A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, garantiu ontem que o Brasil não corre o risco de desabastecimento de alimentos por causa da pandemia do novo Coronavírus. Segundo ela, a autossuficiência na produção de quase tudo o que é consumido no País, com raras exceções, como o trigo, e a normalização do funcionamento das empresas da cadeia do agronegócio comprovam essa segurança.
Em entrevista ao Valor, Tereza Cristina afirmou que, apesar da “anormalidade” vivida em consequência da quarentena e das dificuldades enfrentadas por alguns segmentos ligados ao campo, o fornecimento de comida para a população brasileira continua “o mais normal possível”.
Reconhecida pela habilidade na articulação política e na solução de crises em Brasília, Tereza Cristina precisou agir para rebater boatos e notícias falsas sobre riscos no abastecimento alimentar do País disseminadas nas redes sociais, inclusive pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. “Passei a ele as informações corretas que eu recebi, que as Centrais de Abastecimento (Ceasas) estão abertas e está tudo funcionando”.
A ministra reforçou, no entanto, a preocupação com a circulação dos produtos. “Falar de risco zero (de desabastecimento) é difícil, mas acho que são coisas pontuais. A produção está trabalhando no pico. O que pode faltar é o fluxo, mas temos trabalhado muito nisso”, disse.
O foco no momento é garantir infraestrutura e condições de trabalho aos caminhoneiros para viabilizar o transporte de insumos e o escoamento da produção. Segundo Tereza Cristina, “o fluxo normal evita ‘tumultos’ na sociedade”.
“Temos trabalhado transversalmente com o ministro Tarcísio (Gomes de Freitas, da Infraestrutura) para que o transporte aconteça da melhor maneira possível e os caminhoneiros tenham lugares essenciais e vitais para ter banho, comida, borracharia e auto peças para poderem trabalhar”, afirmou a ministra.
Ela disse também que, do ponto de vista logístico, o funcionamento das empresas da cadeia do agronegócio voltou ao normal após intervenção da Pasta junto a prefeituras de todo o país para harmonizar ações. “Os relatos de dificuldades de produtores e empresários, inclusive para a circulação de mercadorias, comuns no início da crise, diminuíram muito nos últimos dias”.
O que ainda não voltou ao normal é o fluxo de caixa dos pequenos produtores de hortaliças, frutas, flores e leite, afetados por interrupções na comercialização dos produtos. Ainda sem respostas do Ministério da Economia, a ministra espera anunciar “várias medidas” de apoio essa semana.
Ela negou que os agricultores estejam sendo preteridos pela equipe econômica. “O problema é tempo. Eles estão com uma demanda enorme e precisam liberar. Não tem nada contra o agro, não vamos enxergar fantasma onde não existe”, disse.
“O governo não assina um cheque e põe na conta das pessoas. Tem responsabilidade fiscal, tem burocracia, tem lei, tem portaria”. A Pasta aguarda a definição de data para uma reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão que aprova as propostas.
O problema da estiagem no Rio Grande do Sul estaria “equacionado”, segundo a ministra, restando apenas autorizações legais para as medidas de socorro aos produtores. Para as dívidas fora dos bancos, que giram em torno de R$ 7 bilhões, segundo o senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), o martelo pode ser batido até a semana que vem junto ao BNDES.
Fonte: Valor Econômico