Mais um ano de crescimento da venda de adubos

Em linha com uma tendência de aumento que parece não ter fim, as vendas de fertilizantes voltarão a crescer no Brasil em 2019, impulsionadas pelo avanço do plantio de soja, milho e algodão. Segundo analistas e empresas do ramo, a alta em relação ao ano passado, quando a demanda alcançou 35.5 milhões de toneladas, deverá ficar entre 2% e 5%, o que poderá levar o volume total a superar 37 milhões de toneladas.

Segundo os dados mais recentes divulgados pela Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), de janeiro a julho as entregas das misturadoras (fabricantes dos produtos finais) às revendas espalhadas pelo país somaram 17.7 milhões de toneladas, 5,30% mais que no mesmo período do ano passado. Estimativas indicam, contudo, uma leve desaceleração das vendas nos últimos meses.

“Parte do aumento expressivo apontado pela Anda no primeiro semestre, quando as entregas cresceram 7%, refletiu uma recuperação de mercado após o caos logístico provocado pela greve dos caminhoneiros em maio do ano passado. Mas, no ano, o crescimento deverá ficar em 2%”, disse Priscila Richetti, gerente sênior de Inteligência de Mercado e Operação de Suprimentos da subsidiária da norueguesa Yara no Brasil. A empresa lidera as vendas no país, com participação de 25%.

Eduardo Monteiro, diretor de distribuição da filial da americana Mosaic, outra gigante global do ramo, com fatia de 20% no mercado brasileiro, também aposta em 2%. “A boa rentabilidade dos produtores incentiva o maior uso da tecnologia nas lavouras”, disse ele.

Já Marcelo Mello, analista da consultoria INTL FCStone, argumentou que o cenário positivo para o milho pode ter aberto espaço para um aumento de investimentos em adubos e impulsionado a taxa de crescimento anual entre 3% a 5%, “o que é bastante”. “O plantio de milho safrinha foi feito na janela ideal e os preços ficaram atrativos”, disse. Segundo a Conab, a colheita da safrinha se recuperou em relação à quebra do ano passado, avançou 37% e atingiu o recorde de 73.8 milhões de toneladas.

Outra cultura com expansão no ano, e que colaborou para puxar as entregas de fertilizantes, foi o algodão, segundo o analista Matheus Almeida, do Rabobank, que estima um aumento das vendas de adubos como um todo no País em 2019 da ordem de 2% a 3,50%.

Na safra 2018/19, a produção da pluma foi calculada pela Conab em 2.7 milhões de toneladas, 35,90% mais que no ciclo anterior. Almeida destacou ainda que as compras para o plantio de soja nesta safra 2019/20 também ganharam ritmo a partir de maio, quando a relação de troca do grão por fertilizantes melhorou.

Na última semana de agosto, pouco antes do início da semeadura da safra 2019/20, o produtor precisava de 15,61 sacas de 60 quilos de soja para comprar uma tonelada de fosfato monoamônico (MAP), 23% menos que no mesmo período de 2018. Em dólar, nos portos brasileiros, o preço do MAP recuou 37% em outubro em relação ao mesmo mês de 2018 e atingiu seu piso em 13 anos. A ureia, carro-chefe dos nitrogenados, caiu 30%, ao passo que o cloreto de potássio recuou 20%, ambos tangenciando mínimas de dois anos.

Embora não tenha contribuído para essa queda de preços, já que registrou forte aumento das vendas até setembro, o Brasil, quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, se beneficiou dela. “Foi um ano especial para os fertilizantes, com quedas atípicas de preços”, disse Mello. Elas são explicadas pela redução no consumo em países como China, Índia e EUA, que lideram, nesta ordem, a demanda global.

Nos EUA, segundo Mello, a frustração se deu em dois momentos marcados por excesso de chuvas: na colheita do ciclo 2018/19 e no plantio da temporada 2019/20, o que abarrotou os estoques americanos. Na China, pesou sobre a demanda a política do governo de promover “crescimento zero” no uso de fertilizantes minerais. Já na Índia, Priscila Richetti, da Yara, esclareceu que a demanda esperada nos leilões estatais ficou aquém do esperado.

Mas a queda de preços, desencadeada no exterior, deve ser sentida no bolso do produtor brasileiro somente no ano que vem. Almeida, do Rabobank, estima que as despesas com fertilizantes na safra 2019/20 tenham aumentado 15% para quem produz soja, cultura que lidera a demanda nacional e cujo plantio está em alta, e 10% para os produtores de milho. Assim, as despesas passarão a representar 32% e 31%, respectivamente, dos custos totais “dentro da porteira”. Já em 2020/21, disse o analista, poderá haver uma redução de até 15% no caso das duas culturas.

Para o próximo ano, Mello, da INTL FCStone, espera uma recuperação dos preços dos fosfatados e dos nitrogenados, que poderá gerar altas de 10% em um mês”. “De olho nisso, muitos produtores estão discutindo fechar suas aquisições para a safra de verão de 2020/21”, disse.

O movimento também é percebido pela Mosaic. “Para as entregas de 2020, estamos vendo um grande estímulo de compras antecipadas. Produtores capitalizados estão aproveitando o bom momento da relação de troca e garantindo margem na soja que será semeada em setembro do ano que vem”, afirmou Eduardo Monteiro.

No caso do potássio, a pressão deverá continuar até que a China negocie seus contratos anuais, que funcionam como uma referência para o mercado. Para a consultoria Stifel, a queda de estoques no País poderá acelerar as negociações.

 

Valor Econômico

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