A queda na demanda por serviço de transporte de carga passou a ser uma nova fonte de preocupação para os caminhoneiros. Com empresas paralisadas ou operando num ritmo mais lento, há menos contratação e também dificuldade em encontrar carga para a viagem de retorno.
“Um caminhão sai do Rio Grande do Sul e traz arroz para São Paulo”, exemplificou Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava). “Ele fica esperando carga para voltar”, afirmou.
Esse carregamento, porém, tem se tornado mais difícil de obter. Com isso, os elos que formam o sistema de transporte vão se desfazendo. “Pode gerar desabastecimento”, disse Chorão.
“Além disso, eles enfrentam a descapitalização. Muitos já estão com seus caminhões parados”, afirmou Nelson Júnior, delegado do Sindicato do Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) do Rio de Janeiro. “E formamos uma corrente, na qual um depende do outro”. A falta de recursos se reflete na cadeia.
No entanto, Júnior avalia que não há ameaça ao abastecimento. “Enquanto tiver estrutura nas estradas para nós, caminhoneiros, estaremos operando”, afirmou. “Nossas famílias e a população em geral dependem de nós, e não queremos causar um caos maior do que o que estamos vivendo.”
Júnior relatou ainda que muitas empresas do eixo Rio-São Paulo estão paradas e sem receber mercadorias. “As grandes metalúrgicas ainda continuam operando, porém os varejistas estão fechados.”
Em São Paulo, a queda na procura por serviços de transporte é de aproximadamente 30%, informou Norival da Silva, o “Preto”, presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral (Fetrabens).
A ajuda de R$ 600,00 que será paga pelo governo aos trabalhadores autônomos foi cobrada pelo presidente do Sinditac de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer.
“Cada um precisa fazer sua parte”, disse ele, num vídeo distribuído nos grupos de WhatsApp em que anunciava a distribuição de marmitas aos caminhoneiros num entroncamento onde passam mercadorias vindas de outros países do Mercosul. Litti informou que, na sua região, não houve baixa na procura por serviços de transporte.
A queda na demanda se soma a outro problema que já estava em discussão: a falta de serviços de apoio, como restaurantes e oficinas. A Abrava ingressou com mandado de segurança contra o decreto do governo paulista que fecha restaurantes.
O Ministério da Infraestrutura avalia que a falta de serviços ocorre pontualmente. O aplicativo InfraBR passou a mostrar onde há postos, oficinas e restaurantes abertos. Mostra também onde são distribuídos kits de alimentação e higiene.
Valor Econômico