Tecnologia, investimentos e logística ganham destaque no Congresso de Agribusiness da SNA

Paulo Alcântara Gomes, reitor da Castelo Branco: falta de mão de obra prejudica o agronegócio

“Ensino, pesquisa, tecnologia e inovação” foi o tema do terceiro painel do 12º Congresso de Agribusiness, no dia 21 de junho. Eduardo Francia Carneiro Campello, chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, destacou o desenvolvimento tecnológico como fator primordial para o avanço agrícola, mencionando as recentes técnicas que promovem melhorias na produtividade, entre elas, um inoculante que está aumentando a produção de feijão no Nordeste, e recursos genéticos que facilitam a adaptação da lavoura em solos ácidos. “Temos um sistema agrícola diversificado”, afirmou.

Se por um lado o desenvolvimento tecnológico é uma realidade, a falta de mão-de-obra constitui-se em um gargalo para o setor do agronegócio. É o que ressaltou Paulo Alcântara Gomes, reitor da Universidade Castelo Branco. Para ele, o problema é resultado de um “ensino médio inadequado, elevados índices de evasão e diminuição do número de escolas rurais”, aliado a outros fatores como “fraca articulação das políticas de expansão do ensino com os arranjos produtivos locais, poucos cursos superiores de tecnologia e estruturas curriculares ultrapassadas”. Diante desse quadro, Paulo Alcântara propôs, como desafios, a reforma do ensino médio, a adoção de novas políticas de expansão, a reforma das práticas pedagógicas, o estímulo à criação de novos cursos superiores de tecnologia, o fortalecimento da educação continuada e o incremento da articulação entre o meio acadêmico e o setor de agronegócios. “É preciso educar para que se utilizem as novas tecnologias” – concluiu.

José Carlos Aguilera, diretor presidente da Brasil Ecodiesel

José Carlos Aguilera, diretor presidente da Brasil Ecodiesel, abriu o quarto painel do dia 21 de junho, e falou sobre o crescimento estrutural do mercado mundial de commodities. “Diversos estudos apresentam o Brasil como fornecedor prioritário desta crescente demanda, nos próximos vinte anos” – disse ele. “O produtor do agronegócio deverá ir ao encontro de novas estratégias financeiras, a fim de proporcionar o capital adequado para os investimentos necessários, tanto em ativo fixo quanto em capital de giro”. Para Aguilera, o mercado de capitais mostra-se uma boa alternativa de financiamento a custos competitivos, porém, exige das empresas agrícolas uma administração profissionalizada e rígidas regras de governança corporativa.

Em seguida, Mauro de Rezende Lopes, coordenador do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), abordou os planos de investimentos para quaisquer níveis de empreendimento, destacando os riscos, visão e complexidade de mercado, exigência de equipe estratégica e necessidade de capital. Além disso, o especialista analisou indicadores financeiros, taxas de retorno e maturação dos investimentos, e traçou um quadro detalhado de riscos, citando fatores como insegurança jurídica, intervenção do governo no mercado, falta de legislação específica sobre compra e arrendamento de terras para nacionais e estrangeiros, riscos de governança, entre outros.

Lopes também destacou assuntos relacionados a condomínios e consórcios agrários, mercado acionário, fundos de investimentos, e explicou como estão operando atualmente as empresas do agronegócio, abordando ainda a rentabilidade das ações e os principais focos no mercado. Além disso, afirmou que os investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, nos últimos cinco anos, atingiram US$ 450 milhões.

Para o coordenador da FGV, grandes projetos agropecuários no Brasil, como a Brasil Ecodiesel, SLC e Grupo Maggi alcançaram êxito porque têm pontos em comum, entre eles, boa gestão físico-financeira (com o cumprimento das regras orçamentárias), prática societária de governança e equilíbrio nas parcerias para compra ou arrendamento de terras.

Celso Casale, vice-presidente da ABIMAQ: "“A produção mundial deverá aumentar 10% nos próximos quatro anos"

No quinto painel, o vice-presidente da ABIMAQ, Celso Casale, fez uma projeção do quadro de produção de alimentos, levando em consideração o período de 2009 até 2050. “A produção mundial deverá aumentar 10% nos próximos quatro anos, para alimentar nove bilhões de pessoas” – declarou Casale.

No caso do Brasil, o vice-presidente anunciou que a produção deverá crescer 40% até 2019, para acompanhar as expectativas da FAO, e que a produção de etanol deverá aumentar 7,5% ao ano, no mesmo período. Por outro lado, Casale frisou que a evasão do campo abriu espaço para o aumento da demanda da mecanização, como forma de enfrentar a escassez de mão-de-obra, afirmando que o impacto da mecanização resulta em melhores condições de trabalho e melhor produtividade. Apesar disso, reconheceu que, no Brasil, o custo do maquinário é 40% superior ao de outros países do primeiro mundo.

No campo dos insumos agrícolas, Clarice Corrêa Peixoto Alves, gerente geral de relações com investidores da Vale Fertilizantes, afirmou que a demanda por fertilizantes tem sido impulsionada pela busca de maior produtividade agrícola. “A aplicação desses produtos aumentou 149% em dez anos”, disse ela. Clarice lembrou ainda que a Vale é o único produtor, no Brasil, de potássio – a matéria-prima para a fabricação de fertilizantes -, e que atualmente o país responde por 13% da demanda mundial dessa substância.

Também participando do quinto painel, Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF), mostrou a forte evolução da economia brasileira nesta última década e seus gargalos mais evidentes, assinalando a importância do Brasil neste cenário internacional de pressão por alimentos, fibras e agroenergia. Ao falar sobre o problema da logística, declarou que as deficiências nessa área retiram cerca de R$ 3,9 bilhões do agronegócio no país.

Daher informou ainda que no próximo dia 31 de outubro de 2011 a população mundial chegará a sete bilhões de habitantes, dos quais quase um bilhão passam fome ou são subnutridos, mostrando a necessidade de aumentar a produção de alimentos.

Para falar sobre seguro rural, Geraldo Mafra, diretor da UBF, traçou um histórico do seguro agrícola no Brasil, e apresentou os instrumentos de minimização de riscos para os produtores rurais, as modalidades de seguro, o atual perfil de mercado, os desafios do setor, além de novos produtos, entre eles, o seguro receita, baseado nos índices de produtividade, e o paramétrico, que cobre o prejuízo de variação entre índice ocorrido e contratado. Na opinião do diretor, “o seguro rural representa um instrumento clássico de minimização de riscos e é fundamental que o Brasil tenha uma política de garantia de risco no campo para incentivar o produtor”.

Na ocasião, o palestrante mostrou a importância do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural – PSR, benefício criado pelo Governo Federal, onde o produtor tem acesso facilitado à aquisição da cobertura do seguro. “Esse benefício varia entre 30 a 70% do valor do prêmio desse seguro. Assim, com este programa, o Governo estaria adotando um instrumento de política pública para minimizar os riscos no campo.

“Logística de Armazenagem, Transporte, Distribuição e Exportação” foi o tema do sétimo e último painel do dia. Luis Antonio Fayet, consultor e coordenador de Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), falou sobre as novas rotas de transporte da produção e criticou a distância entre os centros de escoamento e as áreas produtivas, que se traduz em elevados custos para os produtores. Fayet propôs uma série de ações para a melhoria do setor de logística.

O consultor defendeu o cumprimento da legislação portuária, com base na lei 8630/93 (sobre a exploração dos portos e suas instalações), bem como a isonomia tributária com longo curso, na cabotagem; no caso das hidrovias, propôs a reformulação de sua estrutura, o uso múltiplo dos rios e o planejamento integrado de todos os modais. Em relação às rodovias, se mostrou favorável à garantia de recursos para sua construção e manutenção, com eliminação das limitações ao tráfego; no setor ferroviário, chamou a atenção para a revisão dos contratos de concessão e para o reativamento de diversas linhas.

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