Brasil perde espaço para os EUA no mercado japonês de etanol

Os exportadores de etanol do Brasil não estão conseguindo renovar contratos de exportação para atender o mandato do Japão de redução de emissões de gases de efeito estufa nos transportes. O produto brasileiro está perdendo mercado para o etanol americano, feito de milho, que passou a ser permitido no cumprimento das metas japonesas.

O Japão usa o ETBE, um aditivo à gasolina à base de etanol, para atender seu objetivo. Até 2018, o ETBE vendido no mercado japonês deveria emitir 50% menos gases-estufa que a gasolina pura, e essa redução só era possível com etanol de cana.

Em 2019, entretanto, a regra mudou e passou a exigir uma diminuição de 55%, mas possível de ser alcançada com a mistura do etanol de milho, que tem poder menor de redução de emissões.

Segundo estimativa da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa as usinas do centro-sul, com essa mudança o Brasil deverá perder, já a partir da próxima temporada (2019/20), pelo menos 40% dos embarques de etanol que tinham o Japão como destino final.

O Brasil vinha exportando em torno de 800 milhões de litros de etanol por ano para atender à demanda japonesa. Em 2018, esses embarques renderam divisas de cerca de US$ 400 milhões.

Em torno de 90% do volume vendido ao mercado japonês é primeiramente exportado aos Estados Unidos, onde está concentrado o parque industrial que transforma etanol em ETBE.

Segundo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, o volume de etanol exportado pelo Brasil ao Japão com escala nos EUA deverá cair nas próximas safras de cerca de 700 milhões de litros para algo entre 350 milhões a 400 milhões de litros.

A perda do mercado japonês para os americanos deve se dar não só pela mudança regulatória, mas também pela alta competitividade dos produtores dos Estados Unidos. Eles estão com estoques abarrotados e em pé de guerra com a indústria local de petróleo para garantir suas vendas no próprio país pelo Padrão de Combustíveis Renováveis.

Após um aumento exponencial da produção no ano passado, os estoques americanos estão oscilando em máximas históricas, da ordem de 23 milhões de barris, desde o início do ano passado, segundo dados da Agência de Informações Energéticas dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês).

Nesse cenário, a competitividade do biocombustível americano está muito à frente do brasileiro. Pelos cálculos da consultoria FCStone com base em preços praticados na semana passada, o custo do etanol brasileiro para as indústrias de ETBE nos Estados Unidos está 78% acima do custo do etanol americano.

Como alternativa à perda do mercado japonês, Pádua vê potencial nas exportações de etanol não carburante (para uso industrial). “O Brasil conquistou novos mercados não carburantes”, disse. Para Martinho Ono, diretor da SCA Trading, outra alternativa é a Califórnia, que possui um mandato próprio crescente de biocombustíveis que demanda etanol com maior “pegada de carbono” como o brasileiro.

 

Valor Econômico

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