Mais emblemático projeto ferroviário do País nas últimas décadas, a ferrovia Norte-Sul terá seus trechos Central e Sul entregues nesta sexta-feira (16), colocando em funcionamento uma rota operada pela Rumo de 1.537 quilômetros de trilhos entre Estrela D’Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), que passa por quatro das cinco regiões do País.
Concorrência
A Norte-Sul é uma ferrovia cuja história se arrasta desde a década de 1980 e que, agora, finalmente, foi concluída. Em 13 de maio de 1987, a Folha de SP publicou uma reportagem de Jânio de Freitas que mostrou que a concorrência para a construção da ferrovia tinha sido uma farsa. De forma cifrada, o resultado das empresas vencedoras tinha sido publicado cinco dias antes.
Desde então, governos se sucederam sem conseguir concluir a construção da ferrovia, que até 2017 já tinha consumido R$ 33 bilhões em valores corrigidos, dos quais ao menos um terço, segundo órgãos de fiscalização, tinha sido superfaturado, até que em 2019 a Rumo foi vitoriosa num leilão com um lance de R$ 2.7 bilhões (R$ 3.5 bilhões, corrigidos pelo IPCA), considerado agressivo e que superou os R$ 2.1 bilhões (R$ 2.72 bilhões hoje) ofertados pela VLI. Só houve dois participantes na disputa. A concessão é válida por 30 anos.
Essencial para o desenvolvimento
A ferrovia Norte-Sul é essencial para o desenvolvimento ferroviário do País por ser considerada uma espinha dorsal do sistema, ao passar pelas regiões Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Nordeste e permitir a ligação entre os portos de Itaqui (MA) e Santos, por meio de trilhos operados por três concessionárias.
O trecho norte da ferrovia, entre Porto Nacional e Açailândia (MA), é administrado pela VLI, e, de Açailândia ao porto de Itaqui, pela Vale, por meio da Estrada de Ferro Carajás. Com o trecho sob gestão da VLI, a Norte-Sul tem, ao todo, 2.257 quilômetros de extensão.
Entrega
A entrega nesta sexta-feira, em Rio Verde (GO), uma das mais ricas cidades do agronegócio no País, contará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ocorre pouco mais de dois anos após seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), inaugurar o primeiro trecho da malha da Rumo na Norte-Sul, entre São Simão (GO) e Estrela D’Oeste.
Segundo a concessionária, foram investidos R$ 4 bilhões em obras de infraestrutura, terminais e material rodante.
Quatro terminais entraram em operação nos últimos dois anos para escoar a produção agrícola, em São Simão (grãos e farelo de soja), Rio Verde (dois, sendo um de grãos e um de fertilizantes) e na mineira Iturama (açúcar VHP).
Movimentação de milhões
Ainda segundo a Rumo, a concessionária movimentou 4.1 milhões de toneladas de grãos (soja, farelo e milho) exportados por Goiás em 2022, 25,6% do total de 16.1 milhões de toneladas.
A construção dos terminais e das obras de infraestrutura em Goiás, Minas Gerais e São Paulo geraram mais de 5.000 empregos diretos e indiretos, conforme a concessionária.
Mais eficiência
A avaliação do setor é que a operação plena da Norte-Sul permitirá que cargas de estados como Minas e Goiás, sem saída para o mar, sejam escoadas com mais eficiência.
O terminal de Iturama, no Triângulo Mineiro, entrou em operação em junho do ano passado e marcou a entrada da Rumo no mercado mineiro, em parceria com a Usina Coruripe, um dos maiores grupos de açúcar e etanol do País.
A expectativa também é de que cresça a participação do modal ferroviário no transporte de cargas no país. As ferrovias são responsáveis por transportar 21,5% das cargas no Brasil, índice muito inferior aos de países como EUA (43%) e Rússia (81%), segundo dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).