Embarques de soja do Brasil devem desacelerar a partir de julho, após recorde de volume até maio

Com quase 50 milhões de toneladas de soja já embarcadas no acumulado de 2020, o Brasil deverá ver seus embarques começando a desacelerar a partir de julho. Segundo o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a oferta brasileira está agora bastante limitada e o produtor que ainda possui volumes para vender tende a se retrair um pouco mais.

“Quem tem soja neste momento a mantém como uma reserva de capital”, disse Brandalizze. “Há pouco mais de 15% para se negociar e o produtor não precisa e não quer correr pra vender agora”.

Para o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira, o Brasil tem capacidade para embarcar no presente ano comercial, que termina em 31 de janeiro de 2021, 84 milhões de toneladas de soja. “E não me surpreenderá se este volume for de 3% a 5% superior”, disse.

Afinal, já são 59 milhões de toneladas comprometidas com a exportação, ou seja, grão já embarcado, em fila de embarque ou programado para chegar, o que representa um aumento para o período de 44% em relação a 2019 e de 23% se comparado a 2018, ano recorde, segundo Pereira.

Mais do que isso, o diretor da ARC complementa sua análise, trazendo ainda as confusas relações entre China e Estados Unidos que, nesta semana, passam por um novo momento de escalada nas tensões. E assim o Brasil pode se beneficiar ainda mais desse distanciamento.

“Entretanto, cabe o alerta aos nossos representantes para cativar este laço político entre Brasil e Ásia, deixando-o sólido para a manutenção do forte fluxo comercial que o agro brasileiro presencia e continuará presenciando até o fim de 2020”, disse o executivo.

A imagem abaixo, da Refinitiv, registra o fluxo global de navios carregados com soja, onde é possível perceber que o Brasil segue enviando soja para o mundo todo. As informações datam de 1º de janeiro e mostram navios saindo do porto de Santarém com destinos como Holanda, e México, por exemplo, além do intenso movimento de cargueiros para a China.

No gráfico abaixo, da Secretaria de Comércio Exterior é possível ver que, de abril a janeiro, a China respondeu por 73% da soja exportada pelo Brasil. Na sequência, o principal destino é a Holanda, mas com apenas 3,70%.

Ainda segundo Brandalizze, 2020 foi o ano em que tudo aconteceu mais rápido e mais cedo no complexo soja do Brasil, diante de todas os momentos que vieram como grandes oportunidades para o produtor brasileiro. Assim, espera-se um segundo semestre onde a oferta será, de fato, mais limitada. A entressafra pode também chegar mais cedo ao País, e promover algum descolamento dos preços no mercado interno.

No entanto, Brandalizze e Pereira não acreditam que venha a ocorrer uma falta de soja no mercado brasileiro. Ambos afirmaram que a demanda interna um pouco mais lenta, sentindo os inevitáveis impactos da pandemia do novo Coronavírus, deverá trazer certo equilíbrio ao mercado.

O esmagamento brasileiro de soja deverá diminuir em função de uma demanda menor do setor do biodiesel, por conta da drástica queda no consumo de combustíveis. Da mesma forma, a demanda por farelo de soja também está equilibrada por conta de um menor consumo de proteínas internamente, o que vem sendo compensado pelas exportações fortes.

“A tendência é de que em novembro a indústria já comece a parar de esmagar, um pouco mais cedo por conta dessa situação. A força da exportação vai compensar uma demanda interna mais frágil. No Brasil, os impactos da pandemia no setor econômico, com o desemprego, serão sentidos de forma mais intensa a partir deste segundo semestre”, estimam os analistas.

 

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