Líder do mercado de crédito rural no país, o Banco do Brasil anunciou que irá investir R$ 103 bilhões no âmbito do Plano Safra 2020/21, que entrou ontem em vigor. É o mesmo valor anunciado para a temporada passada, na qual os desembolsos efetivos atingiram R$ 92.5 bilhões.
Para o novo ciclo, houve aumento expressivo no volume de recursos equalizados e uma leve redução do spread em algumas linhas de grandes e médios produtores, principal cobrança do setor produtivo.
Para defender sua participação de 55% nos financiamentos ao agronegócio nacional, a estratégia do BB nesta temporada prevê avanço em soluções digitais e no aumento das operações com títulos do mercado de capitais. “Estamos ampliando a contratação de crédito rural em canais digitais”, disse o presidente do banco, Rubem Novaes, durante o anúncio dos novos números.
Na safra 2019/20, as operações com Cédula de Produto Rural (CPR) totalizaram R$ 4.3 bilhões, e 80% das liberações foram realizadas por meio do aplicativo da instituição. A meta agora é chegar a R$ 6 bilhões. Houve outras 1.500 operações de custeio digital na temporada passada, no valor de R$ 640 milhões.
Em evento transmitido pela internet, o banco anunciou, com festa, que a contratação da primeira operação de custeio da nova safra foi realizada totalmente online por um pecuarista de Tocantins. O BB quer simplificar essa relação e prometeu lançar um modelo de análise automática de crédito dos clientes.
“O produtor já vai ter limite de crédito se estiver na média da produtividade da região e não precisará apresentar documentações. Vamos entregar a operação praticamente pronta e deixar mais fácil para o produtor”, disse João Rabelo Pinto Júnior, vice-presidente de Agronegócios do BB, em coletiva virtual.
Outra novidade é a criação de uma plataforma online para venda de máquinas e equipamentos agrícolas, que imita o ambiente das feiras agropecuárias, prejudicadas pela pandemia este ano, na tela do computador. Só ontem, ao menos 20 propostas já estavam rodando no sistema Broto. “Será um indutor do novo comportamento que esperamos dos produtores”, afirmou Rabelo.
Cerca de 90% dos R$ 103 bilhões anunciados são de recursos controlados, R$ 40 bilhões contam com subvenção do Tesouro para equalização de juros, contra R$ 32 bilhões na safra passada.
O BB também confirmou R$ 2.5 bilhões em recursos próprios para atender o Moderfrota (linha para a aquisição de máquinas agrícolas) nas mesmas condições dos financiamentos equalizados. Serão R$ 12.8 bilhões de recursos livres com taxas de 6% a 10,50% no custeio e entre 8% e 9% nos investimentos.
Antônio Chiarello, diretor de Agronegócios do BB, disse que houve aumento na captação de depósitos à vista e de poupança rural entre julho de 2019 e junho deste ano, o que ajudou a engordar também o caixa dos recursos obrigatórios, que não têm equalização. As taxas de exigibilidade, no entanto, vão cair: de 30% para 27,50% nos depósitos à vista e de 60% para 59% na poupança.
A meta mais ousada do BB é ampliar os financiamentos com títulos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e CPRs. Para isso, vai incentivar e simplificar as operações com esses títulos.
A avaliação é que existe potencial para suprir a demanda do setor por empréstimos, que cresce em ritmo muito mais veloz que a oferta de crédito oficial, com essas fontes. Foi o que aconteceu com as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que já são a segunda principal matriz de recursos da instituição.
Atualmente, o volume registrado de CRA e CDCA está próximo de R$ 50 bilhões, mas na safra 2019/20 a emissão ainda foi tímida no BB, perto de R$ 1 bilhão. Parte do plano para incrementar essas fontes será o lançamento do CRA-BB. As primeiras operações, contou Rabelo, serão com “títulos verdes” para operações do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).
O que não deve contentar o setor produtivo é a redução apenas tímida nos Custos Administrativos e Tributários (CAT), o chamado spread bancário. O Valor apurou que haverá recuo no custeio de grandes (de 6,40% para 6%) e médios produtores (de 6,50% para 6,10%), e, em uma linha com R$ 700 milhões para comercialização, a baixa será de 6,40% para 6%.
O Pronaf, para pequenos produtores, continuará com a maior alíquota (6,75%). As definições serão publicadas pela Secretaria do Tesouro.
João Rabelo afirmou que houve aumento do custo tributário nesta safra, com incidência do Cofins, e que as simplificações esperadas na parte administrativa ainda não estão expressas nas normas do Banco Central.
Fonte: Valor Econômico