Organizações se mobilizam contra barreiras às exportações e escassez de alimentos

Entidades internacionais recomendam cautela para “minimizar possíveis impactos no suprimento de alimentos ou consequências não intencionais no comércio e na segurança alimentar globais”. Foto: Pixabay

Para evitar entraves no comércio internacional e contornar o problema de compras de alimentos motivadas pelo medo da escassez, dirigentes da Organização Mundial do Comércio (OMC), da agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgaram um comunicado orientando os países sobre os procedimentos a serem adotados durante a pandemia do Coronavírus. Com isso, tentam impedir que setores como o de exportações e de segurança alimentar sejam gravemente afetados.

Segundo os chefes das organizações, as incertezas sobre a disponibilidade de alimentos deverá levar a um aumento de barreiras às vendas e criar escassez no mercado global, alterando o equilíbrio entre oferta e demanda e promovendo a instabilidade de preços.

No comunicado, Qu Dongyu (FAO), Tedros Adhanom Ghebreyesus (OMS) e Roberto Azevêdo (OMC) ressaltam que o bom desempenho do comércio internacional é fundamental para garantir a segurança alimentar e a sobrevivência de milhões de pessoas.

Os dirigentes destacam a necessidade de se adotar medidas para combater a pandemia de Covid-19, mas recomendam aos países cautela para “minimizar possíveis impactos no suprimento de alimentos ou consequências não intencionais no comércio e na segurança alimentar globais”.

Desperdício

Além disso, os chefes das organizações demonstraram preocupação com as possíveis interrupções nas cadeias de distribuição, afirmando que tais ocorrências podem resultar no desperdício de alimentos, uma vez que haverá atrasos na entrega de produtos perecíveis.

Nesse sentido, os dirigentes recomendam aos países que evitem o anúncio de medidas que, apesar da intenção de proteger a saúde dos cidadãos, poderão afetar o abastecimento.

As organizações destacam ainda que, mesmo diante do estado de confinamento da população, o comércio precisa funcionar sem muitas restrições, inclusive para evitar a escassez de alimentos. “Temos de impedir a repetição de tais medidas prejudiciais”, alertam a FAO, OMS e OMS, fazendo referência a crises anteriores.

Os dirigentes também pedem transparência em medidas comerciais relacionadas a alimentos, níveis de produção, consumo, estoques de alimentos e preços, com o objetivo de reduzir incertezas, promover a boa informação e evitar reações de pânico e compras acumulativas de produtos essenciais.

Cenário mundial

No contexto global, países como Rússia, Ucrânia, Cazaquistão e Vietnã começaram a restringir as exportações de produtos agropecuários. Na Europa, o aumento do bloqueio nas fronteiras impediu o trabalho temporário de milhares de estrangeiros nas colheitas, fazendo com que os países dependam agora da ação de voluntários.

No Brasil, o coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), Roberto Rodrigues, manifestou, em vídeo, sua preocupação com a decisão das autoridades em fechar as divisas de municípios para combater a disseminação do Coronavírus.

“Fecha um município e não pode mais entrar nada, nem caminhão, nem ônibus. Como é que vamos realizar a distribuição dos produtos agrícolas? O produtor rural está colhendo, trabalhando de sol a sol com vírus ou sem vírus para abastecer, alimentar, gerar energia e fibras para a população do mundo todo”, disse o ex-ministro da Agricultura. “Se isso não for compreendido, não vamos a lugar nenhum”.

Esta semana, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma liminar para suspender atos de governadores e prefeitos que determinam o bloqueio de rodovias ou paralisação de serviços de transporte.

Rodrigues destacou que o que determina a atividade agropecuária é a natureza e que as autoridades e a sociedade precisam compreender essa questão. Segundo ele, a batalha contra o Coronavírus só pode ser vencida “de forma estratégica”.

“É necessário considerar todos esses fatos, de que a base deve ser a alimentação de todos e que todas as demais cadeias também precisam funcionar. Os empregos estão ligados a este processo, direta ou indiretamente”, afirmou o ex–ministro. “Essa compreensão é essencial, entender que a agropecuária é a base da nossa sobrevivência”.

 

Fontes: Valor Econômico e Broadcast Agro/Agência Estado

Equipe SNA

 

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