Produtividade do trabalho cresce mais no agronegócio que no Brasil e impulsiona o PIB do setor

Nicole Rennó Castro*

O agronegócio brasileiro representa uma parcela relevante do PIB nacional, em média, 24% (de 1996 a 2018). Embora oscile anualmente – resultado das dinâmicas comparadas dos preços, produtividade e volumes de capital e trabalho empregados entre o setor e o resto da economia, essa parcela apresentou tendência de redução consistente de 2004 em diante (até 2014).

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a relação PIB agronegócio/PIB brasileiro recuou 8,30% entre 2004 e 2014, passando de 27,36% para 19,06%.

O agronegócio teve papel fundamental para a economia nas últimas duas décadas, produzindo volume crescente de alimentos, fibras e energias a preços relativos decrescentes e, então, dando sustentação às metas do governo de reduzir a pobreza, mas ampliando a geração de divisas (Barros, 2016).

Pela perspectiva do setor, mesmo com a expansão da produção, o sucesso do agronegócio não se refletiu no seu PIB relativo (frente ao PIB nacional) – situação que, segundo Barros (2016), só teria sido possível diante de importantes avanços em produtividade e na demanda internacional, contexto que limitaria quedas ainda maiores nos preços.

Tendo em vista o papel fundamental do avanço da produtividade do agronegócio, esse texto trata do comportamento dessa variável entre 2004 a 2015. Especificamente foi calculada a produtividade do trabalho do agronegócio e seus segmentos. A evolução da produtividade reflete as diferenças entre a evolução real do PIB e do total de horas trabalhadas pelas pessoas ocupadas em cada setor de análise.

No tocante ao PIB, segundo dados do Cepea, o agronegócio acumulou crescimento real (em volume) de 21,40% entre 2004 e 2015 (1,80% ao ano em média.). O aumento foi impulsionado pelo PIB “dentro da porteira”, que evoluiu a taxa anual de 3,70%.

Para insumos, agros serviços e agroindústria, as taxas foram mais modestas, de 2%, 1,40% e 0,80% ao ano, respectivamente, com crescimentos inferiores ao médio nacional, de 3,10% a.a. no período, segundo dados do IBGE.

Já o total de horas trabalhadas no agronegócio, no mesmo período, teve importante redução. O número de pessoas ocupadas (PO) diminuiu 13,30% para o agronegócio (-1,3% ao ano); para os segmentos, houve relativa estabilidade no de insumos, expansão nos agros serviços (17,40% ou 1,50% ao ano), redução na agroindústria (-3,50% ou -0,30% ao ano) e queda relevante dentro da porteira (-26,40% ou -2,80% ao ano).

No mesmo período, para o Brasil, a PO aumentou 1,10% a ano. Paralelamente à redução da PO, a jornada média de trabalho no agronegócio também caiu 4,80% no acumulado do período, intensificando a queda no número de horas trabalhadas no agronegócio – variável utilizada para cálculo da produtividade do trabalho.

Como resultado, esta produtividade no agro cresceu a taxas anuais superiores à brasileira em praticamente todos os anos entre 2004 e 2015 (exceto 2012 e 2014), com alta acumulada superando em 16% a da produtividade da economia como um todo. Para o agronegócio, a expansão da produtividade foi de 46,90% (3,50% ao ano), enquanto para o Brasil, de 31% (2,50% ao ano).

Entre os segmentos do agronegócio, no primário, a produtividade do trabalho cresceu 122%, equivalente a um aumento anual de 7,2%. A produtividade dos agrosserviços, seguindo o comportamento do segmento de serviços do Brasil, oscilou ao longo do período, aumentando apenas 4% entre 2004 e 2015. Na agroindústria, o avanço no período foi de 21% (inferior à média nacional), tendo a variável ficado estagnada entre 2004 e 2009.

A partir desses resultados, é possível decompor o crescimento médio anual do PIB dos setores analisados em variações da produtividade do trabalho da população ocupada (produtividade PO) e a própria variação da PO; e então, decompor a variação da produtividade da PO em produtividade das horas trabalhadas (produtividade horas) e jornada média de trabalho (adaptado de Barbosa Filho e Pessôa (2014). O resultado dessa decomposição está na Tabela 1 (ver abaixo).

Entre 2004 e 2015, a elevação do PIB do agronegócio foi atribuída ao avanço na produtividade por hora trabalhada no setor, que mais que compensou as reduções na jornada de trabalho e na PO. Como esperado, esse mesmo comportamento é observado na agropecuária, mas de forma ainda mais intensa.

Cenário similar também foi verificado no segmento de insumos e na agroindústria, mas, com um efeito mais modesto da produtividade. Em contraste, para os agrosserviços, o crescimento do PIB seguiu o aumento da PO. No Brasil como um todo, o aumento de produtividade também explica parte relevante do avanço do PIB no período analisado.

Portanto, o avanço da produtividade do trabalho foi elemento determinante para o crescimento do PIB do agronegócio – resultado influenciado sobretudo pela dinâmica da agropecuária. Em outras palavras, o PIB cresceu de forma expressiva ao mesmo tempo em que reduziu, também de forma significativa, o contingente de pessoas ocupadas no setor.

Por um lado, esse resultado evidencia o sucesso produtivo de um modelo de produção agropecuária baseado nas inovações, com investimentos em tecnologia e capital humano e uso intensivo de insumos cada vez mais modernos. Esse processo coloca o agronegócio em posição de destaque na economia brasileira, com contribuições relevantes para o PIB e o comércio exterior, e também coloca o Brasil em posição de destaque no cenário mundial.

Por outro, deve-se enfatizar as implicações sociais negativas desse processo, que acaba implicando em intensificação e concentração da produção, com exclusão e inviabilidade de diversos estabelecimentos menores, e substituição rápida de trabalho por capital – com efeitos sobre o mercado de trabalho que devem ser considerados pelos formuladores de política, sobretudo, por afetarem grupos vulneráveis da sociedade.

 

* Nicole Rennó Castro é pesquisadora do Cepea.

 

 

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