A Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde aprovou, nesta terça-feira (13), seu plano de trabalho para 2023, com previsão de publicar um relatório com contribuições para um marco regulatório em novembro. A Comissão foi instalada na Câmara dos Deputados no final de maio deste ano.
Conforme a Câmara, estão previstas 12 audiências públicas e seis reuniões deliberativas, além de quatro mesas redondas externas: a primeira em São Paulo, a segunda na Bahia, a terceira na região Sul e a última ainda a definir.
Um dos princípios do trabalho será o “aproveitamento da energia do hidrogênio contida nos biocombustíveis (etanol e biogás, por exemplo)”.
Assim, enquanto o mercado europeu se volta para a tecnologia da eletrólise com energia renovável (H2 verde), o agro brasileiro corre para garantir também o seu espaço nessa nova economia que será criada com o hidrogênio de baixo carbono.
Etanol e biogás enxergam oportunidades para desenvolver uma cadeia no interior do país e abastecer a indústria com o insumo de baixo carbono, uma vez que os projetos de hidrogênio verde estão concentrados nos portos e visam a Europa como destino.
A ambição vai além da indústria. Os produtores de etanol querem difundir a alternativa também no transporte pesado e nos veículos leves, com a célula a combustível hidrogênio competindo com a eletrificação via baterias.
Isso conversa muito bem com outros princípios listados pela comissão, que pretende estudar a inserção do hidrogênio como alternativa competitiva para descarbonizar a indústria; o potencial de uso em veículos pesados e leves; e sua aplicação na produção de hidrocarbonetos renováveis como diesel verde e combustível sustentável de aviação.
Potencial
Um estudo da McKinsey aponta que o Brasil tem o potencial de se tornar um dos maiores produtores mundiais de hidrogênio verde (H2V) graças ao baixo custo dos recursos naturais disponíveis e à rede de energia limpa e integrada, que exigem menor investimento em bens de capital (capex).
Isso cria um mercado adicional potencial de H2V de até US$ 5 a 20 bilhões em 2030 e 2040, respectivamente, calcula a consultoria.
Atualmente, os projetos anunciados já somam US$ 30 bilhões e a previsão é que esse número tenha um incremento significativo em 2023, conforme países europeus começam a lançar suas primeiras concorrências internacionais para aquisição de derivados.
Discussão regulatória
Além da Câmara, a definição de um marco legal para o hidrogênio está na agenda do Senado e do governo federal. O Senado criou, em março, a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV).
O colegiado já fez algumas reuniões. Em uma delas, representantes de Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul pediram celeridade na regulação e na definição de metas objetivas no Programa Nacional do Hidrogênio.
Um receio, entre os estados e o setor privado, é que o país perca a janela de oportunidades na atração de investimentos para o setor.
Apetite europeu
Em encontro com o Lula (PT) no Palácio do Planalto, na última segunda-feira (12), a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a União Europeia vai investir € 2 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões) na produção de hidrogênio verde no Brasil.
A iniciativa faz parte de um dos projetos do Global Gateway, criado para financiar projetos de infraestrutura em países emergentes. O bloco está em uma jornada para descarbonizar sua economia, enquanto assegura o fornecimento de energia e se livra da dependência do gás russo.
No ano passado, a UE lançou a política RePowerEu, com foco em segurança e transição energética, cuja meta é consumir 20 milhões de toneladas de hidrogênio renovável em 2030 – metade desse volume importado.
Fonte: NovaCana