O aumento dos custos de produção tem sustentado a forte demanda de agricultores e pecuaristas brasileiros por recursos para custear lavouras e criações e se reflete nos desembolsos de crédito rural das instituições financeiras. De julho a outubro, os quatro primeiros meses da temporada 2022/23, foram acessados R$ 97.5 bilhões apenas para custeio, 49% a mais que no mesmo período do ciclo 2021/22.
Com isso, o desembolso total de crédito rural no intervalo chegou a R$ 146.7 bilhões, quase 21% mais que entre julho e outubro do ano passado. Os dados foram extraídos da base do Banco Central e compilados pelo Valor.
O ritmo de contratação aumentou nas demais modalidades, mas segue abaixo do observado no início da safra 2021/22. O desembolso para linhas de investimentos, por exemplo, ficou em R$ 33.2 bilhões, ainda menos que os R$ 37,2 bilhões concedidos no mesmo período do ano passado.
Menor apetite
A elevação dos juros nesta temporada e a consequente redução do apetite no campo para investimentos podem explicar parte da redução. Os desembolsos para comercialização (R$ 8.8 bilhões) e industrialização (R$ 7 bilhões) também continuam mais fracos do que nos quatro primeiros meses da temporada passada.
O ministro da Agricultura, Marcos Montes, afirmou que não há falta recursos e que as reclamações dos produtores diminuíram. “Os juros, em geral, aumentaram justamente para poder ajudar e proporcionar juro menor para agricultura familiar”, disse ele ao Valor, destacando que 70% do orçamento da equalização desta safra é para atender o pequeno produtor.
As contratações de recursos no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor (Pronamp) de fato aumentaram em relação ao ano passado, também puxados pelo custeio.
Os agricultores familiares acessaram R$ 16.1 bilhões nessa modalidade e os médios, R$ 24.3 bilhões. Nos investimentos, o Pronamp segue um pouco abaixo da performance de 2021/22. No Pronaf, os volumes já superaram o desempenho do ciclo anterior em quase R$ 150 milhões, alcançando R$ 8.7 bilhões agora.
Os bancos públicos lideraram os desembolsos até outubro, com R$ 89.6 bilhões. Apenas o Banco do Brasil já liberou R$ 70.7 bilhões. As cooperativas de crédito mantiveram o bom desempenho dos primeiros meses e seguem à frente dos bancos privados no ranking, com quase R$ 30 bilhões emprestados até outubro.
Deficiências
Ontem, o BC publicou um boletim de acompanhamento do crédito rural concedido até setembro, no qual apurou uma deficiência de aplicação das exigibilidades do crédito de R$ 15.6 bilhões, principalmente dos depósitos à vista. O BC também informou que o endividamento dos beneficiários do crédito rural no Sistema Financeiro Nacional (SFN) em agosto era de R$ 505 bilhões, ou 11% do total de operações.
O boletim também mostrou como as taxas de juros aumentaram nesta safra na comparação com o ciclo passado. No Pronaf, por exemplo, as linhas alimentadas com recursos obrigatórios têm juros médios de 5,80%, contra 3,90% na temporada anterior. Nas linhas da poupança rural com equalização, as taxas estão ainda mais caras para os agricultores familiares: 5,90% agora, contra 4,20% na safra 2021/22.
No Pronamp, os juros estão em 8% nas duas fontes. No ano passado, as taxas eram de 5,50% e 5,70%, respectivamente. Grandes produtores estão pagando, em média, 11,70% nas linhas com recursos controlados dos depósitos à vista e 10,90% nos programas alimentados pela poupança rural com equalização. Em 2021/22, essas taxas eram de 5,90% e 7,40%, respectivamente.
Financiamentos com recursos da poupança rural livre têm juros médios de 12,70% (eram 7,60% em 2021/22) e as linhas com recursos das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são acessadas a 12,50%, em média. Os juros livres estão em 12,90% contra 8% no ciclo passado.