Exportação de açúcar do Brasil despenca com usinas focadas em etanol

O volume de açúcar a ser embarcado nos portos do Brasil despencou para o seu menor nível em pelo menos 5 anos, segundo recente programação de navios, à medida que as usinas reduzem exportações do produto em meio ao declínio dos preços globais.

De acordo com a agência marítima Williams, há previsão de embarques no chamado “line-up” de exportação de apenas 745.000 toneladas de açúcar, 28% a menos que o visto nesta época do ano passado, quando a produção já foi reduzida.

O volume é 63% menor que o registrado em julho de 2017, um ano mais próximo da normalidade em termos de produção no Brasil (veja mais detalhes na tabela abaixo).

Em Santos, maior porto da América Latina, os terminais que costumavam ser utilizados para as exportações de açúcar estão se voltando também para os grãos.

Nos terminais 20 e 21, operados pela maior comerciante de açúcar do mundo, a Copersucar, dois navios serão carregados com 130.000 toneladas de soja. No terminal operado pela Rumo, empresa de logísticas controlada pela Cosan, que detém 50% da Raízen, produtora número 1 de açúcar, 10 embarcações devem carregar milho.

“A demanda global por açúcar não caiu, até aumentou um pouco”, disse Julio Maria Borges, consultor de açúcar e etanol da JOB Economia. “Mas há muita competição. As usinas brasileiras teriam de vender a um preço muito baixo para fazer volume, e elas não estão dispostas a fazer isso”, afirmou.

Enquanto os preços do açúcar bruto permanecem perto de uma mínima de 10 anos em Nova York, o real ganhou quase 10% em relação ao dólar desde maio, com impulso recente da aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Isso reduziu ainda mais o incentivo para as exportações de açúcar, segundo Borges.

“Muitas usinas continuam a focar no etanol, que gera dinheiro rápido”, disse João Paulo Botelho, analista de açúcar e etanol da corretora INTL FCStone. “Eles vão esperar por melhores preços para produzir e exportar açúcar.”

Expectativas por um mix mais favorável à produção de açúcar na atual safra de cana do centro-sul brasileiro não se concretizaram. O mix de produção, ou a alocação de cana entre açúcar e etanol nas usinas, permanece muito semelhante ao do ano passado, quando as usinas destinaram 36% da cana ao adoçante, uma mínima histórica, com todo o resto indo para o etanol.

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), a alocação de cana para o açúcar até aqui nesta temporada foi de apenas 34,7%.

“LINE-UP” DE AÇÚCAR, BRASIL – MEADOS DE JULHO

ANO       TONELADAS

2019           745.000

2018        1.040.000

2017        2.027.000

2016        1.511.000

2015        1.550.000

Fonte: Agência Marítima Williams

Reuters

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