A rápida disseminação da ferrugem asiática, ou ferrugem da soja, preocupa os produtores brasileiros. De acordo com o Consórcio Antiferrugem, já foram registrados 37 focos da doença. Destes, 18 são em Goiás – onde houve um percentual de chuva acima da média dos últimos anos, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado -, 11 em São Paulo, 2 no Paraná, um em Minas Gerais e 5 em Mato Grosso. Lavouras comerciais de diferentes regiões também apresentaram os sintomas da doença. Segundo Rafael Soares, pesquisador da equipe de fitopatologia da soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os cerrados geralmente são os que mais sofrem com o problema.
Na safra 2012/2013, de acordo com dados da Embrapa, os custos de controle da doença somaram US$ 1,94 bilhões, com 488 ocorrências registradas no site do CAF até 31 de maio de 2013. Na safra anterior, o custo ferrugem (soma das perdas com os custos de controle) ficou em US$ 1,73 bilhões, resultado de US$ 1,54 bi de gastos com o controle mais US$ 191,6 milhões em perdas (363,5 mil toneladas).
“No total, a ferrugem já custou cerca de US$ 21 bilhões para o Brasil, com custo médio ao redor de US$ 2 bilhões por safra nos últimos anos”, contabiliza o especialista.
A praga é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Detectada oficialmente no Brasil no ano de 2001, no Paraná, se expandiu país afora rapidamente.
“Este fungo produz esporos que são disseminados através do vento e da água, podendo ser espalhados a longas distâncias em pouquíssimo tempo. Por isso, regiões úmidas são as mais afetadas. A doença pode ser detectada a partir de amostras das folhas localizadas nas partes baixas da planta: os esporos lhes causam pequenos pontos de coloração esverdeada à cinza-esverdeada, de no máximo 1mm de diâmetro. Basta coletar uma amostra e colocá-la contra um fundo claro para melhor observar estes sintomas”, detalha o pesquisador.
Na face inferior das folhas também podem ser observadas saliências. Diretamente associada ao clima, a infecção da planta é favorecida em locais cujas temperaturas médias são menores que 28º C e o molhamento foliar dura de mais de 10 horas.
MONITORAMENTO FREQUENTE E PREVENÇÃO
Soares explica que o monitoramento das plantações pode ser realizado a olho nu, por um engenheiro agrônomo que colete amostras das folhas do pé de soja e faça a análise com o auxílio de uma lupa. Se forem identificados esporos, o material deve ser levado a um laboratório que fará um check-up minucioso. Faculdades e instituições ligadas aos produtores de soja normalmente oferecem este serviço gratuitamente ou a custo reduzido para o produtor.
Outra opção, segundo o especialista, é utilizar um coletor de esporos: uma espécie de catavento que pode indicar a presença dos fungos. Disponível no Brasil a um custo mais acessível do que no exterior, a ferramenta foi desenvolvida pela Universidade Estadual de Londrina, que, em parceria com a Emater local, empresta o coletor aos produtores, cobrando apenas a assistência técnica. “Isso diminui aplicações desnecessárias de fungicidas”, observa.
Sobre a prevenção da ferrugem, Rafael diz: “Uma maneira muito eficaz são os vazios sanitários (período entressafra). Como o fungo precisa da planta viva para sobreviver, este intervalo torna-se um dificultador para a sua proliferação”.
Entende-se por vazio sanitário o período de ausência total de plantas vivas durante determinado período. Com isso, o fungo causador da ferrugem, por ser um organismo biotrófico, ou seja, que necessita de um hospedeiro vivo para sobreviver, não encontra seu hospedeiro preferencial durante um período suficiente para reduzir drasticamente a sua população.
O pesquisador explica que os fungicidas comerciais são, normalmente, aplicados de forma preventiva e tecnicamente determinada. Isso significa que as safras devem ser frequentemente monitoradas e que os defensivos agrícolas só devem ser utilizados quando realmente for detectada alguma possibilidade de contaminação. “Desta forma, elimina-se qualquer dilema sobre a necessidade ou não da utilização de fungicidas”, ressalta.
Segundo Soares, o uso do produto não apresenta perigo à saúde do consumidor se aplicado “de maneira correta e dentro do período de carência”. “É preciso que fique claro que os fungicidas têm baixa toxidade, bem diferente dos inseticidas, que são mais perigosos. Anualmente, a Embrapa disponibiliza uma Circular Técnica, que é um caderno eletrônico com resultados de testes de eficiência feitos com fungicidas para o controle da ferrugem da soja em todo o Brasil.”
Os cultivares são uma opção que, futuramente, poderão ajudar os produtores que sofrem com a ferrugem asiática, aponta o especialista. “Ainda estamos em fase de pesquisa, e isso demora algum tempo e demanda investimento. Existem cultivares que resistem à ferrugem, mas ainda não estão estabelecidas no mercado. Eles jamais serão imunes às doenças, mas, com certeza, serão mais resistentes. De qualquer maneira serão viáveis economicamente para os agricultores, que poderão economizar nos gastos com o combate à praga.”
Por Equipe SNA/RJ, com informações da Embrapa