orações.
Uma de suas atribuições, explica, é também garantir a higiene do local de abate e que os profissionais utilizem todos os equipamentos de proteção, como luvas de metal, por exemplo.
Para Nabil, sua atividade o conecta com Alá. “É como se eu estivesse rezando. E cada vez que rezo, estou mais perto de Deus”, afirma ele. É um trabalho que o deixa feliz, mas também demanda grande responsabilidade, já que os clientes são exigentes quanto aos procedimentos do abate halal.
As empresas que fazem esse tipo de abate também têm regras a seguir: as linhas de produção para processamento do produto halal devem ser exclusivas, assim como as câmaras frias para armazenamento do frango. O transporte do produto também deve ser feito em contêineres separados.
Isso é necessário para que não haja contaminação com outros produtos que não sejam halal, isto é, que não sejam permitidos pelas regras islâmicas. Os mais importantes entre os produtos considerados impuros (ou haram) são suíno e derivados e álcool.
A regra está no Alcorão, o livro sagrado do islã. Na surata (ou capítulo) 5ª, o versículo 3 º diz: “Estão-vos vedado: a carniça, o sangue, a carne de suíno e tudo o que tenha sido sacrificado com a invocação de outro nome que não seja Deus”.
Todo o processo de abate halal deve ser supervisionado por uma entidade muçulmana. No Brasil, uma das mais importantes é a Cibal Halal, que audita os processos para verificar se as regras estão sendo cumpridas e se não há contaminação com produtos considerados ilícitos. A Fambras certifica o processo.
O Brasil exporta frango halal desde meados dos anos 70 e também é um importante fornecedor de carne bovina produzida de acordo com os princípios do islã. De acordo com a Cibal Halal, cerca de 41% da carne bovina exportada pelo Brasil em 2012 foi produzida conforme as regras muçulmanas. Isso significa cerca de 460 mil toneladas. Os principais mercados nesse segmento são Arábia Saudita, Egito, Líbia, Kuwait, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).
O mercado mundial de alimentos halal (in natura e industrializados) cresce 15% ao ano e movimentou US$ 650 bilhões em 2012, segundo a Fambras.
Segundo Mohamed El Zoghbi, as exportações de carnes de frango e bovina do Brasil atingem apenas 20% da população islâmica do mundo, o que indica potencial para expansão nesse mercado.
Fonte: Valor Econômico