O mercado de arroz do Brasil parece estar vivendo uma calmaria que precede a tempestade. A opinião é do jornalista Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz. Para ele, razões não faltam: “aguarda-se para a próxima semana o anúncio de medidas governamentais para amenizar ao menos parcialmente os problemas de renda e endividamento do setor arrozeiro; são esperadas as prorrogações das parcelas de custeio de julho e agosto e o anúncio de um mecanismo de renegociação das dívidas. Sem prorrogação formalmente anunciada, os produtores ainda aguardam para ver se precisarão vender produto, mesmo na queda. Ao mesmo tempo, já precisam adquirir insumos e planejar o próximo plantio”, disse.
Além disso, segundo Santos, a indústria, abastecida, aguarda o posicionamento dos produtores para estabelecer sua estratégia de mercado. E os exportadores aguardam o movimento do câmbio para definir suas estratégias de venda. Por sua parte, os importadores aguardam as definições do governo quanto ao MERCOSUL e a votação no Senado das medidas que retomariam o PIS/COFINS sobre o arroz importado. “Vai levar tempo, mas um risco de medidas que contenham as importações e o dólar a favor, pode acelerar ou antecipar a formação de um estoque adquirido no MERCOSUL”, disse.
Ainda segundo Santos, a indústria, que pode enfrentar percalços para a liberação de recursos para fomento da safra 2019/20, deve divulgar uma pesquisa indicando números levemente mais baixos do que os números oficiais no consumo nacional. Em meio a isso, neste final de semana parte de Rio Grande o tão esperado navio com a exportação de 30.000 toneladas de arroz beneficiado de alta qualidade para o Iraque.
“Há um esforço concentrado para que esta operação seja bem sucedida, mas com o anúncio de que os Estados Unidos já fecharam oito navios em novas licitações e negociações diretas para aquele destino, a expectativa de grandes vendas para o Oriente Médio deve ser contida”, disse. O embargo estadunidense ao Irã também vem prejudicando as vendas dos países vizinhos para aquele destino. E isso é ruim.
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Para Cleiton Evandro dos Santos, a depender do que o governo federal anunciar na próxima semana, a área plantada no Rio Grande do Sul poderá se manter ou diminuir. Só por um milagre aumentará sobre os 1.012 milhão de hectares diante da atual situação de custo x preço. “Os agricultores têm grande expectativa, mas o tempo e a experiência de algumas décadas ensinaram a orizicultura que grandes expectativas trazem grandes decepções e anúncios muito aquém do que se almeja”. Não creio em uma resposta definitiva, mas um conjunto de paliativos.
O Ministério da Agricultura, surpreendentemente, nos últimos dias adotou um discurso de cautela mais alinhado ao Ministério da Economia. “Isso preocupa”, disse o jornalista.
Ele lembra que com o dólar recuando à menor cotação na moeda nacional em meses, a R$ 3,73, torna-se competitivo para que os paraguaios e também os uruguaios e argentinos, esses com mais de 30% de queda nas exportações do primeiro semestre para outros destinos, se concentrem no mercado brasileiro.
A Federarroz se posicionou no sentido de um mercado muito favorável no segundo semestre, levando em conta a queda produtiva e os estoques de passagem menores. Mas, agentes de negócios consideram que os 2 milhões de toneladas excedentes que o MERCOSUL não está conseguindo mandar para terceiros países, associados a um dólar mais atraente, manterão o mercado brasileiro pressionado.
“Nas atuais circunstâncias, e com dúvidas sobre a base de cálculo dos estoques, não dá para contar apenas com a frustração de safra como fator determinante dos preços. Há um MERCOSUL inteiro nos pressionando e uma parte do estoque que é desconhecida”.
É sob essa grande tensão, e pequenos movimentos, que as cotações de julho, segundo o indicador de preços do arroz em casca ESALQ-Senar/RS cairam até R$ 42,99 nas últimas terça e quarta-feira, e retornaram para R$ 43,00 nesta quinta-feira, dia 18. Acumulam 1% de desvalorização sobre o início do mês. Na equivalência em moeda estadunidense, pelo câmbio do dia, a saca ficou em US$ 11,53, uma das maiores cotações do ano, posicionando o País como mercado comprador e dificultando as exportações. No mercado livre, baixa movimentação e preços apenas referenciais de R$ 41,00 a R$ 42,00 na maioria das praças, com R$ 44,00 a R$ 45,00 em Pelotas, para grão colocado na indústria.
Balança Comercial
Em junho o Brasil teve déficit na Balança Comercial do arroz, importando 96.800 toneladas de grão e exportando apenas 26.200 toneladas. O saldo negativo no mês foi de 70.600 toneladas em base casca. Em junho o País realizou as maiores importações do ano da Argentina e do Uruguai. O que salvou foi a exportação de grãos de qualidade superior para o Peru, em quase 16.000 toneladas, 4.000 toneladas para a Venezuela, pouco mais de 1.000 toneladas para os Estados Unidos e volumes menores em contêineres, de beneficiado, para terceiros países. O Brasil vendeu o arroz branco beneficiado em uma média de US$ 515,25 a tonelada, enquanto os preços de aquisição dos nossos parceiros do MERCOSUL, se mantiveram em patamares inferiores, segundo a Conab.
Neste primeiro quadrimestre do ano comercial que vai de 1º de março de 2019 a 29 de fevereiro de 2020, o Brasil ainda tem um superávit de 111.900 toneladas. No entanto, a tendência apontada pelos agentes é de uma inversão. A Conab também estima um saldo final negativo de 400.000 toneladas para a Balança Comercial do arroz nesta temporada. A média de importação de arroz polido Paraguai, colocado em São Paulo, está em US$ 338,61 por tonelada.
Mercado
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 43,00 para a saca de arroz de 50 quilos do arroz em casca (58×10) no Rio Grande do Sul, e R$ 94,00 para a saca de 60 quilos do grão beneficiado, longo-fino, Tipo 1, branco, FOB, sem ICMS. Os quebrados seguem valorizados, com a saca de 60 quilos de canjicão em R$ 58,00 e a de quirera em R$ 42,00. O farelo de arroz teve ligeira alta para R$ 440,00 por tonelada.
Preço ao Consumidor
Depois de a indústria testar o varejo no primeiro semestre, se registra um recuo dos preços nas gôndolas dos supermercados nos últimos dois meses, refletindo o que houve na comercialização do grão em casca. O varejo tem alegado que esperava uma reação da economia com a política do novo governo federal e, com isso, formou estoques superiores ao necessário. E que o consumo de arroz estagnou. Com isso, pressiona os preços, diminui os pedidos e força a indústria a abrir uma disputa quase irracional por espaço nas gôndolas. Se a fábula da bicicleta, que se parar de pedalar cai, vale para o agricultor, nesta temporada também vale para muitas empresas de médio e pequeno porte de beneficiamento do arroz.
Desta maneira, a média de preços para o consumidor está na faixa de R$ 2,75 por quilo e levemente acima dos R$ 13,00 para pacotes de 5 quilos de arroz branco, do tipo 1, nas capitais pesquisadas pelo Planeta Arroz.
Fonte: Planeta Arroz