A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) começou a estabelecer parcerias para promover o ingresso do agronegócio no mercado de capitais.
Recentemente, foram firmados dois acordos de cooperação técnica, a partir de um convênio da CVM com o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e o Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA).
As iniciativas têm por objetivo permitir o acesso das empresas do agro ao mercado de ações. Nesse contexto, serão realizados programas conjuntos de capacitação, incluindo seminários e fóruns destinados a empreendedores e investidores.
As parcerias também pretendem incrementar a divulgação das opções de financiamento do agro no mercado. Além disso, a Bolsa B3 confirmou seu apoio aos eventos de capacitação.
Avanço
Para o presidente da CVM, João Pedro Nascimento, as iniciativas deverão favorecer um desenvolvimento maior das cadeias do setor. “A Comissão tem apontado que o lugar do agronegócio é no mercado de capitais”, destaca o executivo.
Thomás Tosta de Sá, ex-presidente da CVM e diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), avalia que esses acordos com o agronegócio “representam um importante avanço do mercado de capitais no financiamento do setor da economia em que o Brasil apresenta as maiores vantagens comparativas, com grande demanda de capital para investimentos em inovação e tecnologia, onde mantém uma posição de liderança”.
Diálogo
Já o diretor jurídico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Frederico Price Grechi, acredita que “as entidades associativas poderão propiciar uma interlocução melhor entre os agentes econômicos do mercado e o órgão regulador”.
Segundo ele, isso permitirá, de forma positiva, “a adequada compreensão das peculiaridades do segmento e as vicissitudes da dinâmica do setor, com evidente redução dos custos de transação e ganhos para segurança jurídica, seja no tocante à previsibilidade (sentido e alcance) das regras vigentes aplicáveis, ou no tocante à fixação de regras de transição para as necessárias adaptações e ajustes”.
Acesso a recursos
Nilson Leitão, presidente do IPA, explica que os acordos de cooperação estarão focados principalmente na área educacional. Segundo ele, “o acesso ao crédito ainda é muito caro e nem todo produtor rural consegue ter. A indústria também precisa de crédito mais barato”.
O superintendente da CVM, Bruno Gomes, afirma que o agronegócio necessita de R$ 1 trilhão de recursos ao ano. Ele explica que o setor tem acesso a cerca de R$ 300 bilhões por meio de crédito subsidiado (Plano Safra) e R$ 300 bilhões são de capital próprio.
Segundo Gomes, outros recursos na faixa de R$ 300 bilhões a R$ 500 bilhões são obtidos por meio de empréstimos e somente alguma parcela tem origem em financiamentos por meio o mercado de capitais.
Diante disso, o superintendente acredita que o mercado de capitais tem potencial para captar até dois terços deste total.
Interesse
“Há um interesse crescente dos pequenos e médios produtores rurais, além de outros elos da cadeia do agronegócio, em acessar o mercado de capitais para se financiar, bem como dos investidores nas ofertas do setor”, ressalta Gomes.
“Há espaço para o mercado de capitais suprir R$ 600 bilhões de crédito ao produtor rural. Em cinco anos, estamos falando de R$ 3 trilhões de operações em estoque”, conclui.