O poder de compra de adubos dos agricultores brasileiros melhorou nos últimos seis meses, principalmente devido ao recuo das cotações dos principais grupos de nutrientes usados nas fórmulas. Desde abril, a queda é de quase 50%. Por outro lado, os preços de grãos, como soja e milho também caíram, o que tem limitado um pouco a melhoria do poder de compra no campo, segundo agentes dessas cadeias.
Índice elaborado pela consultoria StoneX mostra que o poder de compra do agricultor, considerando todas as culturas, foi de 1,26 em setembro, o que representou um aumento de 22% em relação a abril e de 4,50% em comparação com setembro de 2021. A principal causa para a melhora, disse Luigi Bezzon, analista responsável pelo índice, é a queda dos preços dos adubos.
Em seis meses, os três principais grupos de nutrientes, nitrogenados, fosfatados e potássicos, recuaram quase 50%, e hoje estão em US$ 648,00 (ureia), US$ 660,00 (MAP, um fosfatado) e US$ 663,00 (potássio) no porto de Paranaguá (PR). Com a queda, esses produtos voltaram para o patamar em que estavam nessa mesma época de 2021, quando os preços já estavam acima das médias históricas.
Se comparados os índices de poder de compra dos meses de setembro de 2020 e de 2022, ainda há atualmente uma deterioração de 56%. É que, há dois anos, esses fertilizantes valiam perto dos US$ 300,00 a tonelada (ver infográfico).
Outro indicador
O índice da Mosaic Fertilizantes também detectou melhoria do poder de compra do produtor brasileiro em setembro. Segundo a multinacional, que faz cálculos a partir de dados de açúcar, etanol, soja e milho, os subprodutos da cana lideraram o recuo das commodities no mês passado.
“Por um lado, a perspectiva [para o resto do ano] das cotações de adubos ainda é de queda, mas é difícil prever o que acontecerá com as culturas [como soja e milho], que estão bem voláteis nas últimas semanas”, disse Bezzon, da StoneX. Ainda assim, ele acredita o poder de compra tende a continuar melhorando no quarto trimestre.
É que, embora esteja difícil prever as cotações dos grãos, as dos adubos parecem um pouco mais previsíveis, ao menos se considerados dois fatores que têm relação com o Brasil: o país tem estoques e a demanda por fertilizantes diminuiu.
“Os estoques devem ajudar a pressionar os preços [de adubos] pelo menos até o fim do período de consumo da segunda safra de milho no ano que vem”, afirmou o analista. A segunda safra, ou safrinha, é cultivada no primeiro trimestre.
Guerra na Ucrânia
Vale reiterar, porém, que o mercado internacional ainda está sujeito ao “efeito Putin” e à guerra na Ucrânia. Rússia e Ucrânia são importantes fornecedores tanto de adubos quanto de grãos, e, desse modo, não se descarta que ainda haja surpresas.
Na soja, o carro-chefe das culturas agrícolas no Brasil, parte das dificuldades para traçar um horizonte de curto prazo está atrelada às eleições no país.
“Olhando para fundamentos, a tendência é de preços firmes, com possibilidade de preços ‘mais fracos’ no fim do ano”, disse Luiz Gutierrez, analista da Safras & Mercado. É quando a demanda das indústrias costuma cair sazonalmente. “Mas as projeções também dependem do câmbio, que está difícil de prever devido às eleições”, disse ele.