Nas próximas décadas, o Brasil deverá liderar, em nível global, o aumento da produção agrícola sustentável, afirmou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em videoconferência com lideranças do agro e representantes da imprensa internacional.
“O Brasil tem capacidade para liderar em todas as frentes, sem dúvida, pois temos um modelo de agricultura tropical, que permite, com base na ciência, uma produtividade melhor da terra”, ressaltou a ministra.
Segundo ela, nos próximos anos, haverá mudanças na forma como os alimentos são produzidos, processados, distribuídos e consumidos. “Fatores como novos hábitos de consumo, maiores exigências em matéria de sanidade e a necessidade de adaptação aos impactos do aquecimento global” fazem parte desse cenário, destacou a ministra.
Atendendo às solicitações da imprensa estrangeira, a ministra falou sobre os investimentos em títulos verdes (“um mercado promissor”); anunciou os esforços do governo para regulamentar a rastreabilidade de bovinos; ressaltou que o governo, até o momento, já abriu 145 mercados e que o objetivo “é aumentar esse número e diversificar a pauta de exportações”, e afirmou que a agricultura familiar é o grande desafio do ministério.
“Trabalhamos com muitas políticas públicas para dar reforço ao crédito destinado a esses agricultores, para que eles produzam com sustentabilidade e mais eficiência, com assistência técnica digital, e para que tenham mais renda, mais segurança e permaneçam no campo”, disse Tereza Cristina.
Crise hídrica e desmatamento
“Nós estamos em um momento decisivo da trajetória global rumo ao desenvolvimento sustentável. O Brasil tem ótimos exemplos, como uma enorme reserva (verde) dentro das propriedades, o Código Florestal, e estamos à frente de muitos países. Mas, mesmo assim, muitas vezes, nossa imagem é mal compreendida ou ruim”, ressaltou a ministra, chamando a atenção para alguns problemas como os desmatamentos ilegais e a recente crise hídrica.
Tereza Cristina falou sobre a importância da regularização fundiária e ambiental para combater ilegalidades e anunciou a criação de uma nova ferramenta, que irá efetuar os procedimentos de fiscalização de áreas por meio da Inteligência Artificial (IA). “Os estados deverão fazer essa fiscalização e implementar a nova plataforma”, sinalizou a ministra.
Nesse cenário, disse ela, é preciso também incentivar o pagamento por serviços ambientais de preservação. “Os green bonds fazem com que o agricultor mantenha sua área verde em pé, se ele for regularizado. Alguns agricultores já têm esses recursos, mas é necessário ampliar a iniciativa”.
Quanto à crise hídrica, Tereza Cristina afirmou que as áreas irrigadas podem ter problemas esse ano. “Trabalhamos com outros ministérios para dar previsibilidade a esses produtores. Ano passado também houve atraso no plantio por causa da falta de chuvas. E nesse ano, há perdas na safrinha de milho. É necessário que se faça economia de água na propriedade.”
‘Fake news’
Para o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros, “o País tem potencial para se transformar numa espécie de ‘Opep’ dos alimentos e isso assusta alguns países produtores que tentam minar os esforços do Brasil com a divulgação de informações que ignoram seu compromisso com a sustentabilidade. Fortalecer o agro é fortalecer o comércio, a indústria e os serviços com geração de emprego e renda”, afirmou o executivo.
Ele ressaltou ainda que a Amazônia tem vocação para se integrar e contribuir com o desenvolvimento do País como provedor de alimentos e produtos agrícolas para a população e o mundo. “O futuro da Amazônia está estreitamente ligado à inserção na bioeconomia. Precisamos ter as cadeias de valor da região mapeadas, infraestrutura logística sustentável e captar recursos para investimentos”.
Para isso, disse ele, “precisamos eliminar as falsas informações sobre a região, muitas vezes geradas por agentes externos que não têm interesse no protagonismo do Brasil”.
Realidade ambiental
“O agro sabe produzir, mas não sabe se comunicar”, afirmou o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga. “Essa é uma excelente oportunidade para esclarecer alguns pontos sensíveis. Os correspondentes internacionais, em grande parte, são responsáveis pela imagem do Brasil no exterior, e nosso agronegócio se ressente de algumas distorções publicadas na imprensa estrangeira”.
Segundo Alvarenga, “o meio ambiente é o ponto mais sensível da posição do Brasil no mercado internacional”. Nesse contexto, o presidente da SNA apresentou para os jornalistas presentes ao encontro alguns dados da Embrapa Territorial que comprovam a sustentabilidade do agro brasileiro.
“Toda a área de produção, com lavouras, pastagens e florestas plantadas, ocupa apenas um terço do território brasileiro, e dois terços correspondem às áreas de preservação ambiental. Por isso é que costumamos dizer que o Brasil tem a agricultura mais sustentável do planeta”, disse Alvarenga.
“Nesses dois terços de áreas preservadas estão os territórios indígenas, que merecem atenção especial de determinados observadores globais. Nossos indígenas dispõem de nada mais nada menos que 13,8% do território nacional”.
Também dentro desses dois terços, acrescentou o presidente da SNA, “estão cerca de 26% do território brasileiro, que são preservados por nossos produtores rurais. Trata-se de um ativo considerável, de propriedade dos produtores, que são encarregados de sua manutenção”.
“Se alguém desmatar, roubar a madeira, se ocorrer um incêndio nessas áreas, a responsabilidade será do produtor, que receberá pesadas multas. Nosso produtor tem parte considerável de seu patrimônio destinado à preservação ambiental e assume todos os custos necessários para manter essa área preservada”, salientou Alvarenga.
Oportunidades
Ao destacar as oportunidades do agro brasileiro na atualidade, o presidente da SNA falou sobre a importância dos créditos de carbono, da tokenização dos ativos (commodities) e dos fundos de investimentos no setor.
“O Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), aprovado recentemente em lei pelo Congresso Nacional, é um importante instrumento de financiamento do agro, que possibilitará o desenvolvimento de inúmeros negócios no setor, com alto grau de governança e interação direta com o mercado de capitais”, disse Alvarenga.
“Em linha gerais, o Fiagro permite que investidores nacionais e estrangeiros possam realizar aplicações em ativos atrelados às cadeias produtivas agroindustriais. O fundo permite a aquisição de diversos ativos, como imóveis rurais; participação em sociedades que explorem atividades integrantes da cadeia produtiva agroindustrial; ativos financeiros; títulos de crédito, entre outros”, explicou o executivo.
“Com um regime tributário similar ao dos Fundos de Investimento Imobiliários , os rendimentos distribuídos pelo Fiagro aos seus cotistas pessoas físicas estão isentos do Imposto de Renda na Fonte, observadas determinadas condições”, complementou o presidente da SNA, lembrando a lei depende ainda de regulamentação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Outra grande oportunidade, segundo Alvarenga, é o mercado de crédito de carbono, “que tem crescimento estimado de quase 20% ao ano e movimenta bilhões de dólares no mundo”. Segundo ele, esse mercado deverá crescer à medida em que são muitas as instituições e países que precisam compensar suas emissões”.
No Brasil, “pelo fato de o País possuir uma grande área verde, as expectativas de desenvolvimento são promissoras”, informou Alvarenga, citando dados do Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS): “Os créditos provenientes da preservação da Amazônia, por exemplo, poderiam gerar um potencial de rendimento de US$ 10 bilhões ao ano para o País”.
Ainda de acordo com o presidente da SNA, a criação da tokenização das commodities agrícolas, por meio das ferramentas de Blockchain, também representará um grande avanço para o setor. “A tokenização do agro possibilitará maior liquidez das commodities agrícolas, com maior facilidade na negociação por parte de qualquer investidor”.
Soja
Também durante o encontro, o vice-presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz Pereira, destacou que as áreas de plantio de soja passarão de 37.8 milhões de hectares para mais de 40 milhões de hectares. “Áreas vão crescer em cima de pastagens degradadas, junto à pecuária de corte”, disse Braz, que estimou para esse ano uma safra de soja com 136 milhões de toneladas colhidas.
Carnes
No segmento da pecuária brasileira, foram apresentados alguns dados sobre a produção de carnes no País. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, informou que, no ano passado, o abate de aves e suínos produziu mais de 20 milhões de toneladas de alimentos para o Brasil e mais de 150 países.
“Isso corresponde a algo em torno de 1 milhão e meio de caminhões de 12 toneladas, por ano, transitando no País. Foram gerados quatro milhões de empregos diretos e indiretos”, afirmou o executivo, lembrando que o aspecto social incluído no conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança adotadas por empresas (ESG, na sigla em inglês), “está muito bem representado na avicultura, distribuindo renda para mais de 120 mil famílias de produtores”.
Santin disse ainda que, nos últimos 20 anos, “o setor trouxe mais de US$ 145 bilhões de receita cambial para o País. Em um contexto geral, complementou o executivo, “a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), estimam que, nos próximos cinco anos, o Brasil deverá aumentar sua produção de alimentos em 48%.”
Já o diretor da Minerva Foods, João Sampaio, afirmou que, no segmento de carne bovina, o Brasil tem conseguido mostrar sua sustentabilidade e competência para produzir com responsabilidade.
“A produção de carne bovina tem uma característica muito importante. Cerca de 85% a 90% dessa produção envolve animais criados a pasto. Nesse sentido, e ao contrário do que se afirma, há um balanço favorável da condição de carbono. Essa constatação faz parte de uma pesquisa que está sendo desenvolvida pelo setor com universidades brasileiras e internacionais”, destacou Sampaio.
Segundo ele, a pecuária bovina precisa atingir mais mercados. “Os nichos para exportação de produtos customizados estão crescendo”, ressaltou.
Organizado pela Imprensa Internacional, com o apoio de várias entidades, o encontro foi apresentado pelo jornalista Sérgio Caringi e teve a mediação do jornalista George Vidor.
Fonte: Imprensa Internacional
Foto da capa: Guilherme Martimon/Mapa
Equipe SNA