Dívidas das usinas de açúcar têm queda no centro-sul

Após um longo período a amargar preços baixos tanto de açúcar quanto de etanol, a indústria da cana do centro-sul do país está conseguindo reduzir seu endividamento. Mas o movimento não começou pela recuperação dos preços, e sim por um forte processo de corte de custos.

Na safra passada (2017/18), encerrada em 31 de março, a dívida média ficou em R$ 117,00 por tonelada de cana processada, contra R$ 120,00 em 2016/17, segundo levantamento do Itaú BBA com 60 grupos que são responsáveis por cerca de 80% do processamento total da região.

O banco não divulga o montante total da dívida dessas companhias, mas se for considerado o volume de cana moído na região na temporada, é possível calcular que o montante se aproximou de R$ 56 bilhões em 2017/18. O valor inclui todos os compromissos das companhias, seja com bancos privados, com o BNDES ou via instrumentos financeiros, a exemplo de recebíveis como o CRA.

“Foi o menor percentual de endividamento em cinco temporadas”, disse Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do banco, em entrevista a jornalistas. A última vez em que a dívida média das usinas ficou abaixo do nível de 2017/18 foi na temporada 2013/14, antes de um longo ciclo de superávit e preços baixos no mercado global de açúcar e da política de preços controlados da gasolina no Brasil.

O peso da dívida sobre o resultado operacional se manteve estável na safra passada, com índice de alavancagem, dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda, em 2,8 vezes.

Desde que o segmento em geral entrou em crise, as empresas têm centrado esforços em reduzir custos para recuperar competitividade. E, na última safra, o que se viu é que essa postura não ficou só no discurso.

Segundo Fernandes, o corte tem sido concentrado na área agrícola, onde estão cerca de 75% dos custos de uma usina. Os ajustes se dão principalmente na melhoria da eficiência das atividades de corte e transporte de cana, para evitar que as máquinas fiquem mais tempo em trânsito do que operando; no aumento da eficiência das máquinas e na evolução das práticas agrícolas. E alguns desses ajustes levam a demissões.

A queda do endividamento e o avanço operacional, porém, ainda não são suficientes para deflagrar uma retomada de investimentos no segmento, apesar das perspectivas de aumento da demanda por etanol no mercado doméstico. “O retorno ao acionista ainda é baixo e insuficiente para um novo ciclo de investimento”, afirmou Fernandes.

Para a safra em curso, ele avaliou que as dívidas tendem a ficar, em geral, sob controle, embora o nível de alavancagem vá depender da cotação do dólar no último dia da temporada (31 de março de 2019). “Mas este é um ano de boa geração de caixa, e o ano que vem será melhor ainda”, disse.

Em relação à próxima temporada (2019/20), que começará em abril, a perspectiva é de redução ainda maior do endividamento – reflexo não apenas da continuidade do ajuste de custos, mas também da recuperação dos preços de açúcar e do repasse dos preços do petróleo ao mercado doméstico de combustíveis.

Esse contexto deverá favorecer uma retomada dos investimentos, já que, conforme o diretor do Itaú BBA, há crédito disponível para o segmento. Segundo Fernandes, as usinas não enfrentam maiores restrições a financiamentos desde a safra 2016/17. “Hoje não falta financiamento, faltam bons projetos de investimento”.

Para o diretor, os investimentos deverão crescer primeiro nos canaviais, onde há maior necessidade de renovação das lavouras, que estão envelhecendo e ficando menos produtivas. A segunda onda de aportes, afirmou Fernandes, deverá vir com agregação de valor e projetos de cogeração, por exemplo. “Apenas depois é que deverão crescer os investimentos em aumento de moagem”.

 

Fonte: Valor Econômico

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