A falta de especificações a respeito da importação de farelo de soja americano pelos chineses no acordo de primeira fase entre China e Estados Unidos, assinado na última quarta-feira, preocupa os representantes da indústria processadora do grão no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o acordo indica que os dois países continuarão a consulta técnica em áreas como grãos, oleaginosas, ração e processamento. “Não ficou definido o quanto os EUA terão de acesso diferenciado a óleo, farelo e carnes e é importante que essa definição não seja feita em detrimento do Brasil”, disse Daniel Amaral, economista-chefe da Abiove.
Ele explica que os chineses não importam farelo brasileiro, somente grão e óleo para produzir a ração. Contudo, a necessidade de ajustes na produção local após a epidemia de Peste Suína Africana tende a mudar esse cenário e abrir as portas para que EUA e Brasil disputem esse mercado.
A Abiove mantém a expectativa feita em dezembro de uma produção doméstica de farelo de 33.5 milhões de toneladas em 2020, 1.1 milhão ou 3,40% a mais que o volume estimado para este ano. As exportações deverão cair de 15.8 milhões estimados em 2019 para 15.3 milhões de toneladas neste ano.
“Hoje temos uma capacidade ociosa anual de 20 milhões de toneladas de soja que poderiam ser transformadas em 16 milhões de toneladas de farelo”, estima Amaral.
No caso da soja em grãos, o economista-chefe da Abiove acredita que é natural que, no ano que vem, os Estados Unidos recuperarão parte das exportações para o mercado chinês que perderam com a guerra comercial, iniciada no segundo semestre de 2018.
“Só com o fato de as sanções serem menores os americanos já conseguem recuperar parte desse espaço.” Ele acrescenta que os americanos podem produzir 20 milhões de toneladas a mais na próxima safra (2020/21), que será plantada entre abril e maio começa oficialmente em agosto. Na atual temporada, a produção americana sofreu com o clima adverso, o que reduziu o volume colhido na comparação com a safra anterior.
No Brasil, a Abiove estima que a colheita de soja alcançará 122.8 milhões de toneladas nesta safra 2019/20, 4,20% acima de 2018/19. Segundo a associação, as exportações brasileiras da oleaginosa deverão crescer 4% (3 milhões de toneladas) neste ano em relação ao volume estimado para 2019, para 75 milhões de toneladas.
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