A deputada Tereza Cristina (DEM-MS), 64, foi anunciada na tarde desta quarta-feira (7/11) como a ministra da Agricultura do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Ela é a primeira mulher a compor o primeiro escalão do governo. A nomeação ocorre após críticas de que a equipe de transição do presidente eleito era composta apenas por homens, o que poderia sinalizar o mesmo cenário na Esplanada a partir de 2019.
Um dos principais aliados de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, afirmou que não há novidade maior do que a escolha de uma mulher para o comando de um ministério.
“Não tem novidade. Você quer maior novidade: uma mulher num ministério, e Ministério da Agricultura, que é fundamental, um sustentáculo do PIB?”, disse o futuro ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Quando lhe questionaram se o gênero foi levado em conta para a escolha da deputada, Heleno disse que, “se for competente e for mulher, não tem problema nenhum”.
A declaração remete ao empresário Mario Amato, que, em 1989, quando presidia a Fiesp (federação das indústrias de SP), disse que a então ministra do Trabalho, Dorothea Werneck, era “inteligente, apesar de ser mulher”.
Nome defendido pela bancada ruralista, a parlamentar terá a prerrogativa de dar o aval para o titular do Meio Ambiente, segundo aliados.
“A fusão (do Meio Ambiente com a Agricultura) não haverá”, afirmou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), vice-presidente da FPA. “Ele (Bolsonaro) não disse que indicaríamos o nome do novo ministro do Meio Ambiente, mas que homologaríamos esse nome.”
A junção das pastas de Agricultura e Meio Ambiente era promessa de campanha de Bolsonaro. O presidente eleito, porém, já recuou em relação ao tema e, após pressão de ambientalistas e aliados do agronegócio, indicou que manteria os ministérios separados. A indicação foi bem-aceita pelo agronegócio.
Em nota, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) afirmou que Tereza Cristina terá condições de trabalhar a favor do agronegócio e construir uma agenda conjunta com o setor.
Para Antônio Alvarenga, presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura), os desafios são grandes, como a questão tributária, o aprimoramento do seguro rural e o mercado externo.
MUSA DO VENENO
A ruralista Tereza Cristina (DEM-MS), já pertenceu a um partido da oposição, votou pelo arquivamento das denúncias contra o presidente Michel Temer e ganhou um apelido da própria bancada: “musa do veneno”.
O epíteto, irônico, foi dado em junho deste ano. Como a Folha mostrou, os ruralistas festejavam a aprovação do projeto que afrouxa as leis para registro e uso de agrotóxicos no país em comissão presidida pela deputada.
Eleita pela primeira vez em 2014 pelo PSB, a engenheira-agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG) assumiu em fevereiro a presidência de uma das frentes mais poderosas do Congresso Nacional: a Frente Parlamentar da Agropecuária, a chamada bancada ruralista.
Antes disso, migrou para o DEM, partido que abarca vários aliados do presidente eleito, como Onyx Lorenzoni (RS), futuro chefe da Casa Civil, e Sóstenes Cavalcante (RJ). O estopim da mudança, porém, foi outro presidente: Michel Temer.
A deputada chegou a liderar o PSB, mas foi destituída em outubro de 2017 por ser contrária à denúncia contra Temer, que acabou enterrada pela Casa. O partido depois tentou expulsar a antiga líder por ter votado a favor da reforma trabalhista, e ela acabou migrando.
Na pauta da agropecuária, a deputada defendeu recentemente que se aprove ainda neste ano as novas regras do licenciamento ambiental. Já o projeto que lhe rendeu o apelido não deve estar na pauta prioritária da frente até o fim desta legislatura.
Tereza Cristina tem uma longa trajetória no setor. Ela foi secretária de Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de Mato Grosso do Sul durante o governo de André Puccinelli (MDB).
Fonte: Folha de S.Paulo