Mato Grosso: crescimento gera desafios

O crescimento exponencial no Estado do Mato Grosso está trazendo problemas para a população dos municípios mato-grossenses impulsionados pelos grãos, além de preocupação para seus gestores. O desafio é saber como planejar a aplicação de recursos em cidades que ganham mais moradores a cada dia, entregar serviços públicos de qualidade e, ao mesmo tempo, evitar a explosão da violência.

Em Sinop, a prefeitura fez parcerias com a igreja católica para usar os centros de catequese como salas de aula para as 2.500 crianças que não teriam vagas imediatas em 2020. Empresas também são incentivadas a cuidar da aparência da cidade, como a jardinagem nas rotatórias das novas avenidas que são abertas.

Mas a principal preocupação é com a saúde, já que a “capital do Nortão” tem uma grande população flutuante em busca de serviços. Segundo a prefeita Rosana Martinelli, é preciso usar 30% das receitas em investimentos na área anualmente.

Em Sorriso, a Prefeitura criou conselhos e grupos integrados com entidades do setor privado para atuar na segurança pública. A cidade concentra grande força estatal e abriga uma unidade da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), com apoio de helicóptero para o combate ao crime.

A população cobra a manutenção do status de cidade segura. Crimes “menores” ganham atenção imediata do poder público para não sair do controle. “O principal fator de desenvolvimento de Sorriso é a segurança. Empresários procuram local seguro para as empresas e os familiares”, disse o prefeito Ari Lafin.

Leonardo Ramos, comandante da Polícia Rodoviária Federal da região, disse que, “apesar das ocorrências que fazem parte da vivência”, se sente tranquilo em morar na cidade. Mas o delegado André Ribeiro lembra que o número de roubos aumentou.

O setor agropecuário também se preocupa. No ano passado, foi criada a campanha Sigilo Total para oferecer recompensa por informações sobre roubos e furtos nas fazendas. O presidente do Sindicato Rural, Tiago Stefanello, disse que as ocorrências diminuíram “drasticamente”.

Os produtores doaram mais de R$ 200.000,00 para a polícia comprar equipamentos em 2019. Em parceria com o Ciopaer, 83 fazendas foram visitadas para palestras sobre como prevenir os crimes nas áreas rurais.

Na cidade, o comércio se equipa com seguranças particulares e câmeras, para coibir a ação dos criminosos, segundo o presidente da Aces, Nilson Alencar. “No geral, são furtos e roubos a mão armada que impactam o setor”.

Produtores e entidades comerciais também se unem para investir em infraestrutura e saúde. Doações ajudam a financiar a construção de pontes e estradas e até a compra dos equipamentos do aeroporto municipal.

O dinheiro também ajudou a tirar do papel o Hospital 13 de Maio, o principal de Sorriso, e vai colaborar para a instalação de uma unidade do conhecido Hospital do Câncer de Barretos. Moradores e empresários também reclamam do custo nessas cidades e da falta de opções de lazer e entretenimento.

A atenção com o ambiente também cresceu. Em Lucas do Rio Verde, o trabalho é para garantir a sustentabilidade do setor, colocada em cheque com as denúncias de queimadas e desmatamentos na Amazônia. A prefeitura criou um projeto de reflorestamento das áreas de proteção permanente (APP) nas fazendas e não quis esperar o processo baseado no Código Florestal.

Modernização e verticalização da produção

A boa fase dos grandes polos agrícolas do médio norte de Mato Grosso atrai agroindústrias para uma “nova era” de modernização e verticalização da produção local, puxada pelo fortalecimento do mercado do milho, novas alternativas para a soja, apostas em culturas menores e resultados promissores na criação de peixes, aves e suínos.

A FS Bioenergia, primeira indústria de etanol exclusivamente de milho do Brasil, se instalou, primeiramente em Lucas do Rio Verde e agora em Sorriso, onde iniciou operações recentemente. Quando estiver em pleno funcionamento, deverá ser a maior usina de bioenergia do mundo.

Nas duas plantas, foram R$ 3 bilhões investidos e a expectativa é chegar a 1.4 bilhão de litros de etanol por ano nas duas unidades, com processamento de três milhões de toneladas do cereal.

Ao menos duas indústrias menores também estão em operação, e uma cooperativa de produtores de Sorriso planeja instalar uma esmagadora própria do cereal para produção do biocombustível. “Filhos e netos dos pioneiros estão começando a nova modernização da agricultura, agregando valor”, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de Sorriso, Cláudio Drusina.

Em Sinop, a Inpasa, concorrente no mercado do biocombustível à base de milho, gera mais de 500 empregos diretos. Uma estatal da China já adquiriu terrenos e vai iniciar investimentos de US$ 10 bilhões em um parque de tecnologia para o agronegócio nos próximos anos.

A fabricante alemã de máquinas Fendt escolheu Sorriso para instalar, em setembro, sua primeira concessionária na América Latina, e já vendeu 30 máquinas que custam cerca de US$ 400.000,00 desde então.

“Tem de se tornar mais eficiente”, disse o agricultor Rodrigo Pozzobon, um dos que têm ajudado a aumentar a área destinada à agricultura irrigada na região. Já são 130.000 hectares com pivôs no estado.

Nesse cenário, os pulses são as joias do momento, puxadas pelo feijão. Culturas como gergelim, chia e amendoim começam diversificar o cenário das lavouras e a atrair o interesse do produtor médio de Mato Grosso, com propriedades de 2.000 a 3.000 hectares.

Também vale lembrar que a Caramuru, maior processadora de soja convencional do País, está investindo R$ 115 milhões para construir a primeira fábrica do mundo de etanol de soja. Será o nono produto gerado a partir do esmagamento do grão da unidade em Sorriso, responsável por 18% do faturamento de R$ 4.2 bilhões da empresa em 2019.

Os bons resultados desta safra também devem se refletir nos investimentos que os produtores vão fazer no Show Safra BR 163, promovido pela Fundação Rio Verde nesta semana. A estimativa era de 80.000 a 90.000 visitantes e R$ 1.5 bilhão em negócios, mas o agravamento da situação do Coronavírus deverá frustrar as expectativas.

 

Valor Econômico

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