À frente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, brasileira deve aumentar visibilidade do produto nacional

O Brasil é o décimo quarto maior produtor de vinhos do mundo e o sexto do Hemisfério Sul, porém, o consumo anual per capita dessa bebida no Brasil ainda é modesto.

A brasileira Regina Vanderlinde é a nova presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), um fato inédito para o setor vitivinícola do Brasil, que foi um grande apoiador da candidatura da enóloga. “Acreditamos que ela vai auxiliar nas demandas da cadeia da uva e do vinho, pois conhece de perto a realidade do setor e por mais de uma década atuou como gerente-geral do Laboratório de Referência Enológica (Laren)”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Oscar Ló. O Laren é mantido pelo Ibravin e pela Secretária de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul.

“Será uma grande oportunidade para dar maior visibilidade à produção nacional junto ao principal fórum mundial do setor vitivinícola”, acrescenta Ló.

Formada em farmácia bioquímica pela Universidade Federal de Santa Catarina, e com mestrado e doutorado em enologia pela Universidade de Bordeaux, na França, Regina trabalha na OIV desde 2012, no cargo de secretária científica da subcomissão de métodos de análises. Ela foi eleita na última semana, em assembleia geral extraordinária da entidade que é responsável pelos padrões internacionais sobre vinho, uva, passas, bebidas à base de vinho e sucos de uva, além de fazer o acompanhamento econômico e comercial internacional do setor.

Segundo Ló, a eleição de Regina atesta a importância e o potencial de expansão do mercado vitivinícola brasileiro. “O Brasil é o décimo quarto maior produtor de vinhos do mundo e o sexto do Hemisfério Sul, porém, o consumo anual per capita dessa bebida no Brasil ainda é modesto”, diz ele. O brasileiro consome cerca de 1,53 litros anuais, ante 40 litros dos franceses. “Na contramão do reconhecimento internacional que os vinhos nacionais vêm recebendo, cerca de 80% do que é consumido no País ainda provém de importações.

De acordo com o presidente da Ibravin, Oscar Ló, a eleição da brasileira Regina para a presidência da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), será uma grande oportunidade para dar maior visibilidade à produção nacional junto ao principal fórum mundial do setor vitivinícola. Foto: Dandy Marchetti

MERCADO NACIONAL

Segundo o presidente da Ibravin, as perspectivas para os produtos vinícolas brasileiro, nos próximos anos, são promissoras. O Brasil lidera o mercado interno com mais de 70% de market share considerando-se todos esses produtos. “A preferência dos consumidores pelas marcas nacional é resultado do esforço coletivo, desde o produtor, pela qualidade reconhecida no cultivo das uvas, até a indústria, com a tecnologia aplicada na elaboração dos produtos”, avalia.

Segundo ele, a busca pelo aumento da qualidade tem sido constante, em especial nas últimas duas décadas, e precisa continuar. “O Ibravin trabalha para que seja colocado em prática o Programa de Modernização da Vitivinicultura (Modervitis), que possibilitará maior acesso à tecnologia, apoia o fomento à Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), além de ser uma das entidades que viabilizam o Programa Alimentos Seguros (PAS) – Uva para Processamento”, destaca. Todas essas iniciativas têm como foco a melhoria da matéria-prima e, por consequência, dos produtos vitivinícolas.

Ló informa que, nos últimos 10 anos, a vinicultura gaúcha teve um incremento comercial de 46% no volume de vinhos, 84% no de espumantes e 450% no de suco de uva. No período, o faturamento do setor gaúcho subiu de R$ 800 milhões para R$ 2,5 bilhões. “Não temos ainda dados oficiais do Brasil, pois o Rio Grande do Sul é o único Estado que possui cadastros de monitoramentos, mas estimamos que o faturamento do setor vitivinícola brasileiro seja de, aproximadamente, R$ 9 bilhões por ano, envolvendo toda a cadeia produtiva da uva e do vinho”, estima.

O executivo destaca ainda que o espumante brasileiro já é reconhecido entre os melhores do mundo pelos especialistas, premiado internacionalmente com mais de 1,5 mil medalhas, e vem sendo descoberto também pelos consumidores de outros países. Além disso, o suco de uva 100% é um produto muito importante para a cadeia produtiva, com um consistente desempenho de vendas e crescimento de cerca de 450% nos últimos 10 anos. “A indústria enológica brasileira se adaptou e continua desenvolvendo novas tecnologias de produção e mercado, em busca de adaptação ao perfil dos consumidores de vinho no Brasil”.

REGIÕES PRODUTORAS

Atualmente, dez Estados do Brasil têm registro de atividade vitivinícola: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O Rio Grande do Sul é maior polo vitivinícola do País. “Cerca de 90% da produção nacional de uvas, 90% da elaboração de vinho, 85% da fabricação de espumantes e 90% do suco de uva produzido é gaúcho”, estima o executivo acrescentando que, apesar de ser mais conhecida, a Serra Gaúcha não é a única região produtora do Estado. “O setor também está presente na Campanha Gaúcha, no Vale Central, nos Campos de Cima da Serra e na Serra do Sudeste”, completa.

Ele destaca ainda outras importantes regiões produtoras brasileiras, como o Planalto Catarinense, os Campos de Cima da Serra Catarinense, o Vale do Rio do Peixe e Rosário do Ivaí, em Santa Catarina; o Vale do São Francisco, entre Bahia e Pernambuco; e São Roque, em São Paulo. “Também temos conhecimento do desenvolvimento da atividade em Rolândia, Marialva e Maringá (Paraná), Bandeirantes e Jales (São Paulo), Serra Capixaba (Espírito Santo), Caldas, Andrada, Santa Rita e Pirapora (Minas Gerais), Santa Helena do Goiás (Goiás) e Nova Mutum (Mato Grosso)”.

“A diversidade da gastronomia brasileira, com as peculiaridades de cada região, é a mesma dos nossos vinhos. Cada zona produtora desenvolveu sua especialidade, elaborando rótulos com cultura, tipicidade e sotaque próprios”, arremata Ló.

Equipe SNA/SP

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