Maior indústria brasileira de etanol produzido exclusivamente de milho, a FS, joint venture entre a americana Summit Agricultural Group e a Tapajós Participações, está usando os carimbos de sustentabilidade conferidos pelo mercado para reduzir custos de financiamentos. Em três operações feitas neste ano, a companhia captou R$ 530 milhões em financiamentos ditos “verdes”, dois deles com juros atrelados a metas socioambientais.
Na semana passada, a companhia firmou com o Santander a primeira contratação de um empréstimo com juros atrelados a metas sustentáveis, na primeira operação do tipo realizada com um banco no Brasil. A operação, de R$ 180 milhões para capital de giro, com prazo de um ano, pode ter o custo reduzido em até 0,15%, para CDI mais 6,65%, caso todas as metas sejam alcançadas.
Também no fim de junho, a FS concluiu a emissão de R$ 138.5 milhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), coordenada pelo banco Credit Suisse, com taxa vinculada ao alcance de metas “verdes”. O instrumento teve avaliação positiva da Sitawi, que fornece pareceres sobre finanças sustentáveis. Caso a companhia atinja todas as metas, a sobretaxa pode ser reduzida em 0,21%.
O pontapé inicial da empresa nesses tipos de operação ocorreu no início do ano, com a emissão de R$ 210 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em fevereiro, mas estes não estavam vinculados a metas. Três meses depois, esses títulos receberam parecer socioambiental positivo da Sitawi.
“Isso vem em um contexto em que há fundos soberanos e grandes gestores passando uma mensagem forte ao Brasil de que não vão mais investir enquanto não houver regra e compromisso claros dos governos sobre o desmatamento. Então é uma oportunidade de mostrar que temos compromisso com a sustentabilidade”, disse Rafael Abud, CEO da FS.
Na operação com o Santander e no CRI, as metas que a FS terá de cumprir são as mesmas. O atendimento será avaliado em janeiro de 2021 e, em caso positivo, as taxas serão revisadas no mês seguinte.
A primeira meta é melhorar o nível de transparência em seu relatório de sustentabilidade e obter o selo da Global Reporting Initiative (GRI), que estabelece padrões para relatórios corporativos na área. A segunda é conseguir a certificação do Climate Bonds Iniciative (CBI), maior organização global de certificação de finanças verdes. A terceira meta é manter-se entre as dez produtoras de biocombustível com menor a “pegada de carbono” no RenovaBio.
Das 220 unidades produtoras de biocombustíveis certificadas no programa até agora, o etanol anidro (misturado à gasolina) da usina da FS de Lucas do Rio Verde (MT) é o que mais “economiza” em emissões em relação ao combustível fóssil, em 71,1 gramas de gás carbônico por megajoule (MJ) de energia gerada. O etanol hidratado da usina teve a segunda melhor nota de eficiência energético-ambiental (70,7 gramas de CO2 /MJ).
Apesar disso, a parcela do etanol produzido pela FS certificado no programa é pequeno dentro do potencial, já que apenas 12,57% do produto foi considerado elegível. Dentre as usinas credenciadas, é a segunda maior defasagem em relação ao potencial. A empresa quer elevar a elegibilidade no RenovaBio para 22%, mas essa variável não foi incluída nos financiamentos.
Segundo Daniel Lopes, vice-presidente de Desenvolvimento de Novos Negócios, a baixa elegibilidade frente à média de 87% explica-se porque uma usina de milho tem muito mais fornecedores que uma de cana. “E muitos dos nossos fornecedores ainda são arcaicos quanto à qualidade da informação”, disse. Se a companhia adotasse a nota padrão do programa para o etanol anidro para que toda sua produção fosse incluída, a nota cairia para 58 g de CO2 //MJ.
Além disso, parte relevante do milho usado é comprado de tradings, o que leva o grupo a perder a origem. Hoje, quase todos os produtores que fornecem milho diretamente são rastreados pela FS. “Se algum milho foi produzido em área embargada pelo Ibama ou está na lista de trabalho escravo ou infantil, não originamos”, afirmou Abud.
Valor Econômico