Crise na cafeicultura: quebra de safra no Brasil deve tirar até 12 milhões de sacas de café do mercado neste ano

A crise para o setor cafeeiro, acompanhada pelos produtores desde o ano passado, começa a chegar a outros elos da cadeia. Com uma oferta restrita, sem estoque de passagem, torrefadores já encontram dificuldades para comprar café e o preço do produto no varejo também começa a ser impactado.

“De fato, o setor industrial de café passa por uma crise que eu, nos 30 anos de café que tenho, poucas vezes vi igual. Os preços do café sobem sem aviso, de forma explosiva”, disse Nathan Herszkowicz, vice-presidente da Sindicafé -SP.

“Houve um aumento entre 80% e 100% na média e esses novos custos não conseguem ser repassados com facilidade pela indústria pelo varejo. Então a indústria fica consumindo seu estoque sem poder comprar porque o preço de compra é maior do que o preço de venda do produto final”.

Herszkowicz afirmou ainda que, com custos elevados, a grande maioria das indústrias, micro e pequenas empresas, não têm condição de pagar pelos preços e muitas estão com as atividades paralisadas ou fechando as portas.

“Por isso a gente teme que falte café esse ano aqui no Brasil, o que é extremamente esquisito depois de um ano em que nós tivemos recordes na produção e recordes na venda de café externo e mercado interno. Mas nesse ano tudo indica que nós vamos chegar pelo mês de agosto/setembro com grande possibilidade de faltar café na mesa”, ressaltou o vice-presidente da Sindicafé-SP.

Consumo interno e exportação

Há pelo menos cinco anos o Brasil não conta mais com estoques governamentais e a preocupação do setor não é apenas com o abastecimento interno, mas também com a exportação do produtor que vinha com um bom ritmo e principalmente mostrando que o Brasil conquista cada vez mais espaço, como o aumento de cafés certificados na bolsa ICE.

“Na verdade, a preocupação é com o consumo interno e com a exportação também. O que ocorre é que nós tivemos ano passado, um ano excepcional, ao contrário do que está sendo 2021”, disse Herszkowicz.

“Tivemos uma produção recorde, uma exportação muito grande que se baseou inclusive nos estoques remanescentes de algumas indústrias exportadoras, mas que hoje não existe mais e nós tivemos um consumo interno elevado”.

O vice-presidente afirmou ainda que os estoques privados em 2021 também já estão mais baixos quando comparado com os anos anteriores.

Custo da saca

“Nós, torrefadores temos um problema, pois o custo da saca de café é hoje maior que o custo do pacote de café industrializado, o que é um absurdo”, observou Herszkowicz.

“Hoje uma saca de café que custa R$ 800,00 é mais cara que essa mesma saca de café industrializada e vendida. É uma situação inimaginável, por isso que as empresas não estão aguentando. Nós temos de achar alguma solução, senão vai faltar o café na mesa do brasileiro”.

Alerta

Apesar de o consumidor brasileiro começar a perceber o aumento de preços há pouco tempo, o vice-presidente da Sindicafé-SP disse que a “luz vermelha” começou a alertar o setor já no ano passado, na época de florada, justamente quando a falta de chuva e as temperaturas começaram dar indícios de uma quebra de safra expressiva.

Com a chegada da colheita, os parques cafeeiros mostram ainda mais problemas, com grãos chochos ou pequenos demais para garantir uma produção em grande escala e também de qualidade satisfatória.

Desabastecimento

Nesta semana, o segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou que a safra 2021 do Brasil não deve ultrapassar as 49 milhões de sacas, um volume que, segundo Herszkowicz já significa a falta de café.

Pelos dados do vice-presidente, a soma dos volumes entre consumo interno e exportação é muito maior do que se prevê na produção. “Ou seja, vai faltar café no mercado brasileiro, entre exportação e consumo, mais do que 10/12 milhões de sacas”.

Para Herszkowicz, “essa é a quebra que vai acabar restringindo a oferta de café no mercado e aumentando o preço da matéria-prima. Já é o que está acontecendo e ainda não aconteceu de forma intensa no preço do pacote de café no varejo para o consumidor”.

Preços e safra 2022

Em comparação com outros produtos, que subiram entre 20% e 30%, segundo o vice-presidente, o preço do café no varejo aumentou cerca de 1,30%.

“No ano passado isso foi possível porque as safras grandes que nós tivemos permitiram manter preços, seja na cooperativa, produtor ou indústria. Não é a situação que acontece esse ano. Parece que esse ano o mundo virou ao contrário para a indústria do café.. Nós não temos estoques e o café não tem a qualidade que se esperaria”.

Herszkowicz alertou ainda que, além desta safra, a de 2022 já está prejudicada, refletindo os impactos do clima irregular. “A ciência explica que no ano que vem nós vamos ter problemas, mas segundo os técnicos agrônomos, também teremos problema em 2023”.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

Equipe SNA

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