A retomada das exportações brasileiras de carne bovina in natura aos Estados Unidos poderá ocorrer antes da reabertura do mercado europeu para 20 frigoríficos de carne de frango do País embargados no ano passado por Bruxelas, conforme apurou o Valor. Mas a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que fez ontem sua primeira visita à Organização Mundial do Comércio (OMC), manifestou esperança sobre a derrubada das travas nos dois mercados.
“Com relação às 20 plantas de carne de frango suspensas pela União Europeia, não há mais motivos para isso, porque elas fizeram o dever de casa”, disse a ministra ao Valor. “Quanto aos Estados Unidos, uma missão de vistoria esteve no Brasil e (Washington) prometeu que até o final deste mês teríamos uma resposta”.
No caso da barreira europeia, estima-se que o Brasil esteja perdendo a chance de realizar vendas da ordem de US$ 1 bilhão por ano; já em relação aos EUA, o potencial de embarques seria da ordem de US$ 300 milhões por ano, segundo estimativas da iniciativa privada.
Fontes que acompanham os dois trâmites afirmaram que as perspectivas são diferentes. E parecem mais adiantadas no caso dos EUA, uma vez que o processo para a retomada das exportações brasileiras de carne bovina in natura para aquele mercado já está na mesa do secretário americano da Agricultura, Sonny Perdue, para a decisão final.
O fim dessa sanção foi uma das principais demandas do Brasil durante a visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington, em março.
Já sobre a suspensão do embargo imposto pela UE a 20 frigoríficos brasileiros de carne de frango, no ano passado, após a terceira fase da operação Carne Fraca, o bloco europeu recentemente fez um novo balanço no qual sinaliza que ainda há um caminho a ser percorrido antes que a situação volte a se normalizar.
O relatório, ainda não publicado, reconhece melhoras no sistema sanitário brasileiro com as medidas adotadas para corrigir as deficiências detectadas por Bruxelas. Mas acrescenta que é preciso confirmar que as medidas foram implementadas na íntegra e testadas num tempo suficientemente longo para avaliar sua aplicação na prática.
A autoridade europeia prevê ainda realizar uma auditoria no Brasil para revisar os sistemas de controle oficiais. Além disso, segundo uma fonte que conhece bem os europeus, o contexto atual, com alguns países da UE pouco favoráveis à abertura para carnes brasileiras, sugere prudência.
Também terá prosseguimento a renegociação do acordo para a exportação de milho brasileiro para a China, que nunca decolou como Brasília previa. E há discussões para vendas de farelo de soja e caroço de algodão, com enorme potencial de vendas diante do tamanho do mercado chinês.
Também há uma possibilidade de que, durante a visita de Bolsonaro a Pequim, seja assinado um acordo para facilitar as exportações de melão e pera ao país asiático.
Segundo a ministra da Agricultura, ainda serão positivos os resultados das exportações de soja em grão do Brasil para a China neste ano.
Em 2018 o volume bateu recorde graças às disputas comerciais sino-americanas, mas Tereza Cristina lembrou de que haverá queda, uma vez que a demanda chinesa para a produção de ração destinada a porcos está menor por causa da epidemia de peste suína africana no país.
Na entrevista ao Valor, a ministra destacou ainda a recente abertura da Indonésia para as exportações de carne bovina por parte de dez frigoríficos brasileiros, que deverão alcançar 50.000 toneladas. E disse aguardar para breve o acordo que tornará viável os embarques de boi vivo e melão do Brasil para o Vietnã.
Na OMC, Tereza Cristina se encontrou ontem com o diretor-geral da entidade, Roberto Azevêdo, e participou do Dia Mundial do Algodão. Em seu discurso, reforçou a ambição brasileira de ampliar sua fatia nas exportações mundiais de algodão, dos atuais 10% para 15% no futuro.
Depois de a ministra citar que o Brasil era o terceiro maior exportador mundial, dirigentes da Abrapa (entidade que representa produtores brasileiros), presentes em Genebra, mostraram a ela que dados mais recentes confirmam que o Brasil já superou a Índia e já assumiu o segundo lugar, atrás dos EUA.
“É importante ressaltar o comprometimento do setor produtivo com a sustentabilidade. O Brasil é líder na certificação socioambiental de algodão. Tem mais de 80% da sua produção certificada”, disse Tereza Cristina.
Valor Econômico