O Brasil está posicionado entre os dez países com a maior área equipada para irrigação do mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Além de aumentar a produtividade das culturas, a irrigação possibilita a produção em diferentes épocas do ano, em regiões onde o regime pluviométrico é menor, e reduz os riscos climáticos em áreas complexas para uma produção agrícola convencional.
“Com a irrigação, é possível produzir mais alimentos com qualidade maior e ocupando uma mesma área. Isso limita a expansão de espaços para o plantio e favorece o trabalho com diferentes culturas, o que melhora a qualidade do solo, diminuindo a incidência de doenças”, afirma o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Marcos Fava Neves.
Segundo ele, “o Brasil precisa de uma diversificação maior de culturas, de aumentar o volume em todas as culturas de forma eficiente para levar ao consumidor produtos com preços acessíveis”.
Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) mostram que o arroz, o feijão e o trigo podem ter suas produtividades ampliadas em até quatro vezes com a irrigação.
Hectares
Para o diretor da SNA, o Brasil não precisa mais do que 270 milhões de hectares para abastecer mais de um bilhão de pessoas no mundo. “Se tivermos mais irrigação, outras áreas que hoje não têm tanta aptidão (para o plantio), poderão ser utilizadas para a segunda safra”, ressalta o especialista.
“Essa expansão nós já estamos vendo. A pecuária, por exemplo, vem cedendo área para a agricultura, que depois é irrigada. A irrigação é amiga da conservação e da verticalização da produção”.
Benefícios
Fava ressalta ainda que a técnica promove uma padronização maior dos produtos, melhorando a oferta, e ao diminuir os riscos de perdas nas lavouras, garante retorno financeiro e benefícios para os agricultores e toda a cadeia produtiva.
“A irrigação permite mais previsibilidade. Se a lavoura está irrigada, eu tenho mais chances de receber meu produto. Além disso, favorece a produção em ambientes fechados e até em desertos, graças ao apoio da tecnologia”.
Uso de sensores
“É uma atividade que demanda altos níveis de tecnificação, planejamento e investimento”, complementa Fava, acrescentando que o uso de sensores garante maior precisão à técnica.
“A irrigação de precisão utiliza sensores que captam informações sobre a umidade do solo em diferentes profundidades, em tempo real, e a partir de uma análise é realizada a distribuição da água em cada espaço da lavoura, como se fosse um trabalho de gestão por metro quadrado”, explica o especialista.
“Nesse caso, não é uma aplicação uniforme, pois atende somente as áreas que realmente necessitam, e não há desperdício de água”.
Complementos
Ainda em matéria de tecnologia, a atividade também envolve o trabalho das estações metereológicas, que monitoram o clima, e o uso de equipamentos de captação de água para reuso. “Hoje em dia, 35% da irrigação no Brasil é feita com o reuso de água, e esse percentual vai continuar crescendo ao longo dos próximos anos”, informa Fava.
Ranking e números
Atualmente, China e Índia são líderes em irrigação, com 70 milhões de hectares. Os Estados Unidos estão em terceiro lugar, com cerca de 27 milhões de hectares, e o Brasil ocupa a sexta posição, com 8.2 milhões de hectares irrigados.
Já o valor bruto de produção que a técnica trouxe para o País, em 2019, foi de cerca R$ 55 bilhões de reais, ressalta o diretor da SNA.
“Hoje esse número deve estar entre 70 e 80 bilhões de reais. Além disso, 16 culturas apresentaram valor de produção anual superior a um bilhão de reais. Imagine esse valor circulando na economia dos municípios com culturas irrigadas”.
Entre as culturas que mais utilizam irrigação estão os grãos, com 18%; arroz, com 16%; cana-de-açúcar, com 9%, e café com 5,5%.