Por Márcio Sette Fortes*
Em 2021, a conjunção de três representativos certames multilaterais, envolvendo o Sistema ONU, traz uma oportunidade ímpar para o Brasil trabalhar a imagem de seu produtor rural. A COP 26, do Clima, calcada no Acordo de Paris; a COP 15, da Biodiversidade, para renovar as Metas de Aichi; e o Encontro de Cúpula dos Sistemas Alimentares, para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável; constituem foros ideais para o país reverter perspectivas negativas que afetam a negociação e a comercialização de seu agronegócio.
Nesse contexto de preocupações ambientais, mudanças climáticas e desmatamento são dois dos fatores que afetam a biodiversidade, correlacionando os temas. As denúncias de desmatamento de que o Brasil é alvo, entre outras, arrastam o agronegócio para o centro do problema, muitas vezes, sem distinguir o produtor que respeita as normas ambientais daquele que não as respeita e que é minoria.
Não há dúvidas de que os países que nos acusam, para além da influência dos verdes junto a seus governos nacionais, embarcaram numa oportunidade temática que lhes favorece sobremaneira. As alegadas preocupações ambientais também servem para disfarçar interesses protecionistas, camuflados sob a roupagem de campanhas acusatórias, sendo algumas altamente difamatórias.
Ao apontarem certas mazelas, com o fito de emperrar o Acordo Mercosul-União Europeia nos parlamentos nacionais, e de respaldar a suspensão de importações de gêneros agrícolas brasileiros, evidencia-se que não é com o futuro do planeta que estão preocupados, mas, sim, com assegurar a seus próprios produtores rurais um futuro.
Nos encontros multilaterais aqui mencionados, é mister impedir que posicionamentos alinhavados das nações denunciantes convirjam rumo a uma posição majoritária que nos deixaria isolados, podendo produzir graves prejuízos às exportações brasileiras do agronegócio. Nesse sentido, merece destaque a ratificação pelo Brasil, em março de 2021, do Protocolo de Nagoia, que credencia o país a deliberar na COP 15 sobre a proteção da biodiversidade. A ratificação reafirma o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
A participação em tais foros, portanto, merece ser valorizada, por um lado, por meio de uma estratégia de contenção das acusações que apresente números realistas, “auditados” por sensoriamento remoto. Por outro, deve ser igualmente valorizada por uma estratégia que dê ampla publicidade a medidas sustentáveis defendidas por produtores e entidades rurais, de que é exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta. Ademais, o compromisso oficial de combater o desmatamento, aplicando o Código Florestal, deve ser repetido à exaustão.
O encapsulamento das divergências terá o condão de evitar maiores perdas, até mesmo, podendo ensejar ganhos adicionais de comércio até o limite da noção de segurança alimentar dos países importadores. Que sejamos sábios para reverter tendências e conciliar a responsabilidade ambiental com o desenvolvimento econômico.
* Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, conselheiro da Associação de Comércio Exterior do Brasil e professor do IBMEC
Fonte: O Globo