Quebra de safra nos EUA favorece arroz brasileiro

A colheita de arroz deverá ser 16% menor nos Estados Unidos nesta safra 2019/20, em função do atraso no plantio gerado por problemas climáticos. Como consequência, a expectativa para a exportação do País, que inicialmente superava 3.5 milhões de toneladas, também caiu, para três milhões.

Esse cenário negativo para os americanos, aliado à valorização do dólar em relação a outras moedas, abre espaço para que a cadeia produtiva no Brasil, que tem pouca tradição no comércio internacional do cereal, conquiste mercados e, em alguns casos, alcance margens de lucro ao menos um pouco melhores.

Segundo especialistas, o movimento não será capaz de alterar a balança comercial brasileira de forma significativa nem de salvar as contas dos rizicultores, que sofrem com queda na rentabilidade há três temporadas e pressionam o governo pela renegociação de suas dívidas. Mas poderá ampliar a participação do produto nacional em mercados importantes que compram no exterior arroz industrializado e Premium. Ou, no mínimo, servir como um cartão de visitas.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Sindicato das Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul (Sindiarroz-RS), as exportações brasileiras somaram 761.500 toneladas nos sete primeiros meses da atual safra internacional, que começou em março. Mesmo 18% inferior ao mesmo período do ciclo passado, o volume ainda foi mais de duas vezes superior à média histórica.

“No ano passado, tivemos um período de aumento dos embarques muito atípico, porque os EUA pararam de exportar para a Venezuela e o país vizinho passou a fazer triangulação com Brasil e China (comprava arroz brasileiro e pagava às tradings com petróleo, posteriormente enviado à China). Mas agora a Venezuela está enfrentando problemas para viabilizar a contratação de frete e manter a triangulação”, disse um corretor que preferiu não se identificar.

A questão, agora, é que a quebra da safra americana tem permitido que o Brasil envie arroz em casca para grandes compradores como Peru e Irã, que nunca haviam comprado o produto brasileiro. Mais que isso: o país tem ampliado as vendas do arroz beneficiado, de boa qualidade, para Peru, Iraque, Venezuela, Arábia Saudita e mesmo aos EUA.

“A safra americana 2019/20 será pelo menos 1.7 milhão de toneladas menor, e eles não terão arroz disponível para comercializar até julho de 2020. Ou seja, haverá espaço para o arroz brasileiro em mercados normalmente dominados pelos americanos”, disse Gabriel Viena, analista da consultoria Safras & Mercado.

Também como questão positiva para arrozeiros e indústrias brasileiras, agências internacionais divulgaram que o México suspendeu as importações de arroz do Uruguai no início de setembro, após identificar a presença de larvas e besouros do arroz já adultos. A maior parte das compras mexicanas no exterior vem dos EUA, mas também nesse caso poderá ser uma oportunidade para o Brasil.

“O fato é que o arroz brasileiro tem conquistado o mercado latino e até do Oriente, mais pela qualidade que pelo preço. Mas, quando conheceram nosso produto, esses países viram que é melhor que o de outras regiões”, disse Mario Pegorer, diretor de Assuntos Internacionais da Associação Brasileira da Indústrias de Arroz (Abiarroz). Segundo ele, o fato de os Estados Unidos usarem sementes híbridas de arroz aumenta a produtividade das lavouras, mas prejudica a qualidade e os cereais ficam mais quebrados e manchados.

“Fazemos arroz para o nosso consumo. Eles (os EUA) não, assim como nossos concorrentes da América do Sul – Argentina e Uruguai – que não comem o produto. Sabemos o que é bom”, afirmou Pegorer. Viena, da Safras & Mercado, disse também que os vizinhos do Brasil tiveram aumentos dos custos nesta safra, o que também melhora as oportunidades para o Brasil.

Mas nem tudo são flores para os arrozeiros. O mercado interno permanece estável e os preços não sobem, mesmo na entressafra. Segundo nota do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a indústria tem esperado o vencimento do custeio dos produtores para que estes, pressionados, aceitem preços menores.

O indicador de preços Esalq/Senar-RS subiu 0,70% nos primeiros oito dias de outubro, para R$ 45,62 a saca. Apesar da alta, a média é menor que a de outubro de 2018 (R$ 45,68), mesmo que a colheita da safra 2018/19 tenha sido 1.5 milhão de toneladas inferior.

Para 2019/20, a expectativa é de que a safra gaúcha cresça 3,60%, para 7.5 milhões de toneladas, mesmo com a queda de 3,80% na área de plantio. Em todo o País, a colheita deverá permanecer estável em 10.6 milhões de toneladas. Com essa produção “justa” em relação ao consumo e com o avanço da exportação, é provável que as importações também aumentem.

Nesse caso, o maior concorrente dos arrozeiros brasileiros é o Paraguai, cuja produção costuma atender São Paulo, Minas Gerais e parte do Paraná.

Afora isso, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou uma nota oficial informando que os custos de produção vão aumentar nesta safra devido ao câmbio e a elevação dos preços dos insumos. No entanto, nenhuma entidade fez uma prévia desses custos. Em 2018/19, o Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) calculou que tenham ficado em R$ 8.836,96 por hectare, o equivalente a R$ 58,18 por saca.

 

Valor Econômico

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