A situação do setor sucroenergético na região norte fluminense do estado do Rio é crítica. É o que revelou Geraldo Coutinho, presidente do Conselho de Agroindústria da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Em recente palestra realizada na Sociedade Nacional de Agricultura, Coutinho afirmou que “a indústria opera com alta ociosidade, o setor agrícola tem baixa produtividade e os custos, por consequência, são muito elevados”.
Segundo ele, vários fatores contribuíram para a formação deste quadro. “Além das questões de preços, crises de mercado e ausência de políticas públicas para o etanol, que impactaram este segmento no Brasil como um todo, a região canavieira fluminense vivenciou por duas décadas a fragilização das estruturas de drenagem e irrigação, ocorrendo ora enchentes, ora secas, e em consequência disso, a diminuição dos canaviais”.
O problema também ocasionou uma drástica redução do número de usinas. “No início da década de 70 estavam em operação 24 unidades industriais, incluindo uma destilaria central de produção de etanol a partir do melaço residual. Atualmente são quatro usinas, sendo três instaladas no município de Campos e uma em Cabo Frio. Portanto, a região perdeu 20 indústrias em quatro décadas”.
Entretanto, Coutinho anunciou que estão em curso os projetos de reativação das usinas Sapucaia e Santa Cruz, no município de Campos (no momento, em recuperação judicial), e o empreendimento Greenfield, em Quissamã. “Os investimentos abrangem a parte industrial, mas principalmente a formação de lavouras, que é ponto nevrálgico do setor: a falta de matéria prima”, declarou.
No final da década 80, a produção de cana-de-açúcar na região norte fluminense alcançava 8,9 milhões de toneladas. Atualmente soma dois milhões. Cerca de 120 mil hectares foram transformados, em sua maior parte, em pastagem, na medida em que a região, pela condição climática, não oferecia opções competitivas para outras culturas.
Retomada
Apesar da situação atual, Geraldo Coutinho acredita na recuperação do setor. “Sem dúvida, é plenamente exequível alcançar o potencial de nove milhões de toneladas de cana, num prazo relativamente curto, até 2020. Isso sem considerar as possibilidades de avanço tecnológico, de experiências com genoma da cana, e daí a utilização de variedades bem mais produtivas, ou na parte industrial, com a produção de etanol do bagaço. Essas inovações devem estar em campo nos próximos cinco ou dez anos”, garantiu.
Quanto à retomada do crescimento da matéria-prima, Coutinho disse que é fundamental o trabalho de recuperação da infraestrutura de irrigação e drenagem – acompanhado de recursos para o financiamento à formação de lavouras – e “a urgente necessidade de o governo federal estabelecer uma política coerente na área de combustíveis líquidos e de energia de biomassa”.
O presidente do Conselho de Agroindústria da FIRJAN também cobrou mudança de estratégia. “É impossível manterem-se vivos os empreendimentos neste setor enquanto o governo determinar preços artificialmente baixos para a gasolina, além de ignorar as especificidades próprias da energia elétrica cogerada do bagaço, em leilões misturados com a energia eólica e a solar. Quebra o setor – mais de 40 usinas desapareceram no Brasil nos últimos anos, quebra a Petrobras e despreza o potencial de onze ou doze mil megawatts de energia elétrica do bagaço, o que representa uma Itaipu!”
Sustentabilidade
Coutinho lembrou ainda que o setor produz alimento, energia (etanol e bioeletricidade), reduz a poluição do ar e gera empregos e renda. “A agroindústria sucroenergética é renovável e capilariza a atividade econômica no meio rural e nas cidades do interior. O efeito multiplicador é extraordinário. Cultivar cana e produzir açúcar e etanol impacta efeitos em extensíssima cadeia de outras indústrias, comércio, serviços, transportes, logística, além da indução ao avanço tecnológico. Em resumo, prepara o Rio de Janeiro para a vida econômica e social pós petróleo”.
Equipe SNA/RJ