O transporte de grãos por caminhões no Brasil se mantém forte. “O País escoa uma safra recorde de soja, apesar de alguns desafios impostos pelo Coronavírus, como o fechamento de restaurantes e borracharias nas estradas, o que atrapalha a vida dos caminhoneiros”, disse o co-presidente executivo da Sotran Logística, Charlie Conner.
A companhia, líder na contratação de transporte rodoviário de cargas de grãos no Brasil, com expectativa de transportar mais de 16 milhões de toneladas em 2020, informou que neste momento em que o câmbio está perto de máximas históricas, favorecendo os preços em reais da soja, os “clientes querem limpar os silos”.
“Diferente do resto da economia, o que está acontecendo no agronegócio é que está bombando. O Coronavírus pegou em momento de pico de safra, de safra recorde, volumes muito altos, e o câmbio continuou subindo”, afirmou Conner, observando que o transporte de soja para os portos não parou.
“A demanda da companhia para março está 30% acima da do ano passado, e abril deve ser 40% acima do ano passado. Está rodando ao máximo”, disse o executivo, lembrando que esses percentuais da empresa se devem muito mais aos investimentos para ampliar sua plataforma digital de contratação de fretes, por meio do aplicativo TMOV.
Conner admitiu, contudo, que “o campo está rodando, porém, a situação de logística está um pouco vulnerável”, em meio ao avanço do Coronavírus, uma vez que muitos estabelecimentos, como restaurantes nas cidades por onde passam os motoristas estão fechados, em função das medidas para combater a doença.
“É uma preocupação importante. Esses serviços são necessários, e isso impacta muito a vida do cidadão. É ruim ter uma longa jornada e não poder sentar e comer…”, afirmou o executivo, ressaltando que a Sotran está conversando com parceiros para ofertar álcool gel e lanches aos motoristas.
Entre outros efeitos do Coronavírus, Conner disse que alguns motoristas mais idosos, que estão no grupo de risco para doença, deixaram de trabalhar.
Ele afirmou também que algumas empresas de transportes menores, com menos capital de giro, estão enfrentando problemas, uma vez que alguns clientes demoram mais tempo para pagar, impactados pelas medidas contra a doença.
Esses e outros fatores, aliás, estão por trás de uma queda expressiva no volume transportado de cargas gerais no Brasil. É o que mostrou uma pesquisa da associação de empresas de transporte NTC&Logística. O indicador da entidade registrou queda de 26%, ainda que o transporte de soja apresente bem menos problemas que outros setores.
Nesta quinta-feira, a indústria do trigo reportou problemas para a entrega de farinha aos clientes, devido à descoordenação entre ações federais, estaduais e municipais de combate ao Coronavírus, o que tem criado gargalos para o transporte de mercadorias.
Uma reunião do setor com o governo em Brasília deverá discutir o assunto. Enquanto isso, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar normas editadas por estados e municípios que determinaram o fechamento de fronteiras locais como forma de contenção da pandemia do novo Coronavírus.
A Sotran, que conecta em tempo real caminhoneiros e grandes tradings de grãos, avalia ainda que o serviço digital da empresa oferece uma vantagem neste momento em que as pessoas têm evitado o contato social, como medida preventiva à doença.
Reuters