China precisa realizar uma “explosão” de compras nos EUA para cumprir meta agrícola do acordo

Após quase sete meses, uma ambiciosa meta de US$ 36.5 bilhões de dólares definida pela China para importações de produtos agrícolas dos Estados Unidos neste ano pode não estar totalmente fora de alcance, mas parece cada vez mais um enorme desafio.

Até o final de maio, as importações estavam abaixo dos níveis de 2017, enquanto precisariam ter aumentado em 50%. Embora os chineses tenham começado a aumentar as compras de soja, o alcance da meta exigiria grandes volumes de compras.

Analistas acreditam que o desafio pode ser grande demais se considerados ainda a rápida deterioração nas relações entre EUA e China, uma eleição se aproximando nos EUA, uma pandemia global e dúvidas sobre a real necessidade da China por importações de soja.

“Apenas não parece provável para mim”, disse o corretor de futuros e opções da Daniels Trading em Chicago, John Payne. “Se a economia global estivesse mais normal, talvez, mas você tem todo esse problema da Covid.”

Aumento de compras

Pequim e Washington fecharam a Fase 1 do acordo comercial em janeiro, após dois anos de tensão e uma forte queda nas importações da China, um dos principais compradores de produtos agrícolas norte-americanos.

Já na ocasião analistas expressaram reservas quanto à meta para os produtos agrícolas, que representaria aumento de 25% em relação à máxima história de US$ 29 bilhões registrada em 2013.

Ainda assim, chineses têm aumentado neste ano as compras de uma série de bens agrícolas, registrando negócios recordes para importação de milho e carne, o que gera algum otimismo.

“Se eu tivesse que dar uma nota para eles agora, sairia de um C- para B, e se isso continuar talvez possamos começar a ver níveis melhores”, disse o presidente da AgResource em Chicago, Dan Basse.

Soja

As chances de atingir a meta ficarão mais claras nos próximos meses. A soja é responsável por cerca de metade das importações agrícolas da China junto aos EUA e a grande maioria das compras ocorre nos últimos três meses do ano, com uma redução nos suprimentos do Brasil, maior produtor.

Após um início lento, os importadores chineses registraram mais de US$ 2.5 bilhões em compras de soja nos EUA nas últimas oito semanas.

“Podemos estar à beira de realmente começar a aumentar as vendas para a China. Acho que você começará a ver essas grandes vendas de soja acontecendo bem em breve, porque o Brasil já vendeu quase tudo”, afirmou John Baize, presidente de consultoria John C. Baize & Associados.

Não está claro, no entanto, se a China manterá seu apetite nos próximos cinco meses depois que suas esmagadoras de soja adquiriram volumes recordes do Brasil. A demanda também dependerá da recuperação da China em relação à peste suína africana, que matou centenas de milhões de porcos, reduzindo a necessidade de ração.

Para que a soja represente metade da meta de US$ 36.5 bilhões, compradores chineses teriam de adquirir US$ 2.8 bilhões por mês de julho a dezembro, segundo cálculos da Reuters. Esse ritmo de compras mensais nunca se sustentou por mais de dois meses consecutivos e só foi registrado no quarto trimestre, sendo a ocasião mais recente em 2016.

Pandemia

Preços de commodities em queda devido à pandemia do Coronavírus ainda representam uma dificuldade adicional, uma vez que o acordo está atrelado ao valor das importações. Os preços da soja neste ano estão em média 10% abaixo dos registrados em 2016.

A China pode não violar o pacto comercial mesmo sem cumprir a meta, devido ao impacto do Coronavírus. O acordo concede flexibilidade no caso de “um desastre natural ou outro evento imprevisível”. Ao mesmo tempo, a política entrará em jogo.

Com as relações bilaterais entre EUA e China enfrentando turbulência, os chineses podem querer evitar se tornar um alvo maior de críticas do presidente norte-americano Donald Trump durante a campanha eleitoral dos EUA.

Os volumes finais das compras de soja na China provavelmente dependerão da uma decisão de Pequim sobre reabastecer ou não estoques do governo. Em geral, a China normalmente demanda de sete a oito milhões de toneladas por mês de soja, observou um processador no nordeste da China. “Seria uma história diferente se os grãos fossem para reservas estatais”, disse Baize.

Fontes chinesas afirmaram que a China vai querer evitar, se possível, os danos à reputação associados ao não cumprimento das metas. “Vamos morder os dentes e implementar o acordo comercial. Caso contrário, não pareceremos bem no cenário internacional”, declarou um gerente comercial de uma empresa estatal. “Mas precisaríamos comprar de uma maneira explosiva”.

 

Reuters

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp