Quando as usinas sucroalcooleiras que a americana Bunge e a britânica BP possuem no Brasil estiverem unidas, a direção da companhia terá como primeira tarefa investir na produtividade dos ativos, hoje abaixo da média do setor, o que deve demandar aportes estimados pelo mercado em cerca de R$ 300 milhões. Para isso, no entanto, a joint venture terá que buscar recursos no mercado sozinha, sem a ajuda habitual das controladoras, que já amargaram prejuízos superiores a R$ 7.5 bilhões desde que estrearam em açúcar e etanol.
As duas companhias estrangeiras, uma de origem no agronegócio, outra no setor de petróleo, entraram no ramo na época do boom de investimentos da década passada, quando reinava o otimismo com o mercado de etanol.
Desde 2011, quando a BP comprou a Companhia Nacional de Açúcar e Álcool (CNAA), montando sua estrutura atual no Brasil com três usinas no triângulo mineiro, a companhia britânica já aportou mais de R$ 4 bilhões, conforme levantamento da consultoria FG/A. A maior parte do aumento de capital ocorreu em 2011, superando R$ 1 bilhão. Nos últimos três anos, a múlti britânica injetou mais de R$ 600 milhões no negócio.
Todo esse investimento não ofereceu retorno. Até o fim de 2017, data do último balanço publicado, a BP Biocombustíveis registrava prejuízo acumulado de R$ 2.2 bilhões. Apenas em 2017 (o exercício social da empresa termina em 31 de dezembro), que compreende a safra 2017/18, a companhia teve um prejuízo de R$ 565 milhões.
Mas os aportes não ficaram limitados à compensação de prejuízos. Na avaliação da consultoria FG/A, os recursos tiveram como intenção elevar a capacidade das usinas para cerca de 10 milhões de toneladas de cana processadas por safra.
Nesse mesmo período, a Bunge injetou diretamente mais de R$ 3.3 bilhões em suas usinas no Brasil. A multinacional deu entrada no negócio em 2007, quando adquiriu a Usina Santa Juliana, em Minas Gerais, mas só chegou ao tamanho que tem hoje, com nove usinas, depois que adquiriu as seis usinas do grupo Moema, em uma transação na época de quase US$ 1 bilhão.
Desde que começou a operar no setor, porém, a Bunge já acumulou prejuízo de R$ 5.4 bilhões. Apenas em 2018 (o exercício social termina em 31 de dezembro), a Bunge Açúcar e Bioenergia teve um prejuízo líquido de R$ 431 milhões.
Além dos aumentos de capital, a Bunge ainda financiou diretamente o negócio, o que levou a sucroalcooleira a acumular dívida de mais R$ 2.9 bilhões somente com a matriz americana.
Essa dívida será herdada pela BP Bunge Bioenergia e será convertida para uma dívida bancária de US$ 700 milhões. Não se trata de um endividamento grande dentro dos parâmetros do setor diante de sua situação operacional. A dívida estaria próxima de R$ 90,00 por tonelada de cana moída contra uma média no setor em torno de R$ 140,00 de dívida por tonelada de cana moída. Além disso, a primeira amortização de principal só ocorrerá no segundo trimestre de 2022 (safra 2022/23), segundo a empresa.
Outra herança será a necessidade de aumentar a produtividade dos canaviais, hoje abaixo da média do Centro-Sul. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) obtidos pelo Valor, das 11 usinas, apenas a Tropical, em Edéia (MG), da BP, e a Monte Verde, em Ponta Porã (MS), da Bunge, tiveram rendimentos acima da média na safra passada. O rendimento da primeira ficou em 10,2 quilos de açúcares totais recuperáveis (ATR, ou sacarose) por hectare, e o da segunda, em 9,9 quilos de ATR por hectare.
As demais tiveram rendimentos inferiores à média do Centro-Sul (de 9,66 quilos de ATR por hectare). O pior resultado foi registrado na usina em Pedro Afonso (TO), com 7,48 quilos de ATR por hectare.
Segundo Geovane Consul, que será o CEO da companhia, a produtividade dos canaviais plantados nos últimos três anos supera a média do setor, e a empresa terá que aumentar a oferta em 3 milhões de toneladas de cana para completar a capacidade das usinas, de 32 milhões de toneladas. Estimativas do mercado avaliam que a joint venture terá que investir em torno de R$ 300 milhões para renovar canaviais, reduzindo a idade média e aumentando sua produtividade.
Ao Valor, a BP Bunge Bioenergia confirmou que agora será “autossuficiente”. A empresa afirmou que “se beneficiará de uma estrutura de capital sólida e conservadora, e começará suas atividades com um dos níveis mais baixos de endividamento do mercado”.
Segundo a companhia, as controladoras “esperam que a joint venture opere de forma autônoma e que seja autossuficiente para financiar seus investimentos” e que “seja capaz de gerar o caixa necessário para suas necessidades”. Sua prioridade, acrescentou, será “integrar rapidamente os negócios e realizar as sinergias esperadas”.
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