A China planeja voltar às compras de produtos agrícolas norte-americanos a partir do começo de março, segundo fontes ouvidas pela agência internacional de notícias Bloomberg. A fase 1 do acordo comercial entre chineses e americanos, afinal, entrou em vigor no último sábado, 15 de fevereiro, e o mercado agora espera pelos próximos movimentos da nação asiática.
Ainda segundo os profissionais consultados pela Bloomberg, o governo chinês estuda e cria uma estratégia sobre quais commodities poderia comprar no final de fevereiro e no início de março. No texto está previsto que a China irá aumentar suas compras de produtos agrícolas dos EUA para US$ 32 bilhões nos próximos dois anos.
Paralelamente, o mercado especula ainda sobre os impactos da epidemia de Coronavírus que assola a China, nesta ocasião para o cumprimento do acordo com os Estados Unidos. A logística e a mobilidade estão bastante comprometidas, há muitas pessoas, e, portanto, muitos profissionais, ainda ‘presos’ em casa, e essa incerteza sobre quando isso vai começar a mudar mantém os mercados também bastante incertos.
Segundo especialistas, o atual momento já afetou a demanda pelos principais produtos, de carne a metais, na nação asiática. E este primeiro trimestre do ano deverá contabilizar os impactos mais severos, quando algumas etapas entre as compras, o consumo e a distribuição podem se atrasar e comprometer a efetivação de novos negócios.
Atualmente, há mais de 10% da população do país com restrições do governo em relação a deslocamentos e à frequência com que podem sair de casa. São mais de 760 milhões de pessoas ‘presas’, sem consumir da mesma maneira que consumiam em dias “normais”.
O controle efetivo da disseminação do vírus ainda não foi encontrado e, nesta terça-feira, um dos diretores de um hospital em Wuhan, cidade onde o quadro é mais grave, morreu aos 51 anos, ao contrair o Coronavírus.
O HSBC, um dos bancos mais importantes de Hong Kong, planeja cortar cerca de 35.000 empregos nos próximos três anos, caso a situação ainda continue se agravando.
Os impactos econômicos da epidemia podem ser extensos, segundo especialistas, e as preocupações entre empresas, instituições financeiras e, claro, no governo, são crescentes. O próprio banco já revisou para baixo todas as suas estimativas de crescimento para toda Ásia, ao menos até que a epidemia do Coronavírus seja contida.
A Apple, nesta segunda-feira, já reduziu também suas estimativas de vendas para o ano diante do grave surto. Além disso, em seu comunicado, disse ainda que depende muito de suas fábricas na China e que por isso, sua produção e estoques também já foram comprometidos.
Informações apuradas pela Reuters já dão conta de que o consumo de alimentos em lojas, restaurantes e supermercados está limitado e já provoca algum atraso da descarga de alguns produtos importados nos portos chineses. “Houve interrupções nos portos. Isso comprometeu envios e recebimentos”, disse à agência o executivo da Tyson Foods, Noel White.
A epidemia do Coronavírus acabou frustrando, pelo menos em parte e neste momento de crise ainda aguda, as expectativas de um aumento das importações, principalmente, de carnes.
Por outro lado, conhecendo a força de sua demanda e tendo como segurança alimentar um de seus primeiros princípios, o governo chinês já suspendeu a proibição de importações da carne de frango dos EUA e já havia retirado a restrição da carne bovina norte-americana em novembro.
“Depois que superarmos a epidemia do Coronavírus, quando quer que isso aconteça, acho que haverá uma demanda muito forte”, disse o representante da Tyson.
Soja
A demanda da China por soja segue ativa e, segundo os analistas e consultores do mercado, ainda concentrada no Brasil, apesar de algumas compras acontecerem nos EUA. O país precisa continuar o ritmo de seu abastecimento e garantindo, principalmente, a produção de alimento para seus planteis. Além disso, as indústrias contam ainda com boas margens de processamento, o que também incentiva as aquisições de matéria-prima.
“As esmagadoras chinesas estão comprando soja do Brasil e do PNW dos EUA, devido às boas margens de esmagamento. E o farelo de soja também está em negociação ativa, o que significa que as indústrias continuarão a aumentar o esmagamento de soja para quase 1.80 milhão de toneladas nas duas próximas semanas”, informou o portal chinês Cofeed.
Seus especialistas, porém, também afirmam que o mercado pode não exibir todo o seu potencial enquanto a epidemia do Coronavírus não for efetivamente controlada.
No último sábado, o Ministério da Agricultura, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China e o Ministério dos Transportes emitiram um aviso de emergência determinando que se acelere a retomada dos trabalhos e da produção nas indústrias de ração e abate e processamento de animais, e que haja garantia da logística adequada e de transporte de emergência para soja e demais insumos destinados à produção de alimentação animal.
Agora, o mercado espera para saber onde a China fará suas próximas compras de soja. “Passado um mês de firmado o acordo, espera-se que os chineses comecem a agradar os americanos com algumas compras. Por enquanto, nada confirmado, mas com grandes expectativas de que a China venha para comprar algo nos EUA e trazer uma tendência positiva para a Bolsa de Chicago”, disse Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Enquanto isso, o Brasil já embarcou 1.228.100 toneladas de soja somente nas duas primeiras semanas de fevereiro, segundo os últimos números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). “O ritmo está crescente e os embarques vão aumentar de agora em diante. Os negócios tem fluído em ritmo melhor e com o apoio do dólar”, afirmou Brandalizze.
Em todo o ano, os embarques de soja do Brasil já totalizam 3.4 milhões de toneladas. “O ritmo é menor do que no ano passado porque não tínhamos muita soja para exportar e ainda pouco na primeira semana de fevereiro, e os volumes maiores começam a chegar agora”, disse o consultor. Segundo ele, deste total, 70% são destinados à China, contra 75% do mesmo período do ano anterior.
O País já tem 55 milhões de toneladas da safra já comercializadas e desse total, segundo o consultor, 35 milhões de toneladas terão como destino a nação asiática.
Frango
Para o frango brasileiro, os impactos da vigência do acordo comercial entre China e EUA também já são sentidos. Segundo Dilvo Grolli, presidente da Coopavel (Cooperativa Agroindustrial de Cascavel), o produto brasileiro registra desvalorização de 15% desde novembro.
A queda, no entanto, foi compensada pela alta acumulada do dólar em 2020, hoje em cerca de 7%. Assim, a redução real do preço do frango brasileiro acaba ficando em 8%, segundo Grolli.
A tendência de agora em diante é de que, aos poucos, os indicativos voltem à normalidade. Porém, o presidente da Coopavel acredita ainda que, com a remoção de embargo da China para o frango americano, há possibilidade de redução dos volumes exportados pelo Brasil.
“Acredito que tudo que tinha de ser precificado em relação a essa crise sanitária internacional e desse acordo comercial, já foi. Agora os preços devem se estabilizar”, disse Grolli, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Suíno
Para o mercado brasileiro de suínos, não só a demanda chinesa pela carne nacional importa, como também a vinda de produtos de uso veterinário que são importados da nação asiática.
“Alguns itens provenientes da China registraram redução na oferta, não contemplando a nossa demanda. Isso nos preocupa, principalmente com alguns produtos da família da lisina, triolina, metionina”, afirmou Valdomiro Ferreira, presidente da APCS (Associação Paulista de Criadores de Suínos).
Tarifas
Também como forma de auxiliar no cumprimento do acordo com os EUA, a China irá conceder uma isenção de tarifas sobre 696 produtos norte-americanos. Na lista estão inclusos soja, carne bovina, carne suína, milho, trigo, petróleo e gás natural, entre outros.
Notícias Agrícolas, com informações da Bloomberg, Reuters, The New York Times.